sábado, 30 de julho de 2011

Sem rima, sem rumo

.
O relógio no meio da sala
Confundidamente acelerado
Invisivelmente andando
Tudo em mesmo tom.
E o telefone não toca
Não há esperança alguma aqui.

A porta entreaberta em desconfiança
Não entra sol, nem poeira
E o verbo sentido como corte de navalha
Não há o que não doer.

Hoje o vento avisou sua partida
Gelou como oposto da brasa furiosa
Declarou não saber de nada.

Talvez ele tenha desistido
De continuar
apenas
s o p r a n d o.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O pão e o lixo

O lixo e o pão.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Nada

.
O tempo de espera
O tempo que voa
O tempo que termina
O tempo que amaldiçoa.

A raiz da neblina
sem pássaros azuis
O tempo não perdoa.

O chão que relembra passos
(acelerados)
Páro. Recomeço.
O tempo não tem preço.

O calor do abraço
O caos pairando no espaço
O tempo do compasso.

O sangue é a carne líquida - são um
O tempo calado apenas
Na espera de tempo algum.

terça-feira, 26 de julho de 2011

My heart is drenched in wine

.
But you'll be on my mind

forever.



Something has to make you run
I don't know why I didn't come
I feel as empty as a drum...

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Os ombros suportam o mundo

.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.

Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

[Carlos Drummond de Andrade]

quinta-feira, 21 de julho de 2011

terça-feira, 19 de julho de 2011

Chico em 2011

.
Confesso que estava um pouco temerosa com todo o auê da expectativa massiva que a mídia colocou em cima do último disco - recém saidinho do forno - de Chico Buarque. Ainda que Chico seja um dos meus compositores mais fascinantes. E ainda que, - pudera, após 5 anos sem gravação - o desejo de ver produções novas se torne um pouco mais presente.

Mas essa aceleração esvoaçante, fragmentada ou misturada me causou um pouco de inquietação e cansaço. Resolvi escutar detalhadamente o disco que ainda nem saiu nas lojas, mas que já rendeu mais de 7.000 pré-vendas em poucos dias!

Não vou dizer que me surpreendi com as letras, pois Chico sempre dispensou comentários como um respeitado escritor. Continua com delicadeza, malandragem, inovação e identidade. Mas algo me chamou a atenção: a diversidade musical do disco. A combinação da sempre presente bossa juntamente com o samba teve a visitação do blues, do baião e da toada. Intitulado apenas “Chico”, o álbum de 2011 conta também com parcerias de Ivan Lins, João Bosco, Thais Gulin e Wilson das Neves.

Minha homenagem hoje é a esse grande poeta: Chico.
Longa vida à música brasileira!



Feito avarento, conto meus minutos
Cada segundo que se esvai
Cuidando dela que anda noutro mundo
Ela que esbanja suas horas
Ao vento, ai
Às vezes ela pinta a boca e sai
Fique a vontade, eu digo
Take your time
Sinto que ainda vou penar com essa pequena
Mas o blues já valeu a pena...

Atrás da porta

E o teu olhar
era de adeus.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Guarde uma frase pra mim dentro de sua canção, Belchior

Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Nem nessas coisas do oriente
Romances astrais
A minha alucinação
É suportar o dia-a-dia
E meu delírio
É a experiência
Com coisas reais...

Bem no coração da cidade, entre as diferentes faces que se misturam. No berço da corridão e da solidão humana. Do mendigo deitado ao empresário atravessando a rua de maleta nas mãos; dos pés embarrados do subúrbio à onomatopéia saindo do salto daquela lady que passou por mim tão estupidamente. Bem ali no meio, de frente à praça, próximo ao barulho incandescente do caos que é esse trânsito - [o 'movimento do tráfego', como ele já escrevia]. Por entre vidros, doces, frio de julho e ruídos.

Sentado à mesa com chá e pensamentos, o poeta de Coraçao Selvagem estava aqui, na “Pelotas ao contrário” como ele quis chamar. Com um Vício Elegante de quem observava o olhar de quem nunca o tinha encontrado, ele parava os olhos em outros pares de olhos. E aquela observação me foi tão clara e pungente quando sentei-me à mesa ao lado seu e de dona Edna – sua companheira.


O que inicialmente seria um mais Tudo outra vez de trabalho, sem nem saber, naturalmente teve seu começo selado em horas de poesia corrente. Barulhos e conforto.

- Como é a poesia aqui? Ele perguntou.

Com minha Lira dos 20 anos respondi que está sendo retomada. Depois de tanto tempo.

Ele perguntou de novos e velhos. Parecia fazer em tantas vezes um Pequeno mapa do tempo. Questionou o fechamento do nosso Sete. Elogiou nossa praça. E disse que a cidade traz um aspecto diferente de muitos outros lugares do País.

- O movimento literário russo deveria ser como espelho a todos nós. Eles foram revolucionários. [Soltou tão convicto].

E olhou mais uma vez pelo vidro com os olhos fitados na praça. E o mendigo ainda estava lá, deitado. Os pés passavam, aceleradamente. Era a cidade acontecendo. Viamos tudo pelo vidro.

- Essa praça mistura de tudo um pouco. Talvez seja uma de nossas maiores convergências. Talvez um espelho. [Pensei alto].

Ele voltou os olhos à mesa. E permaneceu tomando o chá de canela com maçã declarando, rapidamente, após um dos últimos goles, que quer voltar.

Sua companheira, Edna tem olhos de quem lê versos ao amanhecer e tem espontaneidade na voz. Ele, por sua vez, é quieto e sua calma fala, grita e geme uma espécie de brandura com subjetividade misturada. Pedimos um doce. Continuamos.

Tudo estava no mesmo lugar. Pelo vidro que observava a cidade, vimos a essência do cotidiano daqui. O caos misturado com a água. Nós feito aqueles galhos de árvores do outro lado. As placas. Os megafones megalomaníacos. Revistas sendo folhadas ao vento. A venda na rua. A venda por dentro. O papelão e o corpo. A cidade se consumindo. A calçada e a nuvem.

É a Alucinação real de que Num País Feliz vivemos e estamos. E temos poetas que como ele, estão a Passeio com suas Peças e Sinais expressando um Até mais ver de Corpos terrestres.

[Encontro inusitado com Belchior em 12 de julho]

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Da Biografia do Sujeito Oculto

[Dois escritos por Valder Valeirão]



Do sangue jorravam vícios
fragmentos de antepassados
agonias e humilhações ancestrais
escorriam calçada à fora
o sangue vermelho e sujo
de um deus desconhecido
carregado de uma vasta gama
de emoções e histórias sem fim
esvaia-se com tamanha liberdade
que coloria o crepúsculo aos convivas
todos os sonhos – realizáveis ou não
todas as horas de sobrevivência
todo chão e toda comida
toda urgência de uma vida
jorravam agonizantes ao espaço
e a energia da carcaça inerte
lançou-se sobre os tempos
errante e bela em sua magia infinita.

- Alguém me perguntou algo
preferi não responder.

***

E mesmo que a vida
nos transforme em ínfimo instante
de recordações fugazes
toque de olhos nalguma rua...
és saudação de um desejo inefável
cárcere de livre arbítrio
história do tempo
feito ventre parindo
a vida agindo
e nós feito árvores
que cedem ao vento
dançam, brincam e se refastelam
sabendo da calmaria do por vir.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

13 de Julho

Carrego liberdade contida e desmedida
Um medo vistoso
Soluço oco e alma de lira.

Venho do insípido
Onde os pássaros
Voam em busca do contraste
Procurando calidez.

Sinto harmonias
E me ato em almanaque
Sem saber que já fui mais de uma,
duas, três.

Sou pedra, sou água, sou sol
Muito vento, pouco sólido, nada homogêneo
Liquidifico linguagens, verbos, barulhos e sensações
Sou só.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Música.

Simplesmente.

sábado, 9 de julho de 2011

Eder, meu irmão, meu amigo


Hoje te recebemos aqui em casa, depois de tantos meses sem te ver.
Essa coisa de distância me aperta o peito, mano. Sinto saudade de ouvir a tua voz por essas paredes aqui de casa. O som da tua música que sempre esteve presente, hoje expressa uma falta que silencia o ar. Mas a tua presença sempre tão próxima, tão perto – mesmo que de lá, ainda está aqui.

E hoje, eu, a mãe, o pai, o Gi e o Jimi temos tua presença no nosso pátio, nas peças, pela casa. Hoje ouço de novo tua voz. Tenho tua batida na porta do meu quarto. E quero ouvir a música, quero te ver.

Te abraçaremos de novo e com vontade, por mais um ano.

Se eu tiver que desejar algo, desejarei vida.
Pra que possamos viver juntos ainda
por muito tempo.
Que venham outros aniversários, com abraços.

Com todo amor,
Tua irmã.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Escuros

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As cores desta cidade estão desnudas de luz
As poucas luzes desta cidade estão vãs
O vão da noite está comigo
E caminho pelas ruas
Sentindo fome do que não vivo.

As ruas desta cidade estão estúpidas
Os estúpidos estão indiferentes
E a indiferença não é vã
E não sente fome de nada.

As misérias desta cidade estão vivas
E a morte que vem de dentro está acesa
E pesa como a gravidade do suicídio vivo
Dos que apagaram suas velas.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Cujo peso nos oprime

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Aqui mora o analfabetismo. Não é nas residências arejadas,
nos edifícios de cimento e vidro...

Leon Hirszman, um dos dos expoentes do Cinema Novo e um dos documentaristas mais revolucionários que o Brasil já teve, é autor da trilogia Cantos de Trabalho (1975-1976 ), Nelson Cavaquinho (1968), ABC da Greve (1979-1990), Pedreira de São Diogo de Cinco Vezes Favela (1961), Que País É Este? (1977) e outras intensas produções.

Hoje é destacado neste espaço o documentário Maioria Absoluta (1964), o qual busca retratar o cotidiano de trabalhadores rurais analfabetos do Nordeste. Incapazes de escrever, são, no entanto, conscientes de sua condição e perfeitamente habilitados a propor as soluções que esperam para os seus problemas.



... Não é nas grandes cidades que ele viceja.
É nas palhoças de chão úmido, nas casas de taipa, nos barracos de lata.
Esta é a sua casa, sob esse teto de palha, neste chão de terra batida,
entre estas paredes em ruína ,o analfabetismo se refugia e prolifera.

Da penumbra ele estreita suas vitimas, como a doença de chagas, a verminose e a fome.


domingo, 3 de julho de 2011

Comunicação, Política e Sociedade: protagonismo como instrumento de luta



No próximo dia 5, a programação da RádioCom terá a versão – ao vivo – do Cepos Debates, um espaço de discussão, promovido pelo Grupo de Pesquisa Cepos, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unisinos.

Na oportunidade, serão discutidos os desafios que estão sendo postos hoje à comunicação comunitária, contando com a participação do público para realização do debate.

Com a mediação de Ediane Oliveira, o programa Navegando RádioCom terá a participação do cientista político Bruno de Lima Rocha e do professor Valério Cruz Brittos.

sábado, 2 de julho de 2011

Notas sobre minha mãe - Opus 2

A nova criação da bailarina e musicista Paula Pi, parte de um desejo: como dançar a musicalidade incrustada em seu corpo de musicista? Em busca desse "som que move" e de como o pensamento musical pode ser provocação para a criação coreográfica, ela retoma um tema que vem pesquisando desde 2007, a relação mãe e filha, revelada desta vez pelo diálogo intérprete, violino e elementos do universo musical.

-

Não mais está

no mesmo lugar

o céu.

Me invadiu

(e trouxe flores brancas).

Pediu para eu lhe falar

que a chuva

vai cair

em cima da sua cabeça

como gotas de alma nua.

Serenas como o azul que o cerca.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Do álbum Lilás

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Ontem, eu fiquei horas esquecidas assistindo ao trabalho das formigas, indiferentes a tudo, na sua meta de construir. E aprendi o quanto é importante fazer... Fazer sempre e de tudo para alcançar os galhos mais altos da árvore da vida e melhor se alimentar do fruto ali quase esquecido: a paz.
Oh, Deus! Torna-me indiferente a tudo que não seja construir com meu trabalho um mundo novo, onde só pessoas, bichos e coisas existam porque amam e entendem o amor como único sentido da vida.


* Crédito a Valder Valeirão, pelo compartilhamento das palavras que Djavan traz na arte de Lilás.