segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Fronteiras

Os corações
(assim como as pátrias)
não deviam ter fronteiras.

Queria explodi-los
em suspiros, gozo e anátemas
para que de tantos pedaços
brotassem outras centenas.

Os corações
(assim como as pátrias)
não deviam ter fronteiras…

mas têm.

(Mauro Iasi)

sábado, 15 de junho de 2013

Esperando por nada.

Tu viraste-me as costas
Não me deu as respostas
Que eu preciso escutar
Quero que você seja melhor
Hei de ser melhor também.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Tempo


Mas este tempo
é ainda de sonhos
caroços e castigos
tempo
de pedir um tempo
ao tempo
pra que ele não mande
mais
no tempo
da nossa razão.

O tempo ainda é o tudo
dos nossos destinos
perdidos
em nossos desatinos
que ouvem os sinos
da igreja da esquina
que acorda a cidade
às seis horas da manhã.

Não há dois lados
no tempo
o tempo é um só.
e
nós
somos
todos
dentro
dele.

Quisera o tempo
ser tão imenso
quanto nós.

terça-feira, 7 de maio de 2013

“A palavra escorre do chão do céu da boca” no Porão da Bibliotheca


Por Ediane Oliveira


Na abertura da exposição, as artes de Camila Hein e Juliana Charnoud dialogarão com outros elementos artisticos como performance e música



Artes integradas, envolvendo exposição fotográfica, instalação, música e performance farão parte da noite desta terça-feira (7), no Porão da Bibliotheca Pública Pelotense. As artistas visuais Camila Hein e Juliana Charnoud apresentam a exposição “A palavra escorre do chão do céu da boca”, com o objetivo de compartilhar e poder criar outros diálogos, trazendo a união de trabalhos artísticos dentro de um espaço de arte.

A exposição trará uma instalação da artista visual Camila Hein, com parte de fotografias feitas no Templo das Águas, com as sonoridades de rio e poesia em gravação. O trabalho será complementado com artes realizadas no ano passado pela artista. Camila trabalha com arte desde 2000, é uma das criadoras do grupo Mafuá das Artes, coletivo e espaço que foram significativos na realização de atividades artisticas em Pelotas.

A Foto-performance Banho de Salsa de Juliana Charnoud é criada, através de uma performance feita exclusivamente para a câmera, resultando em 25 frames fotográficos. De acordo com Juliana, o trabalho remete ao banho como um ritual: “No banho, utilizo a Salsa: planta utilizada como erva, tempero e vegetal, contendo também propriedades medicinais como antioxidante e expectorante, para banhar-me, levantando a questão do banho como ritual de purificação.” Na ação é enaltecida a presença do elemento da Salsa, colocando em questão a crença sobre aquele elemento que trás consigo a promessa da realização de algo. Juliana é fotógrafa e possui um trabalho na fotografia experimental em Pelotas há alguns anos.

A palavra escorre do chão do céu da boca” foi realizada pensando num primeiro momento no espaço do porão da Biblioteca. Para Camila Hein, porão lembra algo gelado, frio, porém parado, inerte. “No entanto água é vida, movimento, mesmo sendo fria. Assim como a água a palavra é viva, muda, flui... o porão faz parte da biblioteca, que parece um espaço parado, mas que guarda a palavra... a palavra nunca toca a todos da mesma forma, ela é um encontro, uma possibilidade sempre de vir a ser...”, destacou.

A noite de abertura da exposição contará com a participação musical do grupo Percutralha, dos músicos Diego Portella e Eugenio Bassi e da performance da atriz Tai Fernandes. Às 19h07, no porão da Bibliotheca Pública Pelotense.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Trinta dias de tudo.


Ainda pesa e acalenta
aquele 3 de abril
hoje, 30 dias
que não passaram.

Na parede, no centro da sala
nas roupas estendidas
no fundo da alma, no teu violão
nestes meus braços
que sentem falta dos teus
teu cheiro e tua presença espalhada
em cada verso desta casa
e desta vida
e de tudo o que vejo e sinto e entrego
me levam e me trazem a ti, pai.

Tão difícil escrever um poema a ti
tu és o meu poema
meu único verdadeiro poema
o único sentido até agora
pra eu continuar acreditando
em poema.
e em vida.
tu me destes vida.

E me restaram poucas palavras
me restaram flores
que um dia ganhei do teu cuidado.

Me resta a tua herança de sonhos
sonhados em mim
como um pedaço de ti
parte do teu sangue e de tudo
tudo o que vivemos até aqui.

Me restam teus restos
que são maiores que tudo.
É difícil, pai, tão difícil
viver sem teus olhos.

Segura em minha mão. Preciso.
Hoje chove como naquele dia.
E eu estou aqui na sala
esperando o senhor tocar pra mim.

Te mando flores do meu jardim
como agradecimento e redenção.
O violão está no canto da nossa sala.
Aqui. Ele é teu. Eu sou tua.

Acalma meu choro
e essa saudade que aperta
todos os dias.

Conduz de novo, meu passo
ao passo dos teus
e minha voz com a suavidade
da leveza dos teus pés.

Isto não é um poema
É uma filha para um pai.
E isto é tudo o que quero continuar sendo:
Tua filha. Tua.

Obrigada por me dar a vida
eu queria entregá-la a ti
todos os dias em que eu viver.

Faz muito tempo

que eu nem consigo escrever.

É difícil falar de dor.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A MEMÓRIA É DA RUA


Por ENILTON GRILL, do blog Américas

História é memória. E a memória às vezes é virtual e outras real. Virtual, como um quadro de Chagall. Real como a fotografia daquele dia. Mal amanhecia o dia, e o Gastal, com os punhos tesos, era levado preso. Pelo casaco (foto), o dia amanhecia gelado. O rosto está crispado. A fisionomia é de um jovem revoltado. Naquele ano, a repressão endurecia. Prendia e batia. A dita dava uma dura. Isso foi dois anos antes da abertura. 'Abertura lenta e gradual', a cavalo prometia um general. Enquanto isso, a polícia baixava o pau. Numa manifestação estudantil, por gritar 'liberdade', era preso meu tio, o Gastal. No cenário musical, Chico Buarque pedia só um dia /pra aplacar sua agonia / toda a sangria / todo o veneno / de um pequeno dia. Urgia a democracia. Ruía a ditadura. O tempo passa. O país até sara. Mas não cura. Não há como esquecer a tortura. A memória é dura, perdura. . . . se perpetua. Ela não é minha e nem tua. A memória é da rua.
[Prisão de Gastal - Faculdade de Direito / UFPel - 1977]

*
Na Semana Nacional de Memória e Direitos Humanos, o Comitê Pelotas Região, em parceria com o Instituto Mário Alves e o IFSUL, organizam a I Mostra itinerante Verdade e Memória – Resistência cultural e heranças da ditadura civil-militar. Oficinas, exposição, filmes, música, debates e atividades culturais nas cidades de Pelotas, Bagé e Camaquã. Para marcar a data do golpe, para lembrar que lutamos por memória e verdade, para anunciar que esperamos justiça... PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA, PARA QUE NUNCA MAIS ACONTEÇA.





sexta-feira, 29 de março de 2013

Texto II para o E-cult: Uma alucinação real a palo seco



Não é todo dia que se encontra o Belchior. Aliás, neste tempo tão business em que falar do seu sumiço rende curiosidade, o encontrá-lo soa como surpresa. Em tempos que o Fantástico fazia uma série sobre o seu desaparecimento, eu o encontrei aqui.

Entre frio de julho de 2011 e ruídos da rua, sentamos em um Café que nos desse margem à visão da cidade por fora. Com um Vício Elegante de quem observava o olhar de quem nunca o tinha encontrado, Belchior se resume em cada verso que sempre cantou:  “Sons, palavras, são navalhas/ E eu não posso cantar como convém /Sem querer ferir ninguém.”

Um típico compositor que não se encontra em qualquer esquina. Além da genialidade visível, Belchior não é posudo e sua sensibilidade cortantee sutil, nos leva a uma esfera de questionamento sobre este tão vasto e complexo mundo doentio.
- Como é a poesia aqui? - perguntou.

Com minha Lira dos 20 e poucos, respondi que está sendo retomada, depois de tanto tempo. De Lobo da Costa até agora, o que mudamos? Pelotas nunca esteve tão desapegada de padrões na poesia. Não estamos tão dependentes da vanguarda. Nossos poetas não saem muito a noite. Acordam cedo, precisam trabalhar e cuidar dos filhos.

Ele perguntou de novos e velhos. Parecia fazer em tantas vezes um pequeno mapa do tempo. Questionou o fechamento do nosso Sete. Elogiou nossa praça. Lamentou nossas estúpidas desigualdades sociais.
“O movimento literário russo deveria ser como espelho a todos nós. Eles foram revolucionários.” Disse que tem composto muito. E sobre a especulação de sua vida na mídia, prefere silenciar. Seu desespero poético não é apenas em “Moda 73”. Belchior ainda está tão vivo e presente como em tempos de “Como Nossos Pais.”

Tudo estava no mesmo lugar. Pelo vidro que observava a cidade, vimos a essência do cotidiano daqui. Nós feito aqueles galhos de árvores do outro lado. As placas. Bicicletas com megafones roucos.  A venda na rua. A venda por dentro. O papelão e o corpo. A cidade se consumindo. O resto todo vivendo.

Ele voltou os olhos à mesa. E permaneceu tomando o chá de canela com maçã. Pediu um doce. Conversamos sobre mendigos, arte e trânsito. Nos despedimos. Belchior veio subitamente e foi embora da mesma maneira.

Com aquela melancólica sensação de quem acaba de assistir uma obra de Lars Von Trier, saí  com o coração em chamas, tão imagético, cinza, afoito, quente e calado.  O  Poeta do Coração Selvagem mostrou que estava certo: o delírio é a experiência com coisas reais em um ‘Até mais ver de Corpos terrestres’, em nossa ‘Pelotas ao Contrário’, como ele quis chamar. Belchior foi embora. Mas disse que quer voltar.

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Capa desta edição:


VEJA A VERSÃO COMPLETA DO JORNAL EM PDF, AQUI. 


quinta-feira, 21 de março de 2013

deuses em apartamentos



Guardei os tempos em que nos escondíamos em apartamentos, guardei dos anjos a fúria e dos teus olhos a incúria de quem teve ao lado o passado e lhe deu a mão. Vem, irmão esquecido, o tempo nos rende e a cidade espera. O concreto nos prende em suas enormes fachadas — imensas moradas para quem vive de rua. Vem — que um guarda apagado desespera e apaga a lua. Vem, atravessa e me espera nesses bancos vazios onde desfilam as ruas, que eu tenho o engano e o sopro mundano que esfria os dias no sul. Enquanto Pelotas dorme aconchegada ao relento, na esquina, uma moça me espera de costas com os cabelos ao vento e olha ao relógio a distâncias do tempo - uma máquina de ver as horas de minha demora quando aguarda sentada às escadas do mercado dos sonhos sem dono que brotam com o outono de uma catedral. São sete horas de mim até ela, horas viradas em poesias rasgadas que nos separam com casacos de lã das solidões inventadas que não podem ficar para depois. Tu esperas à mesa escura, aguardas a noite com um café. Eu sou apenas o poeta pequeno e sem fé com minhas rimas cadentes e acostumadas, com as páginas escritas com as pedras polidas pelos tempos que nascem dos pavimentos ladrilhados das praças. Saiba que nós dois morremos. Saiba que nós dois nos perdemos. Saiba que o tempo é apenas o esquecimento agora - e a eterna demora ao contrário de quem apenas espera e não tem mais a cara manchada de todos poemas. Fomos embora e trancamos as casas. Fomos embora com fome e com pressa. Na mesa da sala vazia, sou apenas um vidente santo da treva, um homem de olhos de vidro com uma poesia engasgada. latido, esquecido pelas palmas ásperas das tuas mãos pesadas — em casa, as janelas fechadas e a luz das semanas passadas sem teus passos e sem tua fumaça em meus sapatos de pedra. Poetas, bandidos, cachorros, policias e mendigos. Transientes, migalhas das casas, mulheres que descem as escadas. Empresários e homens, bichas e negros, filósofos com medo e árvores que esperam elogios. Amigos e fantasmas, viados e travestis, pastores e padres — saímos, morremos, fugimos daqui. Vamos embora agora, desespera e faz as malas, desfaz os cabelos que os homens caminham pelos largos que viram rios. Armas e balas, linhas que matam e escrevem sorrisos contidos, anjos deprimidos sem asas e palavras que amarram tua poesia que sempre te espera ali. Está tudo acabado, a menina me espera nas escadas e conta as horas ao pé do sol quando a noite traz as amarras de pano e vê o portal do mercado fechar. Sou cético incauto e pego carona nos ombros descrentes. Desespera e faz tuas malas, carrega tua arma com as balas e nunca volta a escrever. Atira, congela, inventa e revira as mentiras que é só o que tens. Moleques, crianças que pedem socorro — o céu sobre os morros, o sangue em escombros e as ruínas inquietas dos fantasmas vizinhos. Não há mais ninguém aqui.

[Grau Zero - Guilherme Oliveira]

quarta-feira, 20 de março de 2013

Aqui fora, aqui dentro (Texto I - E-cult)


Já está impressa e distribuída pela cidade a primeira versão do novo jornal cultural: E-cult. O projeto E-cult começou como um  site e agora tornou-se um jornal que passa a contar com uma nova formação de editores, redatores e colunistas.

A edição tem uma tiragem de 4.000 exemplares, que podem ser encontrados em universidades, cafés, associações, bares, coletivos, ongs e pontos culturais espalhados pela cidade de Pelotas.

Ao lado de Guilherme Oliveira, faço parte da etiqueta "Colunistas" no jornal, escrevendo um texto a cada edição.

Um tanto difícil e excitante começar o primeiro texto. Um tanto assim, tão vago, em uma auto-crítica necessária, mas com o tempo vamos afinando mais e mais.

Sugestões e tudo o mais sempre serão bem-vindas.
*


Pensar no que Pelotas representa em sua cultura artística tão icônica, requer um exercício multidisciplinar, desconfortável em certo ponto, admirável em outros, e, acima de tudo, um exercício bagunçadamente mestiço. Difícil para não dizer impossível. Forte para não dizer pesado e denso. Pelotas grita e silencia. O tempo todo.

Sempre me questionei com a ideia de uma Pelotas tão tradicional em uma visão geral e predominante. Já conheço o discurso firmado em um contexto de uma época que ditou estereótipos, costumes e dogmas de uma Pelotas menos diversa do que, de fato é e sempre foi. O discurso é até coerente dentro da particularidade que se escolheu. Pois é verdadeiro e comum sabermos - e, inclusive, disseminarmos e fomentarmos nossa visão, sentimento e identificação da Pelotas fria e francesa, com seus  prédios, casarões,  lagos e  pedras que fizeram do nosso chão um chão tão nosso. Essa estética fria, com praças, chafarizes, chapéus e cachecóis;  e todos os elementos que compõem o pacote estão tão próximos e tão embutidos em nossos modos automáticos de vermos e sentirmos nossa Satolep que chega um ponto – e este ponto não é o limite, que é preciso também olhar para o outro lado da ponte.

Nem é preciso o outro lado. Diante dos nossos olhos abertos, veremos uma Pelotas fria sim, uma princesa chuvosa e úmida, mas além da temática do clima e tempo – e tudo o que isto venha a representar, há um misto de vivências e peculiaridades capazes de tornarem uma teia quase infinita de pontos que fazem de Pelotas, indubitavelmente, um bucolismo cultural, vivo, imagético, marginal, poético, e, repito: gritante e silencioso.  

Pelotas, esse paradoxo entre o asfalto e o barro. Entre o canteiro e a valeta. Entre o salto-alto e o chinelo de dedo. Entre laquês e piolhos. Pelotas tem mármores com lustres brilhantes e muros, tão perto exclamando: “Estes grandes prédios foram levantados por mãos escravas!”. Pelotas, esse paradoxo entre tanta coisa latente, é também terra da resistência do movimento hip hop que cresce nas periferias e reúne mais de 1000 pessoas em shows de guris de vinte e poucos anos em praças centrais. Genialidades como a de um escultor analfabeto que dá ensinamentos para acadêmicos e pesquisadores de artes, não fazem parte ainda das Salas de Arte, mas existem em vivências diárias nos bairros e no centro.  Pelotas, terra do choro grandioso de Avendano e seus companheiros, do reconhecimento nacional de suas produções caseiras, feitas ali, na salinha de casa, sem marketings e holofotes. Pelotas é também terra de instrumentos exóticos e ancestrais, criados e tocados por M. Baptista, Giba-Giba e Dilermando, como o tambor de sopapo, elo com a África. Pelotas, sede antiga do Carnaval popular de rua lá de décadas atrás, - no tempo em que nosso Carnaval não era privatizado e tinha o reconhecimento de um dos mais procurados do País. 

Pelotas grita e silencia. Gritos de diferentes cantos, formas e sintaxes.  Um gesto mudo em diferentes episódios de tempo e lugar.  Pelotas é gritante nos esteriótipos antigos-atuais e ainda um tanto silenciosa para abrir-se ao reconhecimento e identificação da sua complexa e bela diversidade. Pelotas às vezes é fora quando quer ficar dentro de algo só. 

Pelotas é cênica, bailarina e cinematográfica. Tem também reggae, samba, jazz, blues, rock underground, boemia, escritores novatos que ainda não publicaram, alguns colocando a boca no trombone, através de sua arte, gente diferente escondida, precisando ser vista por uma perspectiva mais ‘somos além de uma estética estabelecida’.  E Pelotas é também clown: Tem Teatro do Oprimido e palhaços espalhados fazendo arte na frente de um Teatro fechado. 

Ediane Oliveira é Jornalista. Produz e apresenta o Programa Navegando RádioCom e faz parte da Maria Bonita Comunicação.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

this is why i'm afraid.

this is why i'm afraid.

this is why i'm afraid.

- shakespeare.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

No teu tronco tem dois nomes.


[produzido pela Maria Bonita Comunicação, no show do Alceu, em Pelotas.]

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Where Are We Now?


As long as there's sun
As long as there's sun
As long as there's rain
As long as there's rain
As long as there's fire
As long as there's fire
As long as there's me
As long as there's you.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

domingo, 6 de janeiro de 2013

LA DEMONIZACIÓN DE CHAVEZ



Por EDUARDO GALEANO

Hugo Chávez es un demonio. ¿Por qué? Porque alfabetizó a 2 millones de venezolanos que no sabían leer ni escribir, aunque vivían en un país que tiene la riqueza natural más importante del mundo, que es el petróleo. Yo viví en ese país algunos años y conocí muy bien lo que era. La llaman la "Venezuela Saudita" por el petróleo. Tenían 2 millones de niños que no podían ir a las escuelas porque no tenían documentos. Ahí llegó un gobierno, ese gobierno diabólico, demoníaco, que hace cosas elementales, como decir "Los niños deben ser aceptados en las escuelas con o sin documentos". Y ahí se cayó el mundo: eso es una prueba de que Chávez es un malvado malvadísimo. Ya que tiene esa riqueza, y gracias a que por la guerra de Iraq el petróleo se cotiza muy alto, él quiere aprovechar eso con fines solidarios. Quiere ayudar a los países suramericanos, principalmente Cuba. Cuba manda médicos, él paga con petróleo. Pero esos médicos también fueron fuente de escándalos. Están diciendo que los médicos venezolanos estaban furiosos por la presencia de esos intrusos trabajando en esos barrios pobres. En la época en que yo vivía allá como corresponsal de Prensa Latina, nunca vi un médico. Ahora sí hay médicos. La presencia de los médicos cubanos es otra evidencia de que Chávez está en la Tierra de visita, porque pertenece al infierno. Entonces, cuando se lee las noticias, se debe traducir todo. El demonismo tiene ese origen, para justificar la máquina diabólica de la muerte.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O escravo de seus fins



O Senhor K. fez as seguintes perguntas:

"Cada manhã meu vizinho ouve música num gramofone. Por que ele ouve música? E ouço que é porque faz ginástica. Por que faz ginástica? Porque precisa de força, ouço eu. Para que ele precisa de força? Porque tem de vencer seus inimigos na cidade, diz ele. Por que tem de vencer seus inimigos? Porque ele quer comer, ouço eu."

Depois que o Senhor K. ouviu que seu vizinho escutava música para fazer ginástica, fazia ginástica para se tornar forte, queria ser forte para acabar com seus inimigos, queria acabar com seus inimigos para poder comer, fez ele uma última pergunta: "Por que ele come?"

Bertolt Brecht, em "Histórias do Senhor Keuner" (Unidade Editorial/Prefeitura de Porto Alegre, 1998), tradução de Marcelo Backes.