sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Lula, você será lembrado


Hoje é o último dia de Lula no cargo, e ele vai deixar saudades. Sai com aprovação recorde no mundo, com 87% de aprovação. Quem chegou perto disso? Michelle Bachelet (Chile) e Nelson Mandela (África do Sul), com 84% e 82%. A diferença é que Bachelet não conseguiu fazer seu sucessor, enquanto a de Lula toma posse amanhã (nossa primeira presidenta, que no início do horário eleitoral teve sua luta pela liberdade comparada à de Mandela). Pra efeito de comparação, FHC deixou o governo com 26% de aprovação. É esse o placar: Lula 87% vs FHC 26%.

Eu não entendo muito bem o ódio a Lula. Ontem, por exemplo, os 6% que não aprovam seu governo puseram nos Trending Topics do Twitter a tag Fora Lula. Quer dizer, o cara vai sair hoje de qualquer jeito, então por que gritar "Fora Lula"? Deve ser a vontade de quem perdeu três eleições seguidas ter o gostinho de poder ganhar alguma coisa. Vai que eles narram a história pros netinhos como o dia em que foram capazes de tirar Lula do poder. Um blog de extrema direita escreve rancores assim: “Sabe, Lula, sabe quem estuda, quem tem educação, quem tem vergonha na cara, quem conhece malandro? Estes brasileiros desprezam você. Tem nojo de você. Tem asco de você. Não podem nem ouvir a sua voz pegajosa, as suas piadinhas de baixo nível, o seu caráter do mais baixo calão. [... Você] será lembrado como um chicaneiro, um populista ardiloso, um espertalhão, um estelionatário eleitoral. Você fez o que, Lula? [...] A verdade, Lula, é que você pegou tudo pronto”. E continua, sem disfarçar o seu nojo pessoal por uma pessoa que não conhece.

A maior parte do ódio contra Lula é preconceito de classe. É só ver como o vocabulário do fascistóide que escreveu as linhas acima copia a visão hierárquica que tem da sociedade: baixo nível, baixo calão. Pra eles, a gente nasce em castas, e quem nasce rico ou classe média é porque mereceu. Um indivíduo pode até sair da sua classe, mas apenas com seu esforço próprio, sem nunca depender de um aparato social.

O conceito de meritocracia se baseia na exclusão. O próprio Lula é um símbolo de quem, pra eles, jamais poderia ter “chegado lá”. Não porque ele foi beneficiado pelo Estado, mas por ser tosco, sindicalista (patrão é bom, sindicato é ruim), de uma região atrasada. O mínimo que se podia esperar dele, com essas qualificações (pô, ele nem fala inglês!), é que fizesse um péssimo governo. Que afundasse de vez o país, pra gente se ver livre dessa raça por pelo menos trinta anos. E, no entanto, ele fez uma excelente administração, aprovada por 87% dos brasileiros. Como explicar?

Dizendo que ele pegou tudo pronto, que no fundo não fez nada, e que todos que não têm essa opinião ou são analfabetos como ele ou são comprados. Porque quem está certo são esses 6%. Esses 6% que não têm um argumento sequer que não seja baseado em ódio irracional, mas que só podem estar certos.

Pra imensa maioria, Lula é o maior presidente que o Brasil já teve.

[Lola, Escreva Lola]

No quiero perder las cosas que me quedan por hacer

... No quiero olvidar las cosas que planeaste para mí.


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Das conversas os amores


Fechei-me com as janelas envidraçadas da sala enclausurando um mundo iluminado pela tela de um notebook que tocava uma canção triste e desenhava na vida a alegria expansiva da solidão

Vidrei o mar atravessado à casa e a luz do poste cavalheiro que se apagava ao charme do cair da noite azul e cinza que ascendia da terra fria do choque do mar com a areia abandonada que me fez pensar no amor e virar-me em amar porque não era noite mas também não era dia à altura que os sentimentos se punham no horizonte sem sequer prometer retornar para que eu me despedisse como quem uma última vez solicita o amor que nasceu comigo menino nas lágrimas com que desenhei minha a praia

Eu sou um cara legal e você é uma menina legal então deixa eu te falar de amor sob esse céuzão estrelado sem querer esse corpo insensato que queima com palavras os desejos que eu quero ver nos teus olhos a lua quando tu me falares e depois ouvir que não te quero amante nem beijos amores mas menina de sonhos e encantos que volta com a noite e meia em mar e me espera sentada nessa praia linda desde o nosso primeiro verão


[Escrito pelo poema que eu quero ler. Acho que sempre.]

domingo, 26 de dezembro de 2010

“Eu duvido de quem sobreviva com um salário de 11 ou 12 mil reais”


Aumento forte e significativo no salário dos deputados, nos 45 do segundo tempo do ano, expressa um encerramento de 2010, no mínimo, decepcionante


A gente está acostumado a ver reivindicações de aumentos de salários nas taxas mensais com estimativas de 2%, 6% ou até uns 15% [quando muito] em contextos compreensíveis da ainda desigual realidade do nosso País.

Agora, imagine o aumento de 62% no bolso dos nossos queridos deputados, somando R$ 26.723,13. Muitos números, não? Cômico, pra não dizer trágico. Vergonhoso, pra não dizer traiçoeiro.

Sei que esse assunto está batido, indignante e até mesmo risível. O senso comum insiste em bater na tecla do: “nem é surpresa”, “político é tudo assim mesmo” e “nada vai mudar”. É verdade se pensarmos que até não seja de se surpreender em um País, onde o questionamento popular e a mentalidade crítica e ativa diante das decisões do Estado, ainda é muito inferior - comparados à grande massa social existente. Amanhã a maioria já esqueceu. Mas, honestamente... tem como não deixar de pensar que, a audácia constrangedora somada a petulância injusta e irresponsável dos nossos representantes que votaram a favor do próprio aumento exacerbado de seus bolsos, causa no mínimo, um transtorno difícil e, eu diria, impossível de ser compreensível na nossa cabeça?

O País onde o salário mínimo trabalhista dificilmente avança em termos significativos, é o mesmo País onde o operário faz das tripas, coração para pagar as contas do mês e se preocupar com tudo que um “cidadão comum” [que pelo visto, é bem diferente mesmo dos deputados, caro deputado Abelardo Camarinha] tem.

De fato, nós, cidadãos comuns, somos de uma realidade distante da de vocês, deputados. A maioria de nós não tem um plano de saúde para podermos tirar do nosso salário e pagar todo mês como segurança de uma vida mais cuidada. Nós contamos com o SUS que muitas vezes nos deixa na mão. A nossa diferença também é que nossos filhos estão nas escolas públicas e muitos deles, ainda se alimentam nas próprias escolas, pela dificuldade que o Brasil ainda tem nos altos índices com a fome - mesmo que sim, reconhecidamente têm sido diminuídos nos últimos anos. É verdade, senhor Camarinha, nós não viajamos toda hora, muitos de nós ainda não entramos em um avião. Raramente fazemos longas e luxuosas viagens nas nossas pequenas férias e não é nada fácil quando queremos visitar nossa família que mora em outra cidade, outro estado, outro país.

Nosso ano é tão corrido, deputados, que parece não dar conta da maioria dos nossos desejos de uma vida melhor. Nossos planos, sabem? Nesse ponto, somos parecidos com vocês. Nós também temos. Os sonhos que projetamos sozinhos ou com as pessoas que amamos. Nós também somos convidados para casamentos, formaturas e festas. A diferença é que “somos cidadãos comuns” com dificuldade bem superiores a de vocês, comparadas aos nossos baixos salários.


Para quem tem uma boa posição social,
falar de comida é coisa baixa.
É compreensível: eles já comeram. [Bertolt Brecht]

Abaixo, o pensamento do Plínio Arruda, que é semelhante ao meu, quanto à injustiça do processo político e a ausência do protesto, do questionamento e da militância – tão significativos – na vida social.


Para 2011, eu quero mais igualdade.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Presente de natal para a memória histórica brasileira




A condenação do Estado brasileiro pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) na Organização dos Estados Americanos (OEA) – como responsável pelo “desaparecimento forçado” de 62 pessoas entre 1972-1974 durante a Guerrilha do Araguaia nos anos de chumbo da ditadura militar – é uma vitória dos que lutam pelos Direitos Humanos no país e pela real consolidação democrática brasileira.

É um merecido e esperado tapa na cara da arrogância dos militares e do Judiciário do Brasil que, entretanto, insistem em manter, ridicula mas preocupantemente, o narizinho empinado diante da retumbante derrota.

Essa condenação se anunciava desde maio deste ano, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) se negou a rever a Lei de Anisitia (6.683/79) e considerou incluídos na Lei todos os que cometeram “crimes políticos ou conexos” durante a ditadura, inclusive os de tortura. O caso que tramitava na OEA era a principal esperança de que, internacionalmente, o Brasil acabasse em posição difícil em matéria de Direitos Humanos.


UM CONSTRANGIMENTO NECESSÁRIO para revelar que o país que joga ás vezes de potência regional, tentando sentar-se como potência global, buscando inclusive atuar como mediador de conflitos e força estabilizadora, não é capaz de lidar com o seu próprio recente e vergonhoso passado, principalmente depois de ter recebido aval da sua maior instância judicial para tolerar a prática de tortura.

Por isso a condenação do governo brasileiro com base na Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica) é uma vitória paradoxal pois é péssimo para a imagem do Brasil em nível internacional. Revela um país não respeitador dos direitos e que em função disso pode inclusive sofrer conseqüências penais e econômicas decorrentes da decisão do Supremo. Nossa principal Corte de Justiça toma uma decisão dentro de sua autonomia, mas sem compatibilizar com os tratados e as convenções internacionais das quais o Brasil é signatário, sobretudo o Pacto de San Jose da Costa Rica.

Tal situação reforça a conhecida e deprimente fragilidade do Direito Internacional e revela a arrebatadora, quase repugnante, contradição em que o nosso Judiciário se embrenhou. O presidente do STF, ministro Cezar Peluso, afirmou que a sentença da OEA “não revoga, não anula, nem cassa a decisão do Supremo”, já que “sua eficácia é apenas no campo da convencionalidade”.

Isto é, com toda a cara dura que deus lhe deu, o presidente do nosso Supremo Tribunal explicita que, quando a coisa aperta, o que vale mesmo é a realpolitik, danem-se os tratados internacionais! Deve ser bonito assinar convenções e tratados internacionais, e aparecer na lista da ONU como um Estado de valores democráticos e comprometidos com os Direitos Humanos, mas quando a porca torce o rabo, ela grita! Afinal, tratados internacionais são apenas convencionalidades…

E no rebolar para tentar legitimar uma tese, vale até dedo no olho, ou apelar para o patriotismo. Outro ministro do STF, Ricardo Lewandowski, sentenciou que decisão da OEA “não obriga o Supremo a recuar”, porque “prevalece a decisão do STF como órgão supremo do Judiciário e parte da soberania do país”.

A TESE DEFENDIDA PELA OAB junto ao Supremo Tribunal Federal – na Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 153 – sustenta que a Lei da Anistia não se aplicaria aos torturadores, pois os crimes de tortura não seriam “crimes políticos e conexos”, mas sim crimes comuns. A Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA concorda e sentenciou que as disposições da Lei de Anistia que impedem a investigação e sanção de graves violações de direitos humanos são incompatíveis com a Convenção Americana.

Mas nosso Supremo Tribunal age como a criança dona da bola: jogo onde quiser, se não levo a pelota embora. Ou, em outras palavras, a principal Corte de Justiça do continente diz que o Brasil está errado, mas nossos ministros dizem que nas questões da transição política dos anos 80 ninguém mais pode se meter; é competência “soberana” dos juízes brasileiros.

A Lei da Anistia sempre foi entendida como um tema determinante para a consolidação do regime democrático, mas as vontades políticas de escamotear o passado para garantir a velhice confortável e obscura de militares que atuaram criminalmente, mesmo que ao preço de tolerância para com a tortura impetrada por agentes do Estado, se mantêm firmes e agem para assegurar que as tiranias permaneçam sob o tapete.

E é assim que o Brasil segue reforçando seus estereótipos de pais do oba-oba, de sol e festa, onde tudo pode, onde para tudo se tem um jeitinho, onde as instituições não são sérias, onde é fácil cometer barbaridades e sair ileso, o paraíso, tropical, da impunidade.

Logo, o ministro de Defesa, Nelson Jobim, reforça-se como um dos maiores mistérios do governo petista. Quais serão as manobras e interesses das forças partidárias, e/ou “ocultas” do poder no nosso país para que se mantenha esse senhor no Primeiro Escalão governamental?

Jobim, com sua subserviência os Estados Unidos agora desmascarda pelo Wikileaks, foi um dos primeiros a gritar contra o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) no ano passado e segue investindo seu expediente em proteger torturadores do regime militar se opondo ferrenhamente a qualquer iniciativa em favor da memória e da verdade.

PARA ESSA VOZ PRO-IMPUNIDADE QUE É, ABSURDAMENTE, O NOSSO MINISTRO DE DEFESA – mais uma vez – a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos de condenar o Brasil é “meramente política”. Jobim acredita que a sentenca da OEA não tem efeitos jurídicos no Brasil e afirma que não há possibilidade de punição para os militares que praticaram tortura no país.

Contudo, a decisão da OEA é um marco histórico porque pode se firmar como determinante na questão do respeito aos Direitos Humanos no Brasil. O país não tem o direito de seguir se omitindo – e fugindo – da busca da verdade sobre os reais acontecimentos durante a ditadura militar.

O Poder Executivo e a sociedade civil têm agora um estimulo internacional e não podem esmorecer. No Ministério da Justiça funcionam as comissões da Anistia e a de Mortos e Desaparecidos Políticos. E, por mais perseguição que tenha sofrido, segue em discussão a criação da Comissão da Verdade do Brasil para finalmente estabelecer um divisor de águas na história do país.

Segundo o sociólogo Gilson Caroni Filho “o entulho autoritário, no Brasil, apenas cresceu durante a longa noite dos generais”. A revisão da Lei da Anistia, o enfrentamento do vergonhoso passado brasileiro é uma questão para além das diferenças ideológicas: é uma necessidade cultural. Os torturadores devem se sentar no banco dos réus para evitar que novos crimes dessa natureza voltem a ser cometidos: a inviolabilidade dos Direitos Humanos no Brasil deve ser um pilar do projeto de nação de um Estado que finalmente começa a deixar de ser o país do futuro para construir o presente.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O som da fúria

O rock foi a trilha sonora dos movimentos de protesto
que varreram o mundo nos anos 1960



[A resistência passiva cedeu lugar à indignação e, depois, à raiva.
Mostrando que não eram de todo ignorantes em Shakespeare, os escribas do Novo Jornalismo criaram um chavão para o rock: o som e a fúria.]


Um marco na história da música, do comportamento e da busca pela liberdade. O movimento da contracultura está chegando aos seus 50 anos. Lembrar ou querer conhecer esse excitante conturbado e revolucionário momento, soa como abrir os olhos, os ouvidos, o corpo e a mente para as mudanças, que, durante meio século, ocorreram no imaginário que transporta a realidade humana.



[Apesar (ou por causa) de todos os seus conflitos, os anos 1960 foram uma época fascinante. Parafraseando Dickens, na sua famosa descrição da Revolução Francesa: “Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos, foi a idade da razão, foi a idade da insensatez, foi a era da crença, foi a era da incredulidade, foi a era da luz, foi a era das trevas, foi a primavera da esperança, foi o inverno do desespero…”, os anos 1960 foram a década que definiu o século 20.]


Sugiro a leitura do texto de Roberto Muggiati, na edição do mês passado na Revista Cult, trazendo a tona a trajetória do rock a partir dos anos 60. Acesse aqui.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

permanece.

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"O que é verdadeiro volta? Não. O que é verdadeiro não vai.
O que é verdadeiro permanece."
[Nicholas Sparks]




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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Quiero estar tan cerca que te pueda yo tocar


Quiero navegar el mar de tu mirada
Y saber que no habrá nada
Que me aparte de Ti...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Eterno

Falar de amor
É quando quero te dizer
Que tua simples existência
Construiu em mim
Afetos e caminhos
Destinos, sonhos e lições.

Eu ontem quis te abraçar
Por lembrar da nossa infância
E dos teus cuidados
Tão zelosos e ingênuos.

Eu hoje quero te selar
O aprendizado de crescer ao lado teu
E a superar as dores
Quando lembrei da tua gratidão aos sonhos
E dos teus passos adiante a escuridão.

As minhas fraquezas tornam-se fortalecidas
No tocar do teu violão
O meu silêncio se transformou num companheiro bom
Através da tua sensibilidade.

Pode o tempo passar
Eu não vou esquecer do que vivi
E do teu amor que me abraçou
Carinhosamente sem motivos
E com incondicionáveis seguranças

... Aconchegantes
E eternas em mim.

[Em homenagem ao meu irmão Giovani (lado direito da foto), aniversariante de hoje].

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Gulivers, Valentinos e enfim...


Essa foto não significa apenas três seres sorrindo para a lente de uma câmera. Tampouco não apenas serve para aquelas clichês fotos da agenda social de Pelotas. Ao menos pra mim.

Ela personifica uma nova parceria de torcida para que as coisas continuem dando certas. Amanda (@) e Yéssica (@) fazem parte da nova produtora Truca Audiovisuais e merecem meu apoio pelo carinho e como jornalista cultural - que busca coisas novas e de qualidade nessa satolep.

E essa foto, aos meus olhos, me remete a coisas boas para um futuro que acaba de bater em nossa porta.

Parabéns, gurias, pelo esforço na última quarta-feira, pela produção do show da Gulivers e da Valentinos. Pelotas anda precisando disso.

E a gente vai se encontrar mais vezes, eu tenho certeza.

diiamante.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Das Charqueadas aos dias atuais: a trajetória do tambor dos pampas


"Pois a liberdade é como um salto.

O impulso são os nossos punhos."
[Oliveira Silveira]


A trajetória do que poderia ser considerado um simples instrumento, se transforma numa jornada de descobrimento de processos históricos que teimam em contrapor a verdade idealizada daquilo que se considera oficial no Rio Grande do Sul. Com um toque grave e de grandes proporções, o tambor de sopapo, hoje montado principalmente pelas mãos de nomes pelotenses, não deixa morrer a memória das traições, do genocído do povo negro e, acima de tudo, da sua grande e essencial contribuição cultural para o estado e para o Brasil.

As mãos que hoje massageiam o couro, que retumbam distante o som inconfundível do pampa gaúcho, são as mesmas que há séculos foram retiradas de seus lares em algum lugar de uma África distante e que construíram a suor e muito sangue as riquezas e o imaginário que nunca lhes pertenceram.




Lançamento oficial do documentário O Grande Tambor, produzido pelo Coletivo Catarse: em Pelotas, no dia 12 de dezembro, às 20h no Teatro Guarany.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O Som do Tempo (The sound of Time)


"O sertão está em toda parte, o sertão é dentro da gente."
[Guimarães Rosa]


O concreto avança contra dona Maria, mas ela segue em frente, com toda calma do mundo.

O Som do tempo, um filme-documentário de Petrus Cariry personifica uma grande e bonita sensibilidade estética. A obra, já vencedora em diversos festivais nacionais de cinema, foi a mais contemplada no II Festival de Cinema Manuel Padeiro, levando para a casa 5 prêmios nas categorias de Melhor Trilha Sonora, Montagem, Fotografia, Direção e Melhor Filme Documentário.

A produção, vinda do Ceará, traz o silêncio da fala e o som do ar, da vida, do sentido e do tempo. E indica uma relação do homem no mundo paralelo entre a cidade e seu ambiente natural.

O Som do tempo é belo por ser simples. Simples por ser verdadeiro. E sensível por ser humano.

Dossiê Ditadura: Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil (1964-1985)

Tocar nos corpos para machucá-los e matar. Tal foi a infeliz, pecaminosa e brutal função de funcionários do Estado em nossa pátria brasileira após o golpe militar de 1964.
Tocar nos corpos para destruí-los psicologicamente e humanamente. Tal foi a tarefa ignominiosa de alguns profissionais da Medicina e de grupos militares e paramilitares durante 16 anos em nosso país. Tarefa que acabamos exportando ao Chile, Uruguai e Argentina. Ensinamos outros a destruir e a matar. Lentamente e sem piedade. Sem ética, nem humanismo.

Macular pessoas e identidades. Perseguir líderes políticos e estudantis. Homens e mulheres, em sua maioria jovens.
É destas dores que trata este livro. É desta triste história que nos falam as páginas marcadas de sangue e dor.


Dossiê Ditadura: Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil (1964-1985) é um livro de dor. Um memorial de melancolias. Um livro que fere e machuca mentes e corações. Um livro para fazer pensar e fazer mudar o que deve ainda ser mudado e pensado em favor da vida e da verdade. Um livro dos trinta anos que já se passaram.
Mas também um livro que faça a verdade falar, gritar e surgir como o sol em nossa terra. Um livro que traga muita luz e esclarecimento nos anos que virão.

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No mês passado, entrevistei o professor Enrique Padrós. Ele esteve presente em Pelotas, dentro de uma programação do IMA juntamente com a Bibliotheca Pública Pelotense. Tanto em sua palestra, como na nossa conversa, ele abordou o tema das ditaduras militares no eixo Brasil-Uruguai, as memórias, as lutas , as dores e os esquecimentos.

[Arquivo RádioCom – 03/11/10 - Programa Navegando]





Nunca mais a escuridão e as trevas. Nunca mais ao medo e à ditadura.
Nunca mais à exclusão e à tortura. Nunca mais à morte.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Eu já cansei de imaginar...




paz, eu quero paz...


(...) que não demora pra essa dor
sangrar.

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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

No meu filme

No meu filme, pés descalços pisam e passam sobre pedras na margem do rio. Escravos em fuga. Aparece, em plano aberto, cascatas e um grupo de capitães-do-mato...
É um filme sobre liberdade, coragem e sonhos. Acho que o roteiro vai ficar bacana.

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No meu filme não terá romance, mas o amor se manifestará de várias outras formas... Porque vai cortar em 1840 e cair no agoraqui, neste exato espaço-tempo, não mais Vila, nem São Francisco de Paula... Pelotas.
E a escravidão não é mais laboral... é do consumo, é do medo, é da entropia que encolhe a vida e torna a moldura dos fatos, um fator impenetrável, é da submissão e da cultura de massa. É o tempo em que se escolhe ser escravo, a Era do escravo-livre... Mas não existem questionamentos... Tudo é o que exatamente é... Ainda mais no meu filme... No meu filme, milagres acontecem. E sonhos se realizam.

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O meu filme tem gente boa. Um pessoal que se comunica em sorriso e arte. E se encontram, materializando utopias, encontrando espaços para manifestações. O meu filme acontece agora, embaixo dos meus pés... é quase um filme ao vivo, e eu o protagonizo, e este fato é importante de lembrar.
E nele cada segundo é um take, infinitamente posterior ao outro, até o ápice de minha relativa eternidade. E no meu filme aparecem universidades envoltas num mesmo processo, existe uma comunidade sedenta de si, um apoio público e um pessoal que trabalha sério e arduamente para dar presente às outras pessoas.

É tipo uma máfia... só que uma máfia do bem, entende? E ela se fortalece a cada instante, essa tal máfia... e tem várias variáveis de finais legais...
mas eu nem quero ainda pensar em finais.

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No meu filme tem escravo homenageado para resgatar outros tantos e a moral vai ser para que nunca deixemos os sonhos à deriva. Que nunca sejamos escravos... e que façamos o bem. Acho que é por aí, como a vida que co-crio, cheia de cenas belas, vistas de dentro da cara...
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Porque viver é estar constantemente em cena.


[Em homenagem a Manuel Padeiro - D.K.]

domingo, 5 de dezembro de 2010

Curta: O Trompete de Churchill

Curto e aceleradíssimo curta-metragem da cadeira "Som" do curso de Cinema de Animação da UFPel.

Narra a história fictícia (ou não) de Winston Churchill que, além de uma figura histórica, foi um mal ou bem sucedido trompetista.

O vídeo foi feito a partir da música, que varia de acordo com os estilos musicais, que o falecido 1º Ministro do Reino Unido tentou se familiarizar pela vida.

Produzido por meus amigos: Juliano Lima, Caio Mazzilli e Carolina Gaessler.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Manuel Padeiro / Festival de Cinema em Satolep

No mundo tridimensional, tudo o que é matéria se constrói e perece.

Das pirâmides aos corpos, da pedra ao pó. Porque o tempo é absoluto, o espaço, relativo. Apenas sobra, entre nomes e ruínas, o grande rio da história, que vaga até o mar da contemporaneidade.

Manuel Padeiro era escravo, oriundo da Costa do Ouro, na África. Em Pelotas, liderou o movimento quilombola e tornou-se uma referência quando se fala em liberdade e igualdade racial. O Zumbi dos Pampas, agora, empresta seu nome a um outro processo de libertação. Um grito sem dor, sem chibata, sem saladeiros... Pois a arte não está aprisionada a monumentos... a arte pulsa, enquanto houver humanidade.

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O Festival Manuel Padeiro de Cinema e Animação chega para transportar Pelotas ao cenário do cinema nacional, com uma mostra competitiva ao ar livre de curta-metragens nacionais, nas categorias ficção, documentário, animação, videoclipe e vídeo universitário. Além disso, a mostra paralela, que ocorre na sede do Curso de Cinema e Animação e o incentivo à vinda dos diretores classificados à mostra competitiva, buscam fazer da cidade, outrora tão voltada para o cinema, um fórum de debates e discussões cinematográficas que envolvam arte e sociedade.

Este ano, o evento ocorrerá no Parque Museu da Baronesa. E terá o financiamento com mais de R$ 25 mil em prêmios, através da Lei de Incentivo à Cultura do Rio Grande do Sul.

O Festival é uma realização da Gaia Cultura e Arte juntamente ao Curso de Cinema e Animação do Instituto de Artes e Design da UFPEL (Universidade Federal de Pelotas).


Confira a programação que acontece a partir de hoje (01) e vai até o dia 4, clicando aqui.