quinta-feira, 29 de março de 2012

Para as águas do Rio: indo para voltar

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De repente, subo até ti. Quero ficar perto de tua paisagem tão paradoxal: és areia e pássaros. E és tiros e morte. Ainda que sejas todo esse engodo de cores quentes, és cinzas desmaiados misturados com sangue; e ainda que - quando queres- sejas tão estúpido com tua gente, tão gritante! Ainda assim, derretidamente não deixarei de encontrar o que um dia já encontrei em tuas fontes. Preciso de água. E sobrevoarei entre prédios e redondezas, num piscar de olhos.

Descerei em teus morros, teus barulhos de cachoeiras. Estou indo te encontrar, Rio, porque meu vento me consola, mas preciso ao menos hoje, ao menos nesse instante, do teu cheiro de areia macia, teu sol em minha melanina. Calor por poucas horas. Gávea, Tijuca, Fonte da Saudade. Preciso de tua noite com sorrisos. Quero essa música calma que me faz fechar os olhos. Dançar ao teu passo, somente essa vez.

Me deixa dançar em ti, Rio. Me lava, me tira do gelo que criei em mim mesma. Me dá o sol de manhã para que eu possa merecer o vento quando voltar, tão breve, mais uma vez. E assim, recomeçar.




quarta-feira, 28 de março de 2012

Cabeça nas alturas, pés no chão

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Ontem (27) foi o Dia Internacional do Teatro. Dentre alguns nomes muito representativos nessa belíssima arte, lembro de um dramaturgo, que, de alguma maneira, influenciou e inspira meu pensamento. Augusto Boal.

Sensibilidade com a humanidade e ousada participação política.

"Augusto Boal reinventou o teatro político e é uma figura internacional tão importante quanto Brecht ou Stanislawski." - The Guardian.


terça-feira, 27 de março de 2012

Sobre nostalgia ‘en la justa medida’

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*[A nostalgia aqui revela um tom mais ameno do que, rigorosamente, se é. Entenda. Na medida.]

O ano passado acabou de acabar? Não sei... o tempo está correndo assim, tão de repente. Parece que está. E já ando, inclusive, um pouco nostálgica por 2011. Veja só, hoje coloquei pela primeira vez no ano, um tênis (para não sentir frio nos pés) - ou ‘andei com os pés tapados’, como disse minha mãe. E não só isso. Usei mantinha de tecido, coloquei casaco, deixei de lado saias e vestidos para encarar calça jeans e sentir aquele ventinho suavemente gelado de manhã (leia-se sensação térmica de 10º).

O vento, que outrora estava ausente, além de mexer em minha melancolia, me fez (como uma boa e velha pelotense) lembrar que o inverno daqui a pouco está batendo à porta. Estou no outono. Me encontro com galhos espalhados por aí, tocando nos meus pés, mesmo que 'tapados'. De tanto caminhar pelas ruas, é possível ver um tom diferente no céu, nas pessoas. O sol misturado ao vento é belo, aconchegante e reflete um misto de introspecção, saudade, liberdade.

Me sinto, enfim, respirando um pouco melhor.

E diante dessa ‘nostalgia’ tão curta, mas não efêmera, lembro de 2011. Trabalhar diariamente em um veículo de comunicação (ainda que em muitas vezes a rotina seja, por si só, cansativa), faz o tempo te mostrar uma gama de diversidade humana. Impagável. Durante esses meus 4, 5 anos de RadioCom, “muita gente passou por ali”.

Lembranças se confundem com risos, decepções, saudosismos, admirações, estranhismos e surpresas. Há de tudo para se dizer. Mas há muito para se agradecer a esse dom que é a vida, por fazer nos aproximar de sentimentos bons por algumas pessoas.

Um pouquinho antes de chegar no meu outono passado, conheci Sebastian Jantos, músico e compositor de Montevideo. Com uma delicadeza muito abraçante e sincera, “Seba” esteve presente em duas horas de programa. Falou de sua paixão pela poesia e música brasileira. Contou sua história, tocou e cantou ao vivo, fez o ‘bendito intercâmbio’ e me aproximou ainda mais da suavidade da música uruguaia. Ele abriu o show de Dado Villa-Lobos na cidade, ao lado de alguns músicos daqui.

Hoje, meu prestígio é a sua música em parceria com meu amigo Richard Serraria - quem nos apresentou e quem fez com que esse intercâmbio se intensificasse. ‘En La justa medida’ passa uma mansidão gostosa, triste e amena. Sensação semelhante ao ventinho que senti hoje pela manhã.


segunda-feira, 26 de março de 2012

É pelo vão dos momentos de solidão

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Prestigio aqui dois poemas de Marilia Kosby, antropóloga que conheci em entrevista no meu programa, através da Radiocom.

Escolhidos a dedo, dois poemas que, de alguma maneira, penetraram em mim, especialmente no dia de hoje. Um de boas-vindas. Outro de despedida.


Alecrim

Sei lá eu
se pitangueira tem flor!
Venho tentando rimar
pasto com teus olhos
Como se fossem eles
o motivo de eu ficar aqui imaginando
as palavras na tua língua

Essa tapera que eu era
Aquela geada que eu velava
meio-dia adentro
Era tudo.
Eu tava virada
no que me faltava

Quando tu chegaste
batendo palmas no temporal
só dei pelo que não tinhas
A cor, o perfume,
o calor
as décadas

Das tuas posses
me permites o que desejas perder.
Mas o que mais tu tens
- que essa luz continua acesa?

Sopra nos meus quatro cantos
uma cançãozinha
de lá de onde eu venho:
"Alecrim
Alecrim dourado
Que nasceu no mato
Sem ser semeado"
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Lugar comum

Por essa porta
que bateste ao ir embora
Pelas linhas tortas
que traçaste ao te perderes

É pelo vão dos momentos de solidão
que eu entro na tua vida
Com a impressão de que estou saindo.

Experiências em Carvão

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Artista: Janete Flores

sexta-feira, 23 de março de 2012

'O homem é esse animal louco cuja loucura inventou a razão'


... sentenciou o filósofo e psicanalista Cornelius Castoriadis. Pensador de origem grega, ele subverteu a célebre afirmação de Aristóteles (“o homem é um animal racional”), para compreender a natureza humana sob outro viés – aquele que despontou no século XX e produziu nomes como os de Freud, Jung e Lacan.

Numa época marcada pela massificação e pela compreensão do homem como uma máquina regulável quimicamente, é sintomático que renomados cineastas tenham se preocupado com o “animal louco” que governa bélica e economicamente o mundo. Aliás, é também significativo que um terço dos filmes do Ciclo A Filosofia e o Cinema Psicológico sejam de origem norte-americana e inglesa: eles trazem a vertigem da reflexão de cineastas críticos que, à margem da indústria do entretenimento, estão preocupados com os rumos de seus países.

Além de toda a comunidade, o Ciclo também é dedicado a Theo Angelopoulos, jovem grego que, após abandonar os estudos de Direito, chegou em Paris no início da década de 1960 para estudar Literatura, Filosofia e freqüentar a Escola de Altos Estudos Cinematográficos. Tendo falecido em janeiro de 2012, ele nos legou uma filmografia marcada pela reflexão e pelo humanismo.
[Rubira]

Exibição de hoje: APOCALIPSE NOW



CARTA AOS MÉDICOS-CHEFES DOS MANICÔMIOS

Senhores,

As leis e os costumes concedem-vos o direito de medir o espírito. Essa jurisdição soberana e temível é exercida com vossa razão. Deixai-nos rir. A credulidade dos povos civilizados, dos sábios, dos governos, adorna a psiquiatria de não sei que luzes sobrenaturais. O processo da vossa profissão já recebeu seu veredicto. Não pretendemos discutir aqui o valor da vossa ciência nem a duvidosa existência das doenças mentais. Mas para cada cem supostas patogenias nas quais se desencadeia a confusão da matéria e do espírito, para cada cem classificações das quais as mais vagas ainda são as mais aproveitáveis, quantas são as tentativas nobres de chegar ao mundo cerebral onde vivem tantos dos vossos prisioneiros? Quantos, por exemplo, acham que o sonho do demente precoce, as imagens pelas quais ele é possuído, são algo mais que uma salada de palavras? [...]

Não admitimos que se freie o livre desenvolvimento de um delírio, tão legítimo e lógico quanto qualquer outra sequência de ideias e atos humanos. A repressão dos atos anti-sociais é tão ilusória quanto inaceitável no seu fundamento. Todos os actos individuais são anti-sociais. Os loucos são as vítimas individuais por excelência da ditadura social; em nome dessa individualidade intrínseca ao homem, exigimos que sejam soltos esses encarcerados da sensibilidade, pois não está ao alcance das leis prender todos os homens que pensam e agem.Sem insistir no carácter perfeitamente genial das manifestações de certos loucos, na medida da nossa capacidade de avaliá-las, afirmamos a legitimidade absoluta da sua concepção de realidade e de todos os actos que dela decorrem.Que tudo isso seja lembrado amanhã pela manhã, na hora da visita, quando tentarem conversar sem diccionário com esses homens sobre os quais, reconheçam, os senhores só têm a superioridade da força.

(Antonin Artaud)

quarta-feira, 21 de março de 2012

My fake plastic love

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If I could be who you wanted all the time

All the time.

sábado, 17 de março de 2012

Josefina

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Lembra-me momentos passados e terrificantes, momentos difusos, tão perfeitamente difusos, cujo mero lembrar é já um resplandecer suficientemente nebuloso para fazer soçobrar toda minha vida. São, assim, não meros momentos alojados em um quartinho da memória, mas momentos que, de algum modo, ainda vivem e alimentam-se desta escuridão estacionária, como se em alguma dimensão nós estivéssemos tendo lugar.

Somos, nós dois, a vida da memória, a memória viva que irrompe no real — não o mal que nubla a mente, mas o momento perfeito que sonda qualquer possibilidade e a dissuade, onde todo momento é já sempre culpado de não se ter tornado aquele momento tão vivo, tão belo e pequeno, tão perfeitamente pequeno que seria capaz de armazenar a humanidade em um lapso, um lapso tão recôndito e tão perfeito que jamais se poderia realizar, mas que seria, por si só, suficiente para justificar uma humanidade inteira, uma em fantasia, que só poderia ter lugar em colapso, uma humanidade sempre prestes a nascer e derrogar aquela outra que se firma num duplo zelo onde cuida tanto da pequena Josefina quanto de si mesma — se é que diferem em alguma instância, cogita.

Não é de se estranhar, portanto, que Josefina não encontre referência alguma e que nada chame; não é mulher nenhuma, mas, antes, a impossibilidade ela mesma, a sombra do nome onde tem berço o medo e a ausência (quem sabe uma faltinha carinhosa de alguma coisa, qualquer e toda coisa!, que nunca pode ser cumprida e que se abraça em tudo que lhe é posto dizendo: não é Josefina — nem mesmo quando se trata dela?). Talvez fosse mais sensato, consequentemente, acreditar que em outros nomes caberiam o que lhe é devido; chamá-la-ia carinho, solidão, ternura e compreensão, chamá-la-ia minha, decerto. Porém, no entoar desses nomes só haveria um reverberar infindável onde se perderia a pequena menina em substituição com algo o qual Josefina nada tem a ver, nenhuma conta tem a prestar. Trata, do contrário, da idade do possível, de seu tempo, de seu lugar — ou melhor: destrata-a. Faz-me recordar: sou eu o digno de abandono, aquele que no próprio deixar dá o deferimento tácito e a despedida, deixa-se sob o poder de.
[com Grau zero]
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quinta-feira, 15 de março de 2012

I have to turn my head

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Maybe then I'll fade away
And not have to face the facts
It's not easy facin' up
When your whole world is black

I have to turn my head
Until my darkness goes.

domingo, 11 de março de 2012

quinta-feira, 8 de março de 2012

quarta-feira, 7 de março de 2012

Lucas Santtana com o Brasil embaixo dos pés...

e a mente na imensidão.

No último mês, o cantor e músico Lucas Santtana disponibilizou para download seu mais recente trabalho.
''O Deus que devasta mas também cura''é o nome que dá título ao quinto disco do baiano, radicado no Rio há mais de dez anos.

A faixa-título foi criada originalmente para o disco do produtor e compositor Gui Amabis, Memórias Luso/ Africanas. Mas a versão para o disco de Lucas ganhou uma parceria do maestro Letieres Leite para fazer os arranjos e colocou a Orkestra Rumpilezz. A música comunica com sua voz grave e melódica misturada ao som das batidas instrumentais consoantes. Foi uma refinada escolha dar peso com essa faixa intitulando seu novo trabalho e abrindo o disco de cara.

O disco é suave e penetrante. Lucas consegue seguir sua influência da música popular brasileira misturando ritimos mais contemporâneos como o eletrônico e o afrobeat.

Com letras de Tom Zé e melodia de Herbert Vianna e Bi Ribeiro, o álbum também conta com voz de Céu, Dengue (Nação Zumbi), samples de Beethoven, participação do trompetista Guizado, e até do filho de Lucas, Josué, de 9 anos, em uma composição.

Lendo depoimentos sobre o disco, encontrei uma definição que resume grande parte do que sinto de seu trabalho, desde discos atrás: O Brasil embaixo dos pés e a mente na imensidão...

Para baixar o disco: AQUI.

terça-feira, 6 de março de 2012

Gabriel García Marquez faz hoje 85 anos

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O mundo literário celebra hoje os 85 anos de Gabriel García Marquez, nascido em 6 de março de 1927 em Aracataca, Colômbia. O escritor, distinguido com o Nobel da Literatura em 1982, comemora também os 60 anos do seu primeiro conto, "A Terceira Resignação", os 45 anos do aclamado romance "Cem Anos de Solidão" e os dez anos de haver começado a publicar as suas memórias autobiográficas, "Viver Para Contar". (Expresso)

"A idade não é a realidade salva no mundo físico.

A essência de um ser humano resiste ao passar do tempo.

As nossas vidas são eternas...
Pensa no amor como um estado de graça.
Não é um meio para nada, mas sim o Alfa e o Ômega. 

Um fim em si mesmo." [Garcia Marquez]

segunda-feira, 5 de março de 2012

Your mouth is not my mouth

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hold my hand
bikini pulled aside
hold me low
and upside down and black
don't let me go
use all your twists
hold me once and hold me twice.

quinta-feira, 1 de março de 2012

São as águas...

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caco
vidro
vida
sol
noite
morte
laço
anzol
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