Lembra-me momentos passados e terrificantes, momentos difusos, tão perfeitamente difusos, cujo mero lembrar é já um resplandecer suficientemente nebuloso para fazer soçobrar toda minha vida. São, assim, não meros momentos alojados em um quartinho da memória, mas momentos que, de algum modo, ainda vivem e alimentam-se desta escuridão estacionária, como se em alguma dimensão nós estivéssemos tendo lugar.
Somos, nós dois, a vida da memória, a memória viva que irrompe no real — não o mal que nubla a mente, mas o momento perfeito que sonda qualquer possibilidade e a dissuade, onde todo momento é já sempre culpado de não se ter tornado aquele momento tão vivo, tão belo e pequeno, tão perfeitamente pequeno que seria capaz de armazenar a humanidade em um lapso, um lapso tão recôndito e tão perfeito que jamais se poderia realizar, mas que seria, por si só, suficiente para justificar uma humanidade inteira, uma em fantasia, que só poderia ter lugar em colapso, uma humanidade sempre prestes a nascer e derrogar aquela outra que se firma num duplo zelo onde cuida tanto da pequena Josefina quanto de si mesma — se é que diferem em alguma instância, cogita.
Não é de se estranhar, portanto, que Josefina não encontre referência alguma e que nada chame; não é mulher nenhuma, mas, antes, a impossibilidade ela mesma, a sombra do nome onde tem berço o medo e a ausência (quem sabe uma faltinha carinhosa de alguma coisa, qualquer e toda coisa!, que nunca pode ser cumprida e que se abraça em tudo que lhe é posto dizendo: não é Josefina — nem mesmo quando se trata dela?). Talvez fosse mais sensato, consequentemente, acreditar que em outros nomes caberiam o que lhe é devido; chamá-la-ia carinho, solidão, ternura e compreensão, chamá-la-ia minha, decerto. Porém, no entoar desses nomes só haveria um reverberar infindável onde se perderia a pequena menina em substituição com algo o qual Josefina nada tem a ver, nenhuma conta tem a prestar. Trata, do contrário, da idade do possível, de seu tempo, de seu lugar — ou melhor: destrata-a. Faz-me recordar: sou eu o digno de abandono, aquele que no próprio deixar dá o deferimento tácito e a despedida, deixa-se sob o poder de.
Somos, nós dois, a vida da memória, a memória viva que irrompe no real — não o mal que nubla a mente, mas o momento perfeito que sonda qualquer possibilidade e a dissuade, onde todo momento é já sempre culpado de não se ter tornado aquele momento tão vivo, tão belo e pequeno, tão perfeitamente pequeno que seria capaz de armazenar a humanidade em um lapso, um lapso tão recôndito e tão perfeito que jamais se poderia realizar, mas que seria, por si só, suficiente para justificar uma humanidade inteira, uma em fantasia, que só poderia ter lugar em colapso, uma humanidade sempre prestes a nascer e derrogar aquela outra que se firma num duplo zelo onde cuida tanto da pequena Josefina quanto de si mesma — se é que diferem em alguma instância, cogita.
Não é de se estranhar, portanto, que Josefina não encontre referência alguma e que nada chame; não é mulher nenhuma, mas, antes, a impossibilidade ela mesma, a sombra do nome onde tem berço o medo e a ausência (quem sabe uma faltinha carinhosa de alguma coisa, qualquer e toda coisa!, que nunca pode ser cumprida e que se abraça em tudo que lhe é posto dizendo: não é Josefina — nem mesmo quando se trata dela?). Talvez fosse mais sensato, consequentemente, acreditar que em outros nomes caberiam o que lhe é devido; chamá-la-ia carinho, solidão, ternura e compreensão, chamá-la-ia minha, decerto. Porém, no entoar desses nomes só haveria um reverberar infindável onde se perderia a pequena menina em substituição com algo o qual Josefina nada tem a ver, nenhuma conta tem a prestar. Trata, do contrário, da idade do possível, de seu tempo, de seu lugar — ou melhor: destrata-a. Faz-me recordar: sou eu o digno de abandono, aquele que no próprio deixar dá o deferimento tácito e a despedida, deixa-se sob o poder de.
[com Grau zero]
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