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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

110 anos de Drummond



Destruição

 Os amantes se amam cruelmente e com se amarem tanto não se vêem. Um se beija no outro, refletido. Dois amantes que são? Dois inimigos.  Amantes são meninos estragados pelo mimo de amar: e não percebem quanto se pulverizam no enlaçar-se, e como o que era mundo volve a nada.  Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma que os passeia de leve, assim a cobra se imprime na lembrança de seu trilho.  E eles quedam mordidos para sempre. deixaram de existir, mas o existido continua a doer eternamente.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

'Nossa época anuncia a volta ao sentido puro.'


Eu acredito que a poesia tenha sido uma vocação, embora não tenha sido uma vocação desenvolvida conscientemente ou intencionalmente. Minha motivação foi esta: tentar resolver, através de versos, problemas existenciais internos. São problemas de angústia, incompreensão e inadaptação ao mundo. [Drummond]













sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé - De Ariana para Dionísio


É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.

Voz e vento apenas

Das coisas do lá fora


E sozinha supor

Que se estivesses dentro


Essa voz importante e esse vento

Das ramagens de fora



Eu jamais ouviria. Atento

Meu ouvido escutaria

O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.

Porque é melhor sonhar tua rudeza

E sorver reconquista a cada noite

Pensando: amanhã sim, virá.

E o tempo de amanhã será riqueza:

A cada noite, eu Ariana, preparando

Aroma e corpo. E o verso a cada noite

Se fazendo de tua sábia ausência.



Porque tu sabes que é de poesia

Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,

Que a teu lado te amando,

Antes de ser mulher sou inteira poeta.

E que o teu corpo existe porque o meu

Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,

É que move o grande corpo teu



Ainda que tu me vejas extrema e suplicante

Quando amanhece e me dizes adeus.



A minha Casa é guardiã do meu corpo

E protetora de todas minhas ardências.

E transmuta em palavra

Paixão e veemência



E minha boca se faz fonte de prata

Ainda que eu grite à Casa que só existo

Para sorver a água da tua boca.



A minha Casa, Dionísio, te lamenta

E manda que eu te pergunte assim de frente:

À uma mulher que canta ensolarada

E que é sonora, múltipla, argonauta

Por que recusas amor e permanência?


Porque te amo

Deverias ao menos te deter

Um instante



Como as pessoas fazem

Quando vêem a petúnia

Ou a chuva de granizo.



Porque te amo

Deveria a teus olhos parecer

Uma outra Ariana



Não essa que te louva



A cada verso

Mas outra


Reverso de sua própria placidez

Escudo e crueldade a cada gesto.



Porque te amo, Dionísio,

é que me faço assim tão simultânea

Madura, adolescente



E por isso talvez

Te aborreças de mim.



Hilda Hilst

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Mais um Sarau

Sarau BPP lembra Garcia Lorca
Poeta espanhol  é o autor em destaque no projeto da Bibliotheca Pública Pelotense

 Um dos nomes mais conhecidos da literatura de língua espanhola , Garcia Lorca ( 1898 -1936) é o autor em destaque na XXIV edição do Sarau Poético-Musical da Bibliotheca Pública Pelotense (BPP) , no próximo dia 28. A homenagem ao poeta nascido na Andaluzia ocorre no mês que marca os 76 anos de seu fuzilamento( 19 de agosto) pelas milicias franquistas em Granada, no início da Guerra Civil espanhola ( 1936 - 1939). A poesia e o teatro compõem o centro de sua obra , que se completa com títulos em prosa, composições musicais e desenhos. A fala sobre Federico Garcia Lorca - a cargo de Pedro Bittencourt Jr - abre a edição de agosto do Sarau BPP que, na sequência, apresenta blocos de música ao vivo e poesia recitada de autores locais. Evento com entrada franca e inicio às 19:30 horas. No salão térreo da Bibliotheca.
 
 AUTORES-POETAS CONVIDADOS:

Arlete Dalarosa
Ediane Oliveira
Fernanda Souza
Francine Costa Amaral

AUTOR EM DESTAQUE
Federico Garcia Lorca ( 1898:-1936)

CONVERSA SOBRE O AUTOR DESTACADO:
Pedro Bittencourt Jr


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O estouro



demais
tão pouco

tão gordo
tão magro
ou ninguém.

risos ou
lágrimas

odiosos 
amantes

estranhos com faces como
cabeças de
tachinhas

exércitos correndo através
de ruas de sangue
brandindo garrafas de vinho
baionetando e fodendo
virgens.

ou um velho num quarto barato
com uma fotografia de M. Monroe.

há tamanha solidão no mundo
que você pode vê-la no movimento lento dos
braços de um relógio.

pessoas tão cansadas
mutiladas
tanto pelo amor como pelo desamor.

as pessoas simplesmente não são boas umas com as outras
cara a cara.

os ricos não são bons para os ricos
os pobres não são bons para os pobres.

estamos com medo.

nosso sistema educacional nos diz que
podemos ser todos
grandes vencedores.

eles não nos contaram
a respeito das misérias
ou dos suicídios.

ou do terror de uma pessoa 
sofrendo sozinha
num lugar qualquer

intocada
incomunicável

regando uma planta.

as pessoas não são boas umas com as outras.
as pessoas não são boas umas com as outras.
as pessoas não são boas umas com as outras.

suponho que nunca serão.
não peço para que sejam.

mas às vezes eu penso sobre
isso.

as contas dos rosários balançarão
as nuvens nublarão
e o assassino degolará a criança
como se desse uma mordida numa casquinha de sorvete.

demais
tão pouco

tão gordo
tão magro
ou ninguém

mais odiosos que amantes.

as pessoas não são boas umas com as outras.
talvez se elas fossem
nossas mortes não seriam tão tristes.

enquanto isso eu olho para as jovens garotas
talos
flores do acaso.

tem que haver um caminho.

com certeza deve haver um caminho sobre o qual ainda
não pensamos.

quem colocou este cérebro dentro de mim?

ele chora
ele demanda
ele diz que há uma chance.

ele não dirá
"não". 

Charles Bukowski  

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Procura-se


Tive contato com a poesia de Martim César há alguns anos. Mais recentemente, tive a oportunidade de conhecer um pouco mais de sua obra, através da edição do Poesia No Bar, que se deslocou a Jaguarão.
Publico aqui uma poesia deste autor. Uma busca incansável pela poesia viva ou morta. Respirá-la talvez seja o que esteja nos faltando cada vez mais. Procura-se a poesia, procura-se.


Procura-se a poesia, viva ou morta, procura-se.
Poesia como um amor adolescente,
Ingênuo. Descobrindo e descobrindo-se.
Como o primeiro olhar de cumplicidade
E o primeiro beijo. E a primeira lágrima de dor.
(E não existe outro amor mais delirante).

Procura-se a poesia, viva ou morta, procura-se.
Poesia contra a opressão,
Poesia como um rio sem represas,
Poesia libertária, abrindo grades,
Poesia devolvendo o céu aos pássaros,
Poesia sem preço, nem limites,
Poesia como lenitivo, como bálsamo,
Poesia contra as feridas deste tempo,
Poesia contra quem nos fere,
Poesia para quem nos fere,
Poesia necessária, poesia imprescindível
Como a água que bebemos.

Procura-se a poesia, viva ou morta, procura-se.
Poesia de Neruda, eterna como as geleiras da sua terra,
Alta como a cordilheira que moldou o seu canto inigualável,
Livre como o condor, senhor dos ares ameríndios.
Poesia com gosto de vinho, poesia cor de sangue,
Poesia como o mar, belo e temível. Temivelmente belo.
Poesia de Drummond, cortante como um punhal,
Feita do ferro das suas minas não tão gerais,
Poesia denunciadora como a Rosa de Hiroshima,
Poesia gritando feito uma menina do Vietnam,
Nua. Queimada de Napalm, gritando...
Ardendo em chamas dentro de nós.
 
Procura-se a poesia, viva ou morta, procura-se.
Poesia como um relâmpago na noite escura,
Como o tímpano adivinhando o trovão
Que ainda não veio, mas virá.
Poesia como uma flor em meio ao charco,
Como as gotas de orvalho sobre a relva,
Como uma carta de amor no bolso de um soldado
Que foi morto por outro soldado que
também foi morto,
Ambos assassinados por alguém que
nunca foi à guerra.
Poesia épica como a música de Serrat
Onde Dom Quixote ainda enfrenta os cataventos,
E García Lorca ainda está vivo,
Zombando dos generais que o fuzilaram.
Como o exemplo de uma mulher por trás das barricadas,
Defendendo a frágil democracia de sua
imensa Espanha
E gritando: No pasarán!... No pasarán!... No pasarán!


Procura-se a poesia, viva ou morta, procura-se.
Poesia como um amor adulto, aparando arestas,
Buscando completar um estranho quebra-cabeças
Onde sempre está faltando alguma peça.
(E não existe outro amor mais desafiante).
Poesia como as mãos de Víctor Jara, tocando,
Mutiladas mas ainda ali, tocando
Para todos os opressores deste mundo, tocando
Para os abutres disfarçados de defensores da liberdade,
Pois cada Pinochet é somente um títere,
Perigoso títere de uma ideologia onde o lucro
É o único Deus e a águia é o símbolo do poder.

Procura-se a poesia, viva ou morta, procura-se.
Poesia como o espetáculo indescritível das estrelas
Numa noite clara, longe das cidades de neon.
Poesia como as mãos de um escultor
Moldando o barro, forjando o tempo.
Poesia como o sutil traço de um pintor
Transformando a matéria em sentimentos.
Poesia desesperada como um suicídio,
Como a dor das mães-avós da praça de maio,
Lutando contra o silêncio e o esquecimento.

Procura-se a poesia, viva ou morta, procura-se.
Poesia como flecha contra mísseis e satélites.
Poesia como o pedaço de céu visto entre as grades
De todos os cárceres do planeta.
Poesia como a ausência das pessoas que perdemos,
Mas que continuarão em nós, enquanto vivermos.
Poesia como um barco regressando.
Poesia incoerente e bela. Incoerentemente bela.
Como o pranto solitário de Carlitos,
Como a ternura inquebrantável de Guevara.
Poesia necessária, poesia imprescindível
Como o ar que respiramos.

Procura-se a poesia, viva ou morta, procura-se.
Poesia como o último índio de uma raça,
Exposto aos brancos como um animal exótico.
Poesia como o grito igualitário de Zumbi
Sem entender porque a cor difere os homens.
Poesia como o coração de Chico Mendes
Sangrando sobre o verde da amazônia.
Poesia como os cem anos de solidão
A que estão condenadas todas as Macondos
Deste hemisfério culpado por ser inocente.

Procura-se a poesia, viva ou morta, procura-se.
Poesia como um amor maduro,
Bebendo a última luz do entardecer.
(E não existe outro amor mais verdadeiro).
Poesia necessária, poesia imprescindível
Como o sol de cada dia.
Poesia como alguém que dá sua vida
Por um ideal, por um amor, por um amigo,
Poesia como alguém que dá sua vida por alguém,
Sem importar-se, que, afinal, está entregando
A sua mais bela e - quem sabe -
Única, necessária e imprescindível poesia.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Nas sextas: Revista Seja


Toda a sexta-feira estarei postando na revista online literária: Seja. 



Ela  foi lançada em Abril de 2010 com o objetivo de divulgar e promover a arte e a cultura através da participação de colaboradores na sua construção. Utilizando a plataforma Blogspot, a Revista desde o seu início contou com entrevistas, crônicas, opiniões, vídeos e muita poesia. A última postagem da primeira fase foi em Outubro de 2011.

Depois de sete meses na geladeira virtual, o blog  volta com outra cara:  o foco está  totalmente voltado para a poesia. E mais:  com edições e construções de cinco editores. Cada um tendo a responsabilidade de postar uma poesia em determinado dia da semana.

A postagem inicial terá um poema do autor, mas nas outras seguintes do mês, o autor divulgará poesias de outros autores, fazendo assim um grande intercâmbio e troca com o fortalecimento da divulgação de trabalhos espalhados pelo país.

A Revista Seja é formada por 5 autores de Pelotas e região. Um grupo que se dedica a eventos musicais-poéticose na divulgação de trabalhos no gênero literatura.

Portanto, nos encontramos nas sextas-feiras AQUI, em minhas palavras e em versos alheios...

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Poesia no Bar vai a Jaguarão



A 11ª edição do Especial Poesia No Bar acontece amanhã (15), às 22h, no Clube 24 de Agosto, em Jaguarão/RS. O evento irá integrar a programação oficial da SEDA (Semana do Audiovisual), organizada pelo Sotaque Coletivo, de Pelotas. O Encontro Literário dentro da SEDA contará com participações de autores de Pelotas, Jaguarão e região.

Nesta edição, o Poesia no Bar contará com um Sarau Literário, exibição de vinhetas poéticas que concorreram na categoria Vinheta Universitária no 3º Festival Manuel Padeiro de Cinema e Animação e também a exibição do teaser oficial do Especial Poesia no Bar.

O Poesia no Bar é um projeto que começou em Pelotas, envolvendo autores da cidade que freqüentemente organizavam eventos literários com distribuições de poesias de autores locais. Com esta extensão a cidades vizinhas, o Poesia no Bar aumenta a sua proposta de intercâmbio artístico com a base que o sustenta: a literatura.

Autores de Pelotas confirmados:
-Ediane Oliveira
-Valder Valeirão
- Alvaro Barcellos
- Daniel Moreira
- Jorge Braga


terça-feira, 6 de março de 2012

Gabriel García Marquez faz hoje 85 anos

.


O mundo literário celebra hoje os 85 anos de Gabriel García Marquez, nascido em 6 de março de 1927 em Aracataca, Colômbia. O escritor, distinguido com o Nobel da Literatura em 1982, comemora também os 60 anos do seu primeiro conto, "A Terceira Resignação", os 45 anos do aclamado romance "Cem Anos de Solidão" e os dez anos de haver começado a publicar as suas memórias autobiográficas, "Viver Para Contar". (Expresso)

"A idade não é a realidade salva no mundo físico.

A essência de um ser humano resiste ao passar do tempo.

As nossas vidas são eternas...
Pensa no amor como um estado de graça.
Não é um meio para nada, mas sim o Alfa e o Ômega. 

Um fim em si mesmo." [Garcia Marquez]