terça-feira, 29 de novembro de 2011

Marca-página Poesia no Bar

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Amanhã (30) tem mais uma edição do Cult Festival.
E o Projeto Poesia no Bar estará presente mais uma vez.

O público receberá um marca-página, responsável por circular com textos de autores da cidade. O de minha autoria, dessa vez, veio com o "Melindramento":


Arte: Valder Valeirão

Peace go with you

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sábado, 26 de novembro de 2011

25 de Novembro: NÃO à violência contra a mulher

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25 de novembro. 1960. Ditadura violenta de Rafael Leonidas Trujillo na República Dominicana efervescendo sangue e autoritarismo. Uma das mais ardentes ditaduras da América Latina assassina, covardemente, três mulheres militantes que lutavam por seus direitos: Pátria, Minerva e Maria Tereza Mirabal (as irmãs Las Mariposas).

Vinte anos depois, o Primeiro Encontro Feminista Latino-Americano e Caribenho, realizado em Bogotá, na Colômbia, traz a data do assassinato das Las Mariposas como o Dia Latino-Americano e Caribenho de Luta contra a violência à mulher.

Em 1999, a Assembléia geral da ONU declara a data como o Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, justa homenagem ao acontecimento de Pátria, Miverva e Maria Tereza.
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25 de novembro de 2011. Mais um dia comum ao meu redor. Mas aqui dentro, devo dizer que, mais uma vez, reflexões maiores emergem em minha mente sobre a posição da mulher na sociedade. Já faz algum tempo que acompanho a mobilização – principalmente virtual – forte e articulada – no ativismo pelo fim da violência contra a mulher. Naturalmente, e por diversos motivos óbvios, fiz entrevistas com as organizadoras no ano passado, participei da blogagem e divulguei a iniciativa. Não foi preciso muito para ver que o crescimento, por si só, tomou uma força ainda maior, não apenas nas redes, mas principalmente, nos espaços de discussões e encaminhamentos que, com o passar do tempo, têm-se tomado um avanço relevante.

Hoje, blogagens, fóruns e uma série de manifestações individuais ou coletivas, sociais ou artisticas, declaram repúdio à violência contra mulher. Minha posição é simples, lógica e um tanto previsível: datas simbólicas devem existir como incentivo a uma luta constante e fortificada nos nossos dias, ainda que os focos na data sejam, sem dúvida, representações importantes para chacoalhar alguns temas necessários e muitas vezes esquecidos. E é por isso que me sinto a vontade e ao mesmo tempo na responsabilidade de exercer meu papel aqui em minha página pessoal, de não apenas como mulher, mas como cidadã.

Fui presenteada, propositalmente hoje, com o livro “Mulheres”, de Eduardo Galeano. Não bastasse a minha satisfação em receber o singelo gesto, foi uma surpresa também: é a segunda vez que ganho o mesmo livro. Coincidência? Não acredito tanto nela. Em menos de 5 meses, recebi duas vezes a mesma obra. E não é para menos que, ao folhear as páginas, a cada verso, palavra e descrição, me perpetuo em tantas linhas como bálsamo para algumas dores.

Páginas aliviantes.

Galeano é enfático, generoso e penetrante: de cara, enxerga a sensibilidade de morcegos causando risos em homens guerreiros; ressalta o riso como dádiva tão forte que se torna insuportável para fracos. E humaniza e fortifica, por fim, ainda mais o sexo feminino: “Os guerreiros resolveram que o riso fosse usado somente pelas mulheres e crianças”.

Ele ‘desconstrói’ forças e enxerga a natureza feminina não apenas como o eros envolvente e poderoso, mas lembra a sintonia materna com a terra e a natural semelhança do solo com a essência feminina: “Onde elas tinham ficado sentadas, ficou a terra toda regada de dentes”.

Mistura a natureza selvagem com a humana, de um lagarto que outrora via carne humana como sustento, hoje sente dor, paixão e sonha pela primeira vez na vida com uma mulher: “Sou um mendigo do amor, e com voz quebrada e alarmante tendência à rima, sussurra homenagens de agonia à dama que lhe roubou a calma e a alma”.

É fiel a sensações incapazes: “Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora, mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta”.

De forma poética, em cada página, relata a história de diferentes biótipos e personalidades no mistério do mundo feminino, ao longo da história da humanidade. Relembra seus casos, inventa outros. Todos, com intensidade.

Folheio mais uma vez as páginas já lidas em pouco tempo, com aquela sensação de primeira vez. E, como num lapso, me teletransporto à composição que recebo da amiga Janete Flores. Dura como a realidade:

Essa é uma noite qualquer,
como outra qualquer para aquela mulher
E pra tantas que passam na mesma aflição
e pra aquela que reza atrás do portão
é mais um dia qualquer...
como tantos ...qualquer!
Como tantos... E faça o que fizer
reze o que rezar
o motivo é sempre tão banal...
é todo dia sempre igual... seja útil, ou natal,
tudo é mesmo tão banal...
natural...normal... igual!
Total, banal, fatal!
E o silêncio mostra a cara tão valente
E o silêncio nessa terra é estridente...
total! banal... comum... fugaz...
fatal... tão assim... tanto faz...
logo a Ana... logo a Rita ...
logo sara... bem na cara...
logo inflama, reza a filha...
berra e cala ...
logo aninha, ..logo paira,
logo gela... logo vela...
nada fala... na capela...
mais um ano...muda o santo... e pede ela...
primavera, logo sara...
logo a Rita, logo a Vanda...
logo a Rosa e a Marina...
logo ela... logo a quem?
Logo a Rosa, logo a Vera
logo cala, logo gela...
logo o que...Qual o que?...
Logo a Penha!

Trocando freneticamente os canais após um dia cansativo de trabalho, no noticiário sensacionalista, encontro um jornalista performático esbravando palavrões a um violento homem possessivo que espancou a mulher por ciúme (?!). Mais violência. E é claro que não é só física. O dia 25 é outro qualquer como tantos outros para aquele casal. Aqueles tantos. Como em uma noite que cuidei do meu pai no hospital e presenciei, com meus olhos calmos e assustados, a cena de mulher ensangüentada, marido covarde e policial. Todos no Ponto que grita Socorro, em busca de medicação, avaliação, alívio e justiça. Tudo de volta a mente.

Tento voltar para Galeano, que entre contos e versos imaginários, é também real, e repito, penetrante.

Tento voltar. Tento... Volto e encontro: “Para que o amor seja natural e limpo, como a água que bebemos, haverá de ser livre e compartilhado. (...) Sem uma nova moral, sem uma mudança radical na vida cotidiana, não haverá emancipação plena.”

Meu peito estufado. Respiração desce com suspiro longo e calmo.

Já está tarde. E os olhos ficam um pouco embaçados. Talvez seja cedo, ou tarde – dependendo da perspectiva - para fazer alguns raciocínios ainda que lógicos. Preciso dormir. O livro vai para a cabeceira mais uma vez. Amanhã, hoje, é 26. Noticiários, hospitais, poesia, ativismo, realidade. Tudo outra vez. Mas a força... se sente mais forte.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Raízes e Coração: um disco temático

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As mãos que hoje estão livres, que soam inconfundivelmente o pampa, são as mesmas que há séculos foram retiradas de seus chãos em algum lugar de uma África, e que construíram, regados a suor e sangue as grandezas e a história que nunca lhes pertenceram. Histórias de dor e amor fazem parte do disco gravado ao vivo por
Dudu Freda, contando cenas nascidas na África com desenrolar em Pelotas, nos tempos das Charqueadas e nos dias atuais

Delicadeza, elegância e atitude. Palavras que talvez consigam descrever parte da gravação do CD/DVD “Raízes e Coração” do trabalho solo de Dudu Freda. Não foi somente uma musicalidade carregada de influências afro, em uma temática própria da boa música – o que por si só, já é um grande avanço. E também não foi apenas uma boa formação de banda com a união no palco de diferentes músicos – todos com destaque na cena pelotense. Mas, acima de tudo, foram gritos que gemem contra um passado sangrento e escravizado, de uma história vergonhosa do Rio Grande do Sul. História por tantas vezes escondida, abafada, como se não refletisse na dor de muitos ainda nos dias de hoje. Os gritos em forma de cantos e batidas, não apenas gemiam, mas traziam conforto, através de contos de um amor que nasceu na África e atravessou o Oceano para inspirar uma nova história.

Na noite de 16 de novembro, no Bar João Gilberto, o músico e compositor Dudu Freda materializou um trabalho que colecionou durante anos, pesquisando a história dos pampas na perspectiva da cultura negra, buscando trazer a tona a chibata e o sangue, mas também tambores, beleza, amor, ritos, liberdades e forças.

De acordo com Freda, o disco temático não apenas retrata a cidade de Pelotas, mas faz menção ao País, com características do passado somadas a contemporaneidade. Partindo através da arte, o disco busca não esquecer de uma luta que ainda é viva, mas que pode, com misturas de realidade e imaginário, construir um novo momento para a cidade: “Fui o elo das energias que chegaram até mim sobre histórias do negro e do amor, apenas fui o instrumento”, disse o compositor.

Com participações especiais dos músicos Aluisio Rockemback (acordeon), Daniel Zanotelli (sax), Edu da Matta (gaita) e o rapper Zullu, Dudu Freda e sua banda presentearam os participantes com um disco que, sem dúvida, mostrará Pelotas de uma forma mais verdadeira e humana.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Beija-me em cada acorde

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Beija-me com beijos de vinho
Beijos de água
De lírio
E suspiros
Que ouço
Teus beijos
E sinto sons
Nossos
De gana, medo e falta.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

domingo, 20 de novembro de 2011

20 de novembro

Dia da Consciência Negra

Que esse dia seja frutificado no decorrer de outros dias de conscientização de uma história marcada por um passado sangrento, mas guerreiro de toda e qualquer luta. Ainda nos dias de hoje.

Salve a negritude que é linda em sua essência, linda em sua beleza,
linda em sua força!




Encontrei minhas origens
Em velhos arquivos
Livros

Encontrei
Em malditos objetos
Troncos e grilhetas

Encontrei minhas origens
No leste
No mar em imundos tumbeiros

Encontrei
Em doces palavras
Cantos

Encontrei minhas origens
Na cor de minha pele
Nos lanhos de minha alma

Em mim
Em minha gente escura
Em meus heróis altivos

Encontrei
Encontrei-as, enfim
Me encontrei.

[Oliveira Silveira, o poeta que, em 1971, declarou o 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, como o Dia da Consciência Negra]

sábado, 19 de novembro de 2011

Mais um Sarau

Dessa vez, libertário!


Com realização do Teatro do Chapéu Azul, a noite contará com os autores Alvaro Barcellos, Aline Maciel, Ediane Oliveira, Marcelo Ferreira e Rogério Nascente. Na música, haverá apresentação da AntiOrquestra RZZZ. Já a Confraria do Xadrez reúne enxadristas para jogadas regadas a muita poesia e música.

O primeiro Sarau Libertário aconteceu durante a Edição de Lançamento do Festival de Inverno de Pelotas. O evento reúne literatura, música e xadrez e é aberto a participação de todos os interessados. A entrada é franca.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Forte como água

São poços de petróleo
A luz negra dos teus olhos.

Lágrimas negras saem, caem, dói.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Do olhar ausente, inefável

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vertem cachos em cachoeira
que se perdem em labirintos
de um caminho inevitável.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Mídia reforça o racismo no Brasil

Dennis de Oliveira, membro do Núcleo de Pesquisas e Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro da USP, falou com a jornalista Marilú Cabañas da Rede Brasil Atual sobre o tratamento desigual entre brancos e negros na mídia brasileira e norte-americana.




quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Nosso sol

há de ser nosso.

Foto: Quadrado

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O que move...

é o movimento.

domingo, 6 de novembro de 2011

Anybody hear my cry?

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Can anybody out there hear our cries?

sábado, 5 de novembro de 2011

Fernando Morais palestra hoje em Pelotas

Com organização do IMA e da BPP, o autor do mais recente livro "Os últimos soldados da guerra fria" é o convidado para o Conversa sobre Livros



Autor de biografias e de obras do estilo livro-reportagem – A Ilha , Olga e Chatô, o Rei do Brasil, entre outras – que já venderam mais de dois milhões de exemplares , Fernando Morais é o convidado especial da edição do próximo dia cinco de novembro do CONVERSA SOBRE LIVROS.

No salão nobre da BPP, a partir das 18 horas, o autor participa de mesa redonda, conversa com o público e apresenta o recém lançado OS ÚLTIMOS SOLDADOS DA GUERRA FRIA ( Cia da Letras, 2011) , obra centrada na história dos agentes infiltrados por Cuba , na década de 90 , em organizações de extrema direita nos Estados Unidos. Entrada franca, como em todos eventos da Bibliotheca. A presença do autor no Conversa sobre Livros resulta de uma parceria da BPP com o IMA ( Instituto Mário Alves), com a colaboração dos parceiros institucionais IF-SUL , Unipampa e Sesc-RS.

OS ÚLTIMOS SOLDADOS DA GUERRA FRIA
No início da década de 1990, Cuba criou a Rede Vespa, um grupo de doze homens e duas mulheres que se infiltrou nos Estados Unidos e cujo objetivo era espionar alguns dos 47 grupos anticastristas sediados na Flórida. O motivo dessa operação temerária era colher informações com o intuito de evitar ataques terroristas ao território cubano. De fato, algumas dessas organizações ditas “humanitárias” se dedicavam a atividades como jogar pragas nas lavouras cubanas, interferir nas transmissões da torre de controle do aeroporto de Havana e, quando Cuba se voltou para o turismo, depois do colapso da União Soviética, sequestrar aviões que transportavam turistas, executar atentados a bomba em seus melhores hotéis e até disparar rajadas de metralhadoras contra navios de passageiros em suas águas territoriais e contra turistas estrangeiros em suas praias.

Em cinco anos, foram 127 ataques terroristas, sem contar as invasões constantes do espaço aéreo cubano para lançar panfletos que, entre outras coisas, proclamavam: “A colheita de cana-de-açúcar está para começar. A safra deste ano deve ser destruída. [...] Povo cubano: exortamos cada um de vocês a destruir as moendas das usinas de açúcar”. Em trinta ocasiões, Havana formalizou protestos contra Washington pela invasão de seu espaço aéreo por aviões vindos dos Estados Unidos - sem nenhum efeito. Enquanto isso, em entrevistas, líderes anticastristas na Flórida diziam explicitamente: “A opinião pública internacional precisa saber que é mais seguro fazer turismo na Bósnia-Herzegovina do que em Cuba”.

Os últimos soldados da Guerra Fria narra a incrível aventura dos espiões cubanos em território americano e revela os tentáculos de uma rede terrorista com sede na Flórida e ramificações na América Central, e que conta com o apoio tácito nos Estados Unidos de membros do Poder Legislativo e com certa complacência do Executivo e do Judiciário. Ao escrever uma história cheia de peripécias dignas dos melhores romances de espionagem, Fernando Morais mostra mais uma vez como se faz jornalismo de primeira qualidade, com rigor investigativo e sofisticados recursos literários. (Cia das Letras)

Entrevista do autor sobre o livro:

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Chama e Fumo

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Amor – chama, e, depois, fumaça…
Medita no que vais fazer:
O fumo vem, a chama passa…

Gozo cruel, ventura escassa,
Dono do meu e do teu ser,
Amor – chama, e, depois, fumaça…

Tanto ele queima! e, por desgraça,
Queimado o que melhor houver,
O fumo vem, a chama passa…

Paixão puríssima ou devassa,
Triste ou feliz, pena ou prazer,
Amor – chama, e, depois, fumaça…

A cada par que a aurora enlaça,
Como é pungente o entardecer!
O fumo vem, a chama passa…

Antes, todo ele é gosto e graça.
Amor, fogueira linda a arder
Amor – chama, e, depois, fumaça…

Porquanto, mal se satisfaça,
(Como te poderei dizer?…)
O fumo vem, a chama passa…

A chama queima… O fumo embaça.
Tão triste que é! Mas… tem de ser…
Amor?… – chama, e, depois, fumaça:
O fumo vem, a chama passa.

[Manuel Bandeira]