segunda-feira, 7 de março de 2011

Lia de Itamaracá



Eu sou Lia da beira do mar

Morena queimada do sal e do sol
Da Ilha de Itamaracá
[Ciranda de Lia - Paulinho da Viola]

Seu nome é Maria Madalena Correia do Nascimento. Ela canta, compõe e dança. Sua reconhecida identidade por “Lia de Itamaracá” é cantada em versos de Lenine, Otto e Nação Zumbi. Aquela música popular “Esta ciranda quem me deu foi Lia/ que mora na ilha de Itamaracá” lembra sua representação. E não é para menos que ela já ganhou composição de Capiba, um dos maiores compositores que o País já teve: "Minha ciranda não é minha só / é de todos nós / a melodia principal quem guia é a primeira voz / pra se dançar ciranda".

O histórico é grande. Lia de Itamaracá nasceu em 1944 na Ilha do litoral de Pernambuco, que dá nome a sua identidade artística. É considerada a mais famosa cirandeira do Brasil.

Em 1977 gravou seu primeiro disco, o LP "A Rainha da Ciranda". Mas não enveredou pela vida artística e continuou trabalhando como merendeira em uma escola de sua cidade. Na década de 90 foi redescoberta pelo produtor Beto Hees, que a levou para participar do festival Abril Pro Rock em 1998, onde, a partir daí, começou a ter um grande reconhecimento pela música folclórica do Brasil, tendo maiores destaques no Nordeste e também no exterior.

O jornal The New York Times a chamou de 'diva da música negra'. O francês Le Parisien comparou sua voz à da cabo-verdiana Cesária Évora. No Brasil, críticos de música comparam-na à Clementina de Jesus.

Com repertório que inclui coco de raiz e loas de maracatu, a música de Lia, dotada de muita percussão, tem a essência de rodas de ciranda.

LIA NA RÁDIOCOM

Tive o prazer de conhecer Lia pessoalmente em uma das tardes da RádioCom, em julho do ano passado. Ela se apresentou em Pelotas, dentro da programação do SESC – Cultura por toda parte.

Confesso que, em meio a um dia corrido, com 4 entrevistas, sendo que uma delas era com o candidato à presidência da República, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), em período de eleições [sim! Tudo no mesmo dia!], eu estava um tanto despreparada para a presença de Lia no programa. Digo isso porque reconheço sua forte importância para a arte do nosso rico cultural País e, hoje, conhecendo um pouco mais de seu trabalho, sinto vontade de voltar no tempo e perguntá-la algumas coisas que agora tenho curiosidade. Mas isso não é problema. “Fica pra uma próxima”.

- A Lia tá vindo pra cá, - me disse o Glênio [amigo e produtor na RádioCom].
- Que Lia?
-A Lia de Itamaracá.

Ok Ok, a vida de um jornalista tem dessas coisas, no trabalho. Aquela bendita caixinha de surpresas que a gente não sabe o que virá a cada dia. E é um frenesi interessantíssimo!

Mas o fato é que ter estado com Lia, ainda que por pouco tempo, foi um grande aprendizado sobre simplicidade. Lia é uma lenda viva. E muito bem viva. Esbanja saúde física e tranqüilidade interior. Sua presença espelha arte, daquelas que carregam consigo histórias curiosas e extraordinárias.

Sua reciprocidade é excêntrica e boa, sem pré programação e previsão (estou acostumada com artistas que fazem roteiros antes de entrevistas!). Ela canta no meio da conversa, num momento em que eu, naquele vício involuntário-pragmático de apresentação, resolvo falar alguma coisa. Páro, é claro - gosto de ser surpreendida assim. A ouço cantar. Me sinto bem.

Ela diz que se “sente em paz”, diante da pergunta que Glênio (grande amigo que teve importante participação na conversa) faz sobre a composição popular de Teca Calazans, ser ou não para ela. Suas respostas são curtas, bonitas e simples. Seu olhar, ora triste, ora introspectivo, expressa uma trajetória constrangedora de desafios ultrapassados não apenas em sua própria Ilha de Itamaracá, mas na ilha de sua vida, sua música, seu verso, sua ciranda.

No áudio, participação no programa Navegando RádioCom, no dia 29/07/2010.
Na conversa: Glênio Ríssio, Ediane Oliveira, Lia e seu produtor Beto Hess.



Beto Hess, Ediane, Glênio e Lia de Itamaracá.

4 comentários:

Jun disse...

é lindo ve-la descrevendo seus momentos dessa forma. Parabens, Saudade sua...(L) B-JO!

Richard Serraria disse...

Belas palavras, salve a ciranda, roda de samba e roda do dia a dia, vida impregnada de amor à arte de quem Lia e de quem escreveria: poesia em 3 línguas, "It AMAR acá". Grande abraço!

Ediane Oliveira disse...

Obrigada, Richard. :) e que jogo bonito nas 3 línguas: It AMAR acá!

Aleksander Aguilar disse...

wow, excelente ideia, Richard. Ao melhor estilo Arnaldo Antunes. Parabéns! Alias, Di, amanha vou ir justo até lá, conhecer esse tao instigante lugar.xx