sexta-feira, 11 de março de 2011

Gondim - Deus nos livre de um Brasil evangélico

Para aqueles que - assim como eu -
gritam, ardentemente, que cristianismo é completamente oposto
à religiosidade escravista e retrógada que vergonhosamente
tem crescido e se mostrado em nossos dias.
.

Quando afirmo que o sonho (deles) é que impere o movimento evangélico, não me refiro ao cristianismo, mas a esse subgrupo do cristianismo e do protestantismo conhecido como Movimento Evangélico. E a esse movimento não interessa que haja um veloz crescimento entre católicos ou que ortodoxos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar “crente”, com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).

Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa ideia de como seria desastroso se acontecesse essa tal levedação radical do Brasil.

Imagino uma Genebra brasileira e tremo. Sei de grupos que anseiam por um puritanismo moreno. Mas, como os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria Gadu? Não gosto de pensar no destino de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Será que prevaleceriam as paupérrimas poesias do cancioneiro gospel? As rádios tocariam sem parar “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”?

Uma história minimamente parecida com a dos puritanos provocaria, certamente, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem, entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de Andrade?

Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse o alucinado Charles Darwin. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos e Derridá nunca teria uma tradução para o português.

Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, pesquisados como desajustados para ganharem o rótulo de loucos, pederastas, hereges.

Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. O futebol morreria. Todos seriam proibidos de ir ao estádio ou de ligar a televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada, de várzea aconteceria quando?

Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político prevaleceu; basta uma espiada no histórico de Suas Excelências nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para saber que isso aconteceria.

Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade não passa de cópia malfeita da cultura do Norte. Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica e viria a criar uma elite religiosa, os ungidos, mais perversa que a dos aiatolás iranianos.

Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me flagro a perguntar: Como seria uma emissora liderada por eles? Adianto a resposta: insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.

Prefiro, sem pestanejar, textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo Ribeiro, do Jorge Amado a qualquer livro da série “Deixados para Trás” ou do Max Lucado.

Toda a teocracia se tornará totalitária, toda a tentativa de homogeneizar a cultura, obscurantista e todo o esforço de higienizar os costumes, moralista.

O projeto cristão visa preparar para a vida. Cristo não pretendeu anular os costumes dos povos não-judeus. Daí ele dizer que a fé de um centurião adorador de ídolos era singular; e entre seus criteriosos pares ninguém tinha uma espiritualidade digna de elogio como aquele soldado que cuidou do escravo.

Levar a boa notícia não significa exportar uma cultura, criar um dialeto, forçar uma ética. Evangelizar é anunciar que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, encenar, praticar a justiça e criar meios de solidariedade;
Deus não é rival da liberdade humana, mas seu maior incentivador.

Portanto, Deus nos livre de um Brasil evangélico.

5 comentários:

Anônimo disse...

excelente!

Juliano disse...

admiro tuas posiçoes diante disso tudo, és diferenciada de mtos (que tem fé) q a gente ve aí e q "correm atras da manada"

BJO

Anônimo disse...

Deus me livre de um Brasil formulado pelas idéias dos homens.
Quero ele formulado nas ideias de Cristo.
Cultura, musica..
Porcaria.
Quer viver como se Cristo naõ existisse,
quer amar as coisas desse mundo, ama.
Mas nao influencie teus irmãos a isso.

Ediane Oliveira disse...

Prezado Anônimo,

É uma grande pena que não tenhas te identificado, pois valorizo pessoas que possuam personalidade o bastante para defenderem suas ideias e seus argumentos, assinando com o verdadeiro nome.

Mesmo assim, não deixarei de te responder, pois percebo tua "preocupação" com o tema publicado aqui no meu blog, escrito por Ricardo Gondim.

Em primeiro lugar, um País formulado pelas ideias de Cristo é absolutamente necessário e seria muito importante no contexto em que vivemos, pois Cristo ensinou o amor, o perdão, a solidariedade e a compaixão. Sabe pq o mundo NÃO ESTÁ FORMULADO pelas ideias de Cristo? pq infelizmente a Igreja, que deveria fazer o seu papel, não está fazendo. E quanto a isso, a crítica é a MIM e a ti, a todos que se dizem cristãos.

Auto criticar a realidade das igrejas que está sendo pregada hj, não é rebelião, tampouco esquecer dos princípios, é se atentar aos problemas que NÓS MESMOS - COMO CRISTÃOS - criamos e fechamos nossos olhos, tendo o discurso clichê de "Quero um País com as ideias de Cristo". Se queremos um País com as ideias cristãs, devemos fazer nossa parte, fazendo a diferença "nesse mundo", ao invés de dizer que cultura e música é porcaria. Existem coisas muito importantes a serem feitas DO EVANGELHO, que deixamos de lado pelos ‘nossos achismos’ formulados POR NÓS MESMOS.

Deveriamos nos arrepender desse egocentrismo e arrogância que temos na nossa lingua. Deveriamos ser CRISTÃOS o bastante para reconhecermos que NÃO TEMOS FEITO NOSSO PAPEL DE AMOR AO PRÓXIMO.

Eu vivo como se Cristo existisse e justamente por isso, não deixo de questionar minha própria posição como cristã.

Não vou me calar em viver por trás de xavões evangeliquês numa realidade em que a igreja está pobre e se esconde nos preconceitos FORMULADOS PELAS IDEIAS DOS HOMENS.

Dizer esse tipo de coisa é realmente ter a cabeça nas ideias "humanas" e não no verdadeiro evangelho.

Natã Madeira disse...

Assino embaixo e ainda, só pra reforçar:

Não vou me calar em viver por trás de xavões evangeliquês numa realidade em que a igreja está pobre e se esconde nos preconceitos FORMULADOS PELAS IDEIAS DOS HOMENS.

Jesus Rock's.