segunda-feira, 27 de junho de 2011

Dois de Alvaro Barcellos

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Insônias


Perturba meu sono
todo esse silêncio
todo esse momento
todo esse vazio
que chega e me assalta
alta madrugada
onde eu me exponho:
solidão e frio.

Perturba meu sono
essa imensa sede
tão insaciável
tão sede de tudo.

E me põe aflito
e tonto e indefeso
tão sem reação
tão débil, tão mudo.

Perturba meu sono
essa tua ausência
tão longa e perversa
tão indiferente

que eu sempre pergunto
sempre sem resposta:
por que não me vens
em viagem urgente?

Perturba meu sono
Boitatá no pátio.
As plantas descobrem
quando acordo tarde:

não abro as janelas
pra enchê-las de luz...
fantasmas me assolam
quando a noite arde.

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Sentido

Recolho aqui e acolá
pedaços, nacos, fragmentos
do que um dia fomos.
É um ofício que requer paciência.
Procuro juntá-los,
criar nexos, elos,
montar as peças.
É uma arte, e requer cuidados.
Apanho as partes,
viro-as do avesso,
troco-as de lado e lugar.
Tento entender seus mistérios.
Tiro conclusões:
ora acerto, ora erro,
relevo, volto atrás.
Talvez tudo seja tão mais simples.
Persigo pegadas,
pesquiso, mergulho,
repouso e torno a trilhar.
Somos nós na seiva da história.
Respiro fundo,
recobro a calma
e removo o pó dos tempos
na sede milenar
de um sentido pro viver.

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