terça-feira, 19 de abril de 2011

Democratizar a cultura não é nosso interesse, diz vice-presidente da MPAA


Greg Frazier
, vice-presidente executivo da Associação Cinematográfica dos EUA (MPAA, na sigla em inglês), visitou São Paulo e Brasília na última semana para pressionar autoridades locais por maior atenção no combate à pirataria.

Um assunto que, sem dúvida, nos leva para uma pilha de prós e contras, inquietações e controvérsias. Mas não há de se ter apenas a intenção de colocar na balança e analisar como peças pragmáticas de um tema específico.

Existe uma indústria fortemente comercial que circula pelo mundo e tem, por tempos, atingido também o Brasil, onde, a partir das formas de lidar com o processo da cultura, se encontram altos índices de desigualdade entre artistas, gravadoras, consumidores e a população em geral.

O compartilhamento de informações a partir de uma visão mais social, ampliada e acessível às diferentes camadas da sociedade, atenta a um debate econômico e humanístico, a partir do momento em que se enxerga a arte como também construtora do engajamento social e oportunizadora a um extenso país com fortes vertentes artísticas. Olhar o processo com olhos mais sensíveis traz a importância que o acesso à cultura pode tornar a vida mais simples. E pode produzir um sistema mais igualitário.

Representando os maiores estúdios do planeta, a vinda do vice-presidente Frazier rendeu encontros com políticos e equipes dos ministérios da Cultura e da Justiça. Em entrevista à imprensa, o executivo norte-americano comentou a reforma dos direitos autorais no Brasil e explicou que a democratização do acesso à cultura não está na agenda da associação.

Abaixo, algumas partes que separei da entrevista de Frazier com o jornalista Diógenes Muniz:

- Qual é sua avaliação sobre a lei de direitos autorais brasileira?
(...) Há algumas coisas que podem ser melhoradas, e surgiram propostas [de flexibilização dos direitos autorais] no ano passado que soaram problemáticas para nós, mas o governo brasileiro parece ter voltado atrás e decidiu olhar a questão com mais calma.

- Temos muitos defensores brasileiros do Creative Commons, sistema de licenças que torna mais flexível o uso de obras artísticas. O sr. acha que esses movimentos ajudam a democratizar a cultura?
Bem, não tenho certeza. Eles [defensores do Creative Commons] nem sempre concordam com o que pregamos. E você está falando em democratizar a cultura, isso não está entre os nossos interesses. Realmente não é a minha seara.

- O que o sr. acha que um país como o Brasil, onde apenas 44% dos domicílios têm acesso à rede de esgoto, deve fazer para convencer seus cidadãos a pagarem por direitos autorais?
(...) Não é ar puro, água limpa. É entretenimento!
As sociedades convivem entre si porque se respeitam mutuamente, respeitam o que as pessoas fazem, não roubam uma das outras. Mesmo que você batalhe para colocar comida no prato, é imoral roubar.

Leia a entrevista na íntegra, aqui.
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Do outro lado ou o nosso mundo paralelo:


COMPARTILHAR MÚSICA NÃO AFETA RENDA DE ARTISTAS, INDICA ESTUDO

Marcelo Branco, colaborador do Radar Econômico, analisa os rumos da cadeia produtiva da música e recomenda, entre outros estudos, o “Creative Destruction and Copyright Protection”, da “London School of Economics and Political Science”.

Segundo Branco, o recente estudo da ‘London School of Economics‘ comprova, mais uma vez, que compartilhar músicas pela internet não está afetando o rendimento dos autores e esta nova prática social não é inimiga dos criadores. Segundo o estudo, a condução negativa do debate proposto pela indústria fonográfica e pelas arrecadadoras e a forma de proteção inadequada da propriedade intelectual nos tempos de Internet, é o que tem causado danos à indústria criativa da música.

"Outra falácia é que a prática social de baixarmos músicas pela internet vai deixar os autores sem alternativas de rendimento e sem estímulo para criar. Isso também não é verdade. A grande maioria dos artistas vive de apresentações ao vivo, dos seus shows. Nada mais estimulante. Quanto mais uma música é difundida pela internet e o artista é conhecido, mais shows e mais ingressos são vendidos. Em 2009, no Reino Unido, por exemplo, as receitas por shows ao vivo ultrapassaram, pela primeira vez, o volume arrecadado por vendas de discos. A venda de discos movimentou 1,36 bilhão de libras, e os shows movimentaram 1,54 bilhão de libras.

Toda essa discussão está muito atual no Brasil em função da proposta de reforma da lei do direito autoral e do novo discurso do Ministério da Cultura que, pelo que parece, embarcou na canoa furada das gravadoras e das entidades arrecadadoras.”

Leia na integra aqui.
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FESTIVAL INTERNACIONAL DE MÚSICA LIVRE

Mais uma vez um debate que tem total ligação com os eixos do #FIMLivre, fórum que vai acontecer junto ao Fórum Social Mundial 2012 em Porto Alegre/RS, com a pretensão de não apenas expressar uma grande mostra de diversos gêneros, como um espaço inédito de criação, produção e circulação da produção da cultura livre, como discutir e encontrar caminhos para uma igualdade maior da arte.

Participe do fórum, aqui.

2 comentários:

Álvaro Cruz disse...

Pertinente e muito bem contextualizado. Parabéns, grande Ediane!

Richard Serraria disse...

Obrigado pelo esclarecimento ao coletivo. Gracias!