quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Canção

O peso do mundo

é o amor.

Sob o fardo

da solidão,

sob o fardo

da insatisfação


o peso

o peso que carregamos

é o amor.


Quem poderia negá-lo?

Em sonhos

nos toca

o corpo,

em pensamentos

constrói

um milagre,

na imaginação

aflige-se

até tornar-se

humano –


sai para fora do coração

ardendo de pureza –

pois o fardo da vida

é o amor,

mas nós carregamos o peso

cansados

e assim temos que descansar

nos braços do amor

finalmente

temos que descansar nos braços

do amor


Nenhum descanso

sem amor,

nenhum sono

sem sonhos

de amor –

quer esteja eu louco ou frio,

obcecado por anjos

ou por máquinas,

o último desejo

é o amor

– não pode ser amargo

não pode ser negado

não pode ser comido

quando negado:


o peso é demasiado


– deve dar-se

sem nada de volta

assim como o pensamento

é dado

na solidão

em toda a excelência

do seu excesso.


Os corpos quentes

brilham juntos

na escuridão,

a mão se move

para o centro

da carne,

a pele treme

na felicidade

e a alma sobe

feliz até o olho –


sim, sim

é isso que

eu queria,

eu sempre quis,

eu sempre quis

voltar

ao corpo

em que nasci.

Uivo - Allen Ginsberg - Pág. 63

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Cinema e Música: A encruzilhada – Crossroads

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Blues e mais blues numa noite azul
Numa tarde blues
Triste

Cada vez mais blues
Pus no blues

Tudo o que supus
Páro por aqui
Senão vai vazar pus deste meu blues.



Dirigido em 1986 por Walter Hill, Crossroads possui uma brilhante trilha sonora produzida e interpretada pelo guitarrista Ry Cooder. Revigorante para quem é apaixonado por música.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Castras

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beijo, medo, ingratidão, peso, flor
fuga, elo, eros, agressão, minha dor
força, pele, plano, silêncio
a tua marca é um incêndio

despedida, enlaço, frenético, cordão
azul, saudade, o verbo e o chão

calma, pisa, rediz, amassa o passado
meu coração, um órgão despedaçado

não vens, não dizes, não és
não julgas, não fazes, não morres,
em ti um poço de mares
de tudo, do mais e mais nada de mim

tão tua que me deixei
tão o resto todo e além
tão nada, tão verbo sem sentido
tão sentido aqui dentro
tão jorrado em meu peito
tão laço sem síncope
tão beijo sem boca

tão boca sem palavra.

domingo, 25 de setembro de 2011

Flores de plástico e frutas de cera nas mãos

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Furo no bolso e, no pulso, um relógio falsie
Dente careado, mas hálito de hortelã
Viva o pancake que faz de duas faces maçãs
Tão arrumado
Sepulcro caiado
Esperando um tonto pra te ver.

Quem é você?

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Corpo de água

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[Foto: Carlos Alves]

Vens do extremo entre oceanos
Próximos a desertos sem ti.
Praga entre as espécies és considerada
Mas tens mirra em tuas pétalas
Rastros castos de um sul distante e negro
E cheiro verde da mata
Que encontra a primavera.

Espécie humana e invasora te descrevem
E és tão simples quanto tuas cores
Tão leve quanto tua insipidez
Tão vazia de deserto
Quanto vazio é o deserto

És água como o oceano.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Muxima

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Na lingua africana kimbundu, Muxima significa Coração.

sábado, 17 de setembro de 2011

B.B. King: 86 anos

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Aniversariante do dia (16) e merecedor de muitos parabéns pela boa música que sempre fez.

Thanks B.B.!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Canto de baixo

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Em cada galho perdido nesse chão
Junto teus pedaços
Como encontros caídos de árvore
Que outrora assistiram pássaros

E hoje sentem cheiros de um mundo
Vazio desmoronado
Gritando canções tristes que cortam
E sangram medo encarcerado

E o movimento cinza do cair da noite
Lança o olhar queixoso e oprimido
Que passa por essas folhas secas
Que seguro e quebro uma a uma
Despedaçadas como tempestade em ninho

E sinto frio.

E por cada pedra que esbarro
Pequena, leve ou não
Cato o som do que não vivi
E atiro pra longe do chão.

Mas pedras não são pássaros.

E cada passo que dou
Embalsa aquilo que gelou
E lança de novo tua sede
E me traz de novo tua força
Como cura da minha ferida aberta
Como pós de areia
Que entrelaçam o acorde de um violão

E me entregam de novo a mim
E se perdem de novo em mim
E me lançam de novo por fim

Musicando o poema que não sai
Exprimindo o dia que não vem
Consumindo na alma o que não foi dito
Aclamando no peito o que não foi feito

Por sentir saudade.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Amor em flor

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Me Pétala com calma
Me Girassol
E mira minha Íris
Com palavras que gemem.

Sente-me Gloriosa pelo simples
Toca-me tua Gravata de alma
Que te gravo como Jacinto
Teus beijos
Amarilis ainda mais
Quando beijam-me de repente

E sem medo – contra o tempo
Em sons e imagens de um chão Rosa
Com minha boca florescendo na tua
Sensível como Alpinea Vermelha
Numa tarde Blue.

E distante do deserto da Boca de Leão
Próximo aos belos Copos de Leite africanos
Como Cravo no pensamento tua pele
Em forma de Estatícia com aroma
De lavanda do mar

No tropicalismo de uma Estrelícia
Que me arrebata quente a ti
E me derrete em Frésia
Como um dia de frenesi
Do nosso encontro
Que arde.

Mas trago Gardênia como gratidão
Rego Lírio nos olhos que sentem vento
E te faço provocações Narciso
Me enlaçando suavemente como Tango
Simples como Tulipas de lembranças
Que me levam de volta ao campo.

Noite inteira no antigo Cine Capitólio: 4 anos fechado

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Na noite de sábado, o antigo Cine Capitólio servirá para o que sempre deveria existir:

exibir cinema


Os estudantes do PET do Centro de Artes da UFPEL, em parceria com professores e alunos dos cursos de Cinema, estão organizando uma sessão de cinema no mezanino do Cine Capitólio em Pelotas. Convertido em estacionamento, o antigo cinema conserva em seu andar superior uma sala de projeção que está sendo revitalizada pelo grupo especialmente para a exibição.

O Noitão de cinema é um projeto de extensão em formato de evento. O objetivo principal é a preservação da memória dos cinemas de calçada da cidade de Pelotas. A programação consistirá na exibição de três filmes durante a noite do sábado, dia 10 de setembro. A ideia, além da revitalização do espaço, é mostrar filmes que não entram ou têm pouco espaço nas janelas do circuito tradicional. A sessão é aberta à comunidade mediante inscrição que se esgotou no primeiro dia de venda.



Como surgiu a ideia:

No mês de agosto, um grupo formado por estudantes, técnico-administrativos e professores da UFPEL e outros colaboradores iniciou o trabalho de revitalização da sala que conta com o apoio dos atuais proprietários do prédio. Foi realizada a limpeza das poltronas e dos corredores, assim como a organização do foyer. Até a exibição, com o apoio da UFPEL, serão obtidos os sistemas de som e de projeção para a exibição dos filmes, assim como a dinâmica do foyer, que irá contar com um quiosque para a venda de café e salgados. Além disso, os espectadores que ficarem até o final da exibição receberão um mini café da manhã.

O formato do evento tem inspiração no Noitão Belas Artes, promovido pelo antigo Cine Belas Artes da cidade de São Paulo, que fechou as portas em meados de março deste ano. Até seu fechamento o cinema promovia noites de exibição aos cinéfilos organizadas mensalmente. A sessão promovida pelos professores e estudantes da UFPEL será a primeira desde o fechamento do Cine Capitólio ocorrido em 2007.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Xavante: um século de independência

Clube forja a própria história na base do grito


(...) Um clube bem brasileiro que segue lutando, gritando, e que chega aos 100 anos reconhecendo no próprio hino a igualdade e a pluralidade do povo que lhe segue, cantando ‘as tuas cores são nosso sangue, nossa raça’. Brasil, nós este ano já vencemos, somos centenários. Salve o Brasil! [Site oficial]


[Xavantes na fila para o Bra-Pel, domingo passado]

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O esplendor da manhã não se abre com faca

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O olhar singelo e inevitavelmente profundo de Manoel de Barros,

o poeta que inventa com a verdade



[Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim esse atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo.]


Só Dez Por Cento é Mentira traça a (des)biografia da imaginação real do poeta Manoel de Barros. Com riqueza e simplicidade na fotografia, a produção cinematográfica é sensível e profunda no olhar com jogo das palavras. Com os ‘insentidos’, o real e o vão, mostra Manoel na sua humanização das coisas. Na desconstrução do que é humano. No alto azul que desenha brinquedos. No horizonte que vem do chão.

Procurando resignificar as “desimportâncias” biográficas e a personalidade “escalena” de Manoel de Barros, o diretor Pedro Cezar, responsável pelo roteiro e pela narração, pontua o filme com momentos de breves testemunhos ao fundo. Narrado na maior parte das vezes em tom pessoal o filme busca, sobretudo, “uma voz que aproxime-se da simplicidade e da afetividade do personagem.

A produção ganhou diversos prêmios em festivais do Brasil e carrega consigo a poesia instalada, expressa, entoada, fixa e pertubantemente mergulhada na vida do poeta.

As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis
Elas desejam ser olhadas de azul.

sábado, 3 de setembro de 2011

Pai, meu pai.



Pai, é sempre difícil te escrever. Uma carga de sentimento forte e aconchegante me invade.

Quando começo a pensar na tua vida e minha história que é tão selada em ti - tão fruto do teu caminho, me sinto como aquela menina de sempre. Tua guria que com o passar do tempo tem aprendido a usar as asas que em mim cuidaste. E cuidas. E elas voam, pai. Estão voando. Obrigada por dar liberdade a elas.

Parece que foi ontem que comemoramos mais um ano de vida teu. Hoje, para a nossa alegria, estamos de novo ao teu lado nesse 3 de setembro. Eu espero que venham tantos outros dias e anos ao teu ladinho. Independente de espaço físico. Me importa que a presença esteja sempre dentro de mim. Que eu esteja em ti.

E que cada suspirar desses próximos dias, eu possa, ainda mais, respirar com a mesma motivação que tens para viver.

Tu és minha inspiração. Obrigada por me ensinar tanto.

Obrigada por me amar, pai. Obrigada...

Feliz aniversário.