segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Só ar

.
Nos acostumamos a caminhar juntos. Era manhã de inverno. E queríamos um pouco de areia e ar. Senti que gostávamos de fortaleza a maior parte do tempo. E que não importava se o vento nos empurrasse com fúria: desejávamos sentir o chão da nossa terra que nos abria margem a águas.

- Nossas águas são escuras.

- Como tua pele de pétala negra e pura.

Ele derramava melodia quando me olhava. Fundo. Eu me sentia como nota de uma canção que espera o tom. E nos entontecíamos à beira de um horizonte cinza que desejava cores serenas e macias – tal como a pele.

- Vês, não me sinto tão só – suspirei.

- Um dia não estaremos juntos. Te sentirei.

Era mistura de caminho e intrepidez. Calma e evasão. Ternura e lama. Que restitui inrazão entorpecida e instinta. Tive a sensação de que talvez não mais caminharíamos juntos próximos às águas. Mas que o vento nos levaria a algum lugar. E que o tom se transformaria em uma canção de despedida. Que eu ainda ouço.

Nenhum comentário: