domingo, 31 de outubro de 2010

Poema negro

Para iludir minha desgraça, estudo.
Intimamente sei que não me iludo.
Para onde vou (o mundo inteiro o nota)
Nos meus olhares fúnebres, carrego
A indiferença estúpida de um cego
E o ar indolente de um chinês idiota!

A passagem dos séculos me assombra.
Para onde irá correndo minha sombra
Nesse cavalo de eletricidade?!
Caminho, e a mim pergunto, na vertigem:
— Quem sou? Para onde vou? Qual minha origem?
E parece-me um sonho a realidade.

(...)

Dorme a casa. O céu dorme. A árvore dorme.
Eu, somente eu, com a minha dor enorme
Os olhos ensangüento na vigília!
E observo, enquanto o horror me corta a fala,
O aspecto sepulcral da austera sala
E a impassibilidade da mobília.

Meu coração, como um cristal,
Se quebre o termômetro, negue minha febre,
Torne-se gelo o sangue que me abrasa,
E eu me converta na cegonha triste
Que das ruínas duma casa assiste
Ao desmoronamento de outra casa!

Ao terminar este sentido poema
Onde vazei a minha dor suprema
Tenho os olhos em lágrimas imersos...
Rola-me na cabeça o cérebro oco.
Por ventura, meu Deus, estarei louco?!
Daqui por diante não farei mais versos.

[Augusto dos Anjos]

sábado, 30 de outubro de 2010

Mundo Livre


Um dos movimentos que mais me chama a atenção na história da cultura brasileira, é o manguebeat. Surgido em Recife, na década de 90, com a particularidade da música regionalista somada ao maracatu, rock psicodélico, funk e cositas mas.
Um movimento que vai além da música, pois traz na sua conjuntura, um cunho social contestador, produzindo uma nova concepção do movimento cultural no Brasil. Algo no melhor sentido do "fora do eixo".

Dentre diversas bandas que se destacaram, (em breve falarei com mais detalhes e contextualizações sobre o movimento) a partir de Chico Science, não resisto em não falar da visceral Mundo Livre S/A.



São vários os aspectos positivos que encontro na banda. A contestação social. A valorização regional, ainda que não linear, pois vem carregada de diversidades, o que torna o mangue muito interessante. A musicalidade peculiar. E a poesia. Atraente.

Gosto desse lirismo marginal.
Essa ousadia simples nos versos.
Traz "realidade."

Essa música "Meu esquema" é um dos exemplos.


Me conquista.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

My witness, I'm hungry!


Rage Against the Machine, uma das mais influentes bandas da década de 90, tem em sua característica identitária, a diversidade do rock com funk, hip hop, punk e metal.

A banda veio ao Brasil e se apresentou no Festival SWU, em Itu, São Paulo, nesse mês.

Não, não estou pensando em noticiar nada, afinal, estou fora de tempo. E não tenho nada além para descrever, pois, de fato, não estive presente no Festival – ainda que eu curiosamente tenha perguntado cada detalhe para quem assistiu o show ao vivo. Não há o que dizer com propriedade. Só estou aqui para falar que Rage é uma banda que eu respeito, tanto musicalmente, como em sua proposta de busca pela liberdade de expressão.

Com sua representação “polêmica” ao senso comum, eles dedicaram a música "People of the sun" ao MST, organização que esteve representada por diversos integrantes no encontro com a banda no mesmo dia do show. Rage doou parte do cachê recebido ao movimento social e, obviamente, foi ‘cortada misteriosamente’ na edição pela transmissão da Rede Globo quando destacou a valorização inexistente, mas necessária a grupos políticos sociais, que tanto sofrem criminalização por parte de autoridades e pela mídia de massa. Nesse caso, em especial, referiu-se ao MST.

O firmamento da proposta de protesto e mensagens contra a censura e a modelos políticos autoritários é uma forte característica da banda – hoje muito criticada por alguns que questionam seu contrato com uma das mais poderosas gravadoras do mundo: Sony Music; paradoxalmente contra seu próprio discurso antagônico a “grandes acumulações de lucros”- pesem os dois lados, vale o debate.

Mas estou certa de que Rage já conseguiu ultrapassar muitas barreiras do mundo artístico e "meter a boca no trombone" com ações já concluidas no campo social e que devem ser levadas em conta como um avanço.

O show no Brasil expressou um resultado venenoso e empolgante na noite do dia 10 de outubro.

Destaque à segurança e à pressão do vocal de Zack de La Rocha; aos efeitos exitantes da guitarra de Tom Morello; ao som diferenciador do baixo de Tim Commerford e ao peso incansável da bateria de Brad Wilk.


terça-feira, 26 de outubro de 2010

Participo, agora, de um filme...

Uma brincadeira que recebi de um amigo.

E bem... essa distribuição de papéis deveria ser revista.

Enfim...

[Fábio, tu me pagas!]

CLIQUE AQUI para assistir.
É rápido e bem criativo. :)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Que a poesia sobrepuje a mediocridade

Assistimos todos, entre perplexos e enojados, a um funéreo e infame cortejo de temas miúdos, sentimentos nada edificantes e “máfias” ou “bandos” que, humanistas que somos, imaginávamos já estarem ultrapassados, enterrados no lixo do passado, da história.

Mas o ódio não vencerá o amor. O amor – fundamento de todo humanismo – prevalecerá. A nossa poesia sobrepujará essa mediocridade que tenta nos amarrar as pernas, emudecer o grito libertário e atravancar a leveza do nosso caminhar. A luz destruirá as trevas, iluminando assim o sol de um novo mundo. “Brasil, um sonho intenso, um raio vívido /de amor e de esperança à terra desce...”.

E, observe bem, não queremos/desejamos muito. Queremos/desejamos pouco; “apenas” uma sociedade menos desigual. Anote ainda: apenas começamos a “amortizar” essa secular e imensurável dívida social que esse país [paradoxalmente tão injusto, pois extraordinariamente grande, rico e generoso] ainda tem para com parcela significativa do seu povo que ainda vive na pobreza: “Se o penhor dessa igualdade/conseguimos conquistar com braço forte.../ Gigante pela própria natureza/ és belo, és forte/ Impávido colosso/ e o teu futuro espelha essa grandeza...”.

Mas como derrotar, de modo definitivo, essas forças medonhas do mal e do medo que ora nos afligem/atormentam? Esses que se utilizam da infâmia, da maledicência, da manipulação, da torpeza, em suma dos meios mais baixos para ganhar essa eleição – nem que para esse fim se utilizem da fraude, da mentira e do “tapetão”. Sabemos que o que está em jogo é muito mais que uma eleição. “Mas, se ergues da justiça a clava forte/ Verás que um filho teu não foge à luta/ Nem teme, quem te adora,a
Própria morte/ Terra adorada...”.

“Verás que um filho teu não foge à luta”.

Saiamos às ruas. Organizemo-nos em grupos de amigos e/ou familiares; conversemos uns com os outros, e com outros mais nossos concidadãos, que ainda não se aperceberam dessas forças reacionárias e atrasadas que ameaçam matar, ainda no berço, esse nosso novo projeto de país já em curso: uma nação mais justa, humana e solidária, uma nação desenvolvida e diversa como nós, com a nossa cara.

Humanistas de todas as crenças e ideologias, uni-vos! Preguemos o humanismo como fundamento de uma nova sociedade brasileira. Que a poesia sobrepuje a mediocridade.

[N.A. Utilizei-me, ad libitum, de excertos do Hino Nacional como marcadores da cadência semântica da mensagem]


*Seleções minhas do artigo do cronista e poeta
Lula Miranda, publicado originalmente no sítio Carta Maior

sábado, 23 de outubro de 2010

Society

Into the Wild é daqueles filmes que, além da qualidade no roteiro e na direção, possui trilhas equivalentes a sua estética.

Dirigido por Sean Penn, baseado no livro homônimo do jornalista Jon Krakauer, a obra reflete na busca pela liberdade individual, distante do paradigma de uma sociedade intolerante à quebra de posições - ainda que confortáveis - para a construção de sua identidade humana.

Na lista de sua trilha sonora, o filme conta com Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam, na versão de “Society”, escrita por Jerry Hannan.



Confira aqui o trailer do filme.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sexta-feira


Por entre palavras ditas
Noturnos beijos contidos, incompletos
E mesmo com tua intrepidez em cicatrizar meu ímpeto
Te tenho como esconderijo
Em minhas entranhas
E os pesadelos de desejos, sentimentos humanos
Já não sei mais onde estão

Acho que aqui
Espalhados visceralmente pela minha pele.
Reprimidos? Me diz por que eles me insistem
Como amedrontadas perguntas latentes.

Meus olhos e minha tristeza calma
Refletem tuas marcas
Apagadas e sem cor
E queixam tua volta ausente,
Fria, com promessa incerta
E inseguramente remota a mim.

Eu misturo linguagens
Movimentos de sintonias e versos
Fujo às regras invisíveis do lirismo
Concretizo incertezas sem linhas
Me confundo na poética
Na prosa, semiótica
Sem saber de nada
Pra dizer que te sinto.

Olha,
Hoje eu queria ver o infinito
E ainda assim
Junto a ti.

domingo, 17 de outubro de 2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Cartas para Pedro I

Tu irás conhecer o amor



Pe
, ainda não nos conhecemos, mas parece que já imagino teu sorriso, teu rostinho e teu olhar inocente.
Estou ansiosa pela tua vinda. Será a primeira vez que terei, finalmente, um contato forte, com algum bebê próximo. Me sinto orgulhosa disso, pois ainda não fui tia, nem dinda, nem mãe, nem irmã mais velha. Mas agora, em breve, tu estarás chegando. E ainda que eu não seja nenhuma dessas funções que citei, serei tua amiga. Próxima. E isso me basta, Pe. Iremos brincar juntos.

Saiba que tua família é como se fosse a minha. Os amo com intensidade e respeito. Aliás, o amor carrega consigo essas duas questões. Tu irás conhecer e viver o amor, pois ele já está sendo transmitido a ti.

Me sinto feliz em poder fazer parte, ainda que indiretamente, dessa união dos teus pais.
Me sinto tranqüila por saber que tudo está dando certo na véspera da tua vinda ao mundo.

Pe, não se assuste com a vida aqui fora.
Eles irão segurar tua mãozinha. Tu serás acalmado quando chorares. E teus sorrisos serão incentivados a continuarem existindo. Eu tenho certeza.

Eu to aqui, em Pelotas, cidade que teus pais se conheceram.
Mas ó, em breve eu estarei aí. Junto com vocês três: Papai Iza, mamãe Li e tu.

E iremos nos divertir muito.
Vem logo.

Com carinho e felicidade,
Di.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Só.


este silêncio dentro de mim

grita.


Foto: Daiane Santos

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Rosa Tattooada - Uma noite de rock’n roll em Satolep

Com lembrança aos clássicos de mais de duas décadas de história, juntamente com o lançamento do single “Novo estilo” e nostálgico tributo aos Cascavelletes, a consagrada banda Rosa Tattooada, esteve presente na última quarta-feira (6), em Pelotas.

Escolhida pela etapa Pelotas do Good Music Rock Festival - prêmio que aposta em novidades do rock gaúcho-, a banda, após a apresentação de músicos pelotenses classificados, tocou por mais de duas horas com um show irreverente e visceral, digno do rock’n roll.

De acordo com a coordenação estadual do festival, a escolha da Rosa Tattooada como banda oficial do evento, teve total sintonia com a proposta do concurso: “valorizar fortemente o rock de qualidade que tem sido feito no Brasil”.

A banda esteve presente na RádioCom em um papo livre e muito interessante sobre música, no programa Navegando.

Na foto, o produtor da banda: Vini, ao lado de Barea (bateria), Valdi (baixo), Ediane Oliveira, Jacques Maciel (vocal/guitarra) e Juliano Lima.

Foto 1: Maiquel Rezende – Pelotas VIP



segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Enquanto tomo meu café amargo.



Não é fácil não pensar em você.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Deveria ser diferente - Que Igreja é essa?

A eleição presidencial teve todos os lances mesmo de pleito para prefeito dos grotões do interior, não somente no tipo de promessas feitas, mas na baixaria que correu solta na mídia e na globoesfera em termos de ataques pessoais, calúnias morais e demonização religiosa. Esse é um aspecto decepcionante, e indica quão longe o Brasil se encontra ainda de uma democracia consolidada. Tivemos um “reavivamento” da satanização das eleições de 1989 e de 1994, apenas trocando de “diabo” (onde se lia Lula, leia-se: Dilma).

As invencionices mirabolantes no plano moral e no plano religioso indicam a pobreza da ausência de partidos fortes, ideologias nítidas e programas claros e objetivos para o julgamento dos eleitores, que é o que, no fundo, interessa para uma boa gestão da coisa pública, para a afirmação da cidadania e para a promoção do bem-comum.

O mais lastimável foi ver o papelão de muitos evangélicos envolvidos nessas demonstrações de subdesenvolvimento político. As igrejas históricas, retraídas, já foram, no passado recente, submetidas a uma “amnésia compulsória” quanto ao pensamento e a ação desenvolvida no passado em nosso País, com exemplos notáveis de uma minoria discriminada com uma presença significativa.

Muitas dessas igrejas sofreram influência nas últimas décadas do fundamentalismo e a importação da polarização norte-americana. Os pentecostais saíram do gueto e da aversão à política para uma presença desordenada e pragmática, sem uma reflexão teológica adequada, e ainda obstaculados por sua escatologia pessimista, não conseguindo superar o corporativismo clientelista, apanágio generalizado de seus concorrentes neo(pseudo)pentecostais.

Com uma cultura política limitada, muitos evangélicos, de diversas denominações, foram presas fáceis e massa de manobra para políticos espertalhões (e líderes religiosos comprometidos com essa experteza). O resultado, em termos do que circulou, principalmente pela internet, foi vergonhoso. Uma coisa é certa: a comunidade evangélica se apequenou nesse pleito e saiu arranhada em sua imagem e credibilidade.

É hora de saco e cinza, de autocrítica, de arrependimento, de iluminação do pensamento pelo Espírito da Verdade, para que, nas futuras eleições, nosso quantitativo se relacione com o qualitativo, e possamos dar um testemunho maduro, que concorra para o bem da Pátria. E que essas “guerras (nada) santas” sejam apenas uma lamentável página do passado a ser esquecida.

[Por Robinson Cavalcanti, publicado originalmente no PavaBlog]
.

Como qualquer pessoa, tenho minhas razões e minha visão a respeito da realidade em que a igreja se encontra. Não posso - e não vou conviver com quaisquer verdades que sejam estranhas a minha consciência. Escolho lutar contra toda e qualquer alienação para que meu coração não se atrofie. Está doendo.

Estou cansada como cidadã e como representante de um estilo de vida firmado em um cristianismo libertador - totalmente oposto ao que lamentavelmente encontro no discurso e no declínio do entendimento, os quais deveriam expressar e viver transformações dignas de um progresso. Engana-se muito quem pensa no cristianismo como religião. Estou falando de plenitude. De algo totalmente diferente aos dogmas escravistas.

Acontece que tudo se inverteu. Ao menos, em sua grande maioria. O que é uma intensa pena. Mas ainda há chance para aqueles que se posicionam contra o sistema fundado no corporativismo capitalista, tão distante do interior restaurado, limpo e reformista. Tão longe e antagônico ao distanciamento necessário à religiosidade. Impregnada. E crucial.

Minha firmeza está na revolução do amor. Aquela que desafia meu ser a "não buscar apenas os meus interesses, não folgar com a injustiça, mas sim com a verdade"; a não ser apenas como "o metal que soa ou como o sino que tine" e a não me "conformar com este mundo, mas me transformar pela renovação do meu entendimento". Todos os dias. Incansavelmente.

Já está na hora do conservadorismo abrir as comportas para a luz do conhecimento e, se pensar em voltar os seus olhos para a política, que reveja conceitos (se é que eles realmente existem) e lembre de pessoas e influências do mesmo (?) - deveria ser - meio que não envergonharam a sociedade, mas buscaram a paz, acima de tudo. Legado que todo o cidadão deveria ter.

Martin Luther King buscou. Além de se tornar a pessoa mais jovem a receber o Prêmio Nobel da Paz em 1964, levantou-se contra a violência e a desigualdade racial durante grande parte de sua história. De tantos exemplos desinteressantes e dominantes que o Brasil copia dos Estados Unidos - e agora quero me referir ao movimento evangélico, tão influenciado pelas coisas "de fora", vale lembrar e se atentar para King, que não somente se diferenciou dessa onda escandalizadora, como conviveu com os mais diversos povos, tendo a bandeira do "amor" em seus discursos e ações. Ele se destacou por sonhar com um mundo melhor e mais questionador.

Buscou um mundo que fosse protestante no verdadeiro, melhor e despreconceituoso sentido da palavra.



sábado, 2 de outubro de 2010

É proibido não sonhar

Faltando pouco mais de 24 horas para as eleições, o Brasil vive um momento marcante em sua história política e peculiar em seu contexto presidencial.

Nada tão diferente como em outros momentos. Campanhas, debates, fraudes, sensacionalismos, politicagens, planos, estranhamentos, coligações, decepções, questionamentos, alertas, constâncias, respostas, esperança. Nos últimos meses, essas palavras e sentimentos vieram mais à tona e fizeram parte da vivência de cada brasileiro.

Sensações ainda embrulham no coração daqueles que, visceralmente sentem em suas entranhas uma paixão, um desejo, uma vontade de um mundo melhor. Aqueles flashes de bandeiras nas ruas, de movimentos de décadas atrás, rompimentos, dores e de protestos em preto e branco com sangue vermelho. Esqueça a ‘falta de causa’. Estou falando de verdade. De algo que ainda não sei explicar, mas me emociono em sentir. Não venha com realismos tão pessimistas argumentando o contexto atual. Eu percebo o conformismo que partidos - outrora tão representativos de ideais - tornaram-se com o tempo e com as circunstâncias. Também lamento a despoliticagem tão presente em grande parte da nossa gente e estou ciente da alienação gritante e injusta expressa propositalmente nas linhas das palavras de grande parte da mídia que contraria o sentimento reformista. Mas ainda lembro. Ainda sonho. Deixe-me dizer.

De cada detalhe acompanhado nessas últimas eleições, vi o que já esperava. Tentativas esdrúxulas de golpe da ‘famosa imprensa’ representando seus interesses econômicos e políticos. Envergonhei-me com movimentos desesperadores da igreja tentando, a todo custo, satanizar partidos, em detrimentos de outros candidatos. Em um mundo perdido e sedento por paz de Deus, a vi de olhos fechados quanto a isso. Estagnada. Pudera ser diferente. Deveria voltar e finalmente fazer a revolução do amor. Não da guerra. Não assim.

Cansei de apagar, exaustivamente da minha caixa de e-mails, correntes em massa ‘sem pé e sem cabeça’ de mensagens assustadoras e mentirosas. Busquei respostas concretas para a alienação, o regresso e o declínio da opinião pública, em tantos casos que presenciei, li e assisti.
Entristecida, vi que não me encontrava sozinha. Mais aliviada, percebi que ainda existiam pessoas ao meu lado que entendiam meu lamento.

Por esse caminho, encontrei sonhadores. Aqueles que, assim como eu, não viveram tempos políticos verdadeiramente difíceis, mas que não raro, podem ser chamados de esperançosos. Encontrei também os que foram para o exílio, viveram na batalha, perderam muitas coisas, mas ganharam mais vida. Ambos sonhavam. E isso me bastou.

De tanto lamento, algumas coisas me sensibilizaram positivamente nesse período de eleições. Delas destaco depoimentos de um presidente, que, ainda com suas contradições e críticas, me faz ter orgulho em dizer que faço parte da geração que presenciou seu mandato. Luiz Inácio Lula da Silva tem dado diversas declarações, no mínimo, emocionantes e ainda mais polêmicas, nos últimos tempos. Com os nervos à flor da pele, em um momento em que é apedrejado por um lado e respeitado por outro, durante uma de suas últimas entrevistas como Presidente da República, Lula chorou. Chorou por lembrar o antes e o que pôde viver durante esses anos. Chorou por ter sonhado.




Plínio de Arruda Sampaio, com uma trajetória absolutamente impactante na militância política, tem sido visto como o stand-up comedy dos candidatos à Presidência. Tudo isso por comediar seus argumentos e seus apontamentos às políticas de governo, além de ser o único a se diferenciar espontaneamente em seus discursos.
Dentre controvérsias existidas e até mesmo críticas alheias no decorrer de sua postura como candidato, em suas considerações finais no último debate televisivo, Plínio se dirigiu, com emoção e preocupação à juventude brasileira. Um misto de angústia, força e intensidade em sua fala, mostra claramente a sua paixão pelo engajamento do jovem na militância. Coisas que ele também sonhou.