sexta-feira, 6 de novembro de 2009
O que eu sinto...
quando me fraquejam ou quando penso em voltar atrás.
Eu acredito nos meus ideais quando as ilusões parecem bater à porta. Ou quando conheço de perto a dor e a fria tempestade. Ambas querendo cair em mim.
Eu me conheço mais quando confronto a mim mesma. E entendo que sou infinitamente maior do que penso.
Eu sou aquilo que eu sinto.
E o que eu sinto são os meus sonhos.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Apenas
A voz está longe. É apenas voz com emoções alheias, exprimidas para o além, para o longe. Nada parece estar tão ligado como antes ou como nunca esteve.
Ligou as luzes, tentou abrir a janela do quarto para ver se o brilho das estrelas que iluminavam aquela noite fria mostravam luz. Pediu resposta ao coração que incansavelmente se derretia a cada nota. Fechou o vidro, e ainda assim deixou as estrelas perceberem a tristeza diante daquela voz. Fechou os olhos, mas não conseguiu compreender ainda assim.
Precisou abrir os olhos. Tentou escrever poesia simples e calada, mas queria escrever tristeza e melodia. O piano voltava. E a voz suave, tão doce como a inocência de uma criança exclamava paixão involuntária. Exclamava pedidos de intensidade sem nem perceber. Sentiu vontade de fugir e abandonar os sentimentos. Quis pedir ao silêncio mais liberdade. Mas o silêncio não a perdoaria. Ela esquecera o que era perdão. Queria expressar suas exclamações e suas perguntas. Mas o medo foi maior que o rompimento com o silêncio. O medo a impediu de correr para longe e arriscar.
Desligou todas as luzes. Fechou a janela. Não se despediu das estrelas. Mas não tentou fechar seu coração e sua emoção irresistivel ao ouvir aqueles sons suaves que a levavam a tantos lugares.
Enxergou a realidade. Ela acordou do sonho. São apenas sons. E talvez, nada mais do que apenas, sonhos também.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Talvez sempre
Mas hoje quando ouvi o barulho da chuva me pedindo para ler um texto seu, algo me lembrou que seu inconformismo e sua falta de riso me deixam inquieta e passiva aos seus questionamentos. Quando descobri que sinto sua falta, de alguma forma que ele nunca quisera saber, simplesmente por não se importar; quando curiosamente me peguei pensando na sua forma diferente de ver a vida ou quando quis saber se sua alma estava em choro... percebi que esses encontros comigo mesma soaram como decreto de algo que ainda não sei expressar em palavras. Aliás, eis aí o ponto. Ele parece conhecer esse mistério de escrever. Aliás, palavras possuem real sentido e clara concisão? Diferente de mim, ele chega com ousadia e sem pretensão alguma de nada quando escreve. Eu tenho medo, ele não. A ousadia ele não quer ter, mas involuntariamente tem. A despretensão está escrita no amargo e na imparcialidade dos seus olhos. Na dúvida do seu caminhar e na força das suas palavras.
Lembro que uma vez me perguntei se ele gostara de viver. A resposta chegou súbita dentro de mim: “Ele gosta. Apenas é mais sincero consigo mesmo”. Ele é um mistério para mim e acho que para si. Ele diz que não gostaria de terminar com seu próprio segredo. Ele quer ser o que sempre foi, mas ainda não sabe que já se encontrou pela metade. E isso, meu caro, nesse mundo cão já é um passo até metade do céu.
Ele é o avesso do comum. A surpresa em um dia normal. O pensamento inquieto em situações diferentes. Ele se sente triste e só. Sente-se sem vida. Nota que possui ar demais quando sente-se indefeso à respiração natural. Ele é o silencio e a noite. Sente-se preso. Não sabe nem pelo quê. Ele escreve para elas, para ela. Para o mundo. Para si e para ninguém. Quando ele se olha no espelho, deve ver o retrato de seu mundo interior querendo gritar na palidez de seu rosto sem expressão. Ele é um pensador. Um filósofo mesmo que não saiba. Um largado pelas noites viradas em poemas e desabafos metafóricos. Um amante da bebida, das noites em claro, do rock’n roll e também do vento. Ouve a tempestade como poucos e decifra enigmas da chuva que cai do lado de fora. Do lado de dentro.
Então diga-me, menino, qual o verdadeiro sentido da vida e por que estamos aqui? Para onde vão essas palavras soltas escritas para personagens reais e irreais que me afogam em desentendimento e suaves tombos dentro de mim? Eu, uma mera leitora e voluntária participante das tuas dúvidas. Qual é a tua cara e para onde vão esses sentimentos ofuscados pelo mistério do teu olhar? Para onde vão? Tu és um homem valente e um menino indefeso. Tu és a tempestade triste e a carência de melodia. Tu és o mistério calado e gritante. A praia deserta com areia macia. O jardim sem flores. E o amanhã com chuva na janela do meu quarto que me insiste a te ler mais um pouco. E mesmo que não queiras, que tenhas aversão à atenção de um ser normal, mesmo que já não queiras mais ler essas poucas ou muitas linhas sem sentido, aqui está alguém que descobriu a água na rocha. A vida no final do nada. Eu te descobri mesmo nem te conhecendo. Eu ainda nem te conheço, mesmo que em alguns momentos me sejas previsível. Tu és a estranha vontade de se isolar. O auge da detenção. Tu és o amigo que eu quero ter por seres único. A insignificância que faz falta sem eu nem saber porquê.
O poema que eu quero ler. Acho que sempre.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Existem sons lá fora...
Faz frio aqui. As luzes estão acesas e eu já me cansei desse episódio escuro dentro de mim que aos poucos se tornou rotina. O coração cheio, a mente vazia. A quantidade exacerbada de exercícios fadigados, o coração querendo entender ou simplesmente bater e o raciocínio precisando funcionar. Tantas palavras que talvez saiam em vão.
O mundo correndo lá fora. E as mesmas palavras de sempre. Liberdade e silêncio? O que eu sei disso tudo? Hoje já nem tem melodia, mesmo que triste, mesmo que sempre presente. O céu chorou ao me ver. E eu chorei quando vi o que fiz de mim mesma e com o próprio céu que sempre chora por mim.
O quarto está vazio e o que resta são os sons do pensamento ao tentar entender o que foi feito do passado melhor. O que virá amanhã. O quê?
Os cães lá fora latem. E eu já não sei o porquê. Parecem querer ser ouvidos. Mas por quem? E quem há de se importar? Talvez eu seja a única que os ouce daqui, mas também não me importo. Fico igual ao mundo dormente. O mundo está dormindo como anjo e a noite grita lá fora junto com os cães. Esses meus olhos entreabertos soam como ser desatento àquilo que é real.
Há lições a fazer. A cada dia elas crescem como a quantidade de questionamentos e temor dentro de mim. Existe algo do outro lado que eu não sei o que é. Existe algo aqui dentro que eu ainda não descobri. Eu me sinto tão livre aqui, mesmo desconhecendo. Tão presa lá, mesmo não concluindo nada.
Passos misteriosos na rua, frustração aqui dentro. Os passos seguem caminhos. O coração chora pelo ser humano. Como a humanidade é estúpida e como essa minha fragilidade não tolera o descaso. Eu mesma já não tolero minha própria fragilidade.
Existe indiferença. Por que diabos eu ainda tento entender? O pensamento triste diz: "Tu destes espaço!". Eu não quero mais pensar. Amanhã tudo volta ao normal e eu também já não quero mais tentar me adaptar. Que se dane o encanto. E toda "melodia" que eu sempre achei encontrar. Pelo menos agora.
Ao menos nessa noite fria.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Traga de volta o meu coração...
Eu queria falar do surrealismo bom, fitar meus olhos nas minhas obrigações como aprendiz de algo que eu acredito ser relevante. Exercitar os temas vocálicos tão atrasados. Mandar aqueles tantos textos devidos e burocráticos pras minhas fadigadas disciplinas. Fazer qualquer coisa para sentir-me útil. Mas não quero agora e já nem consigo. Permita-me dizer, não nasci para estar aqui. Sempre me disseram isso, e eu também quis acreditar em mim mesma. Hoje eu sei. O mundo é dos espertos e eu nunca aprendi a ser. Não sei se existe fórmula exata para isso, e também nem sei aonde a encontrar. Mas descobri que não ser esperta é bom. Faz-nos mais humanos e frágeis. Quando nos tornamos frágeis, conseguimos ouvir tanto som desconhecido aos ouvidos espertos, egocêntricos e passageiros. E a realidade vem como nua. Sem vestes. E mesmo que talvez impura, vem genuína de verdade.
O silêncio da noite e as tantas letras aqui presentes. Um coração batendo tentando não entender o estado passageiro da vida. Um coração que acredita na eternidade bem mais do que no próprio mundo cativo e desesperado. Um coração que não quer mais o mundo assim. Nunca quis. Coração abatido, mas não desanimado.
Não me mande ir embora agora. O tic tac do relógio alerta as funções do dia que nasce daqui a pouco. E o que me importa se eu já não sei o que poderá vir quando o sol chegar? Ele pode não brilhar, mas hoje eu já não posso pensar no tão desejado estudo sobre a realidade humana e estúpida. Quero coisas mais reais, preciso. Elas vêm como uma tempestade que chega tão de repente no meio do silêncio. Eu preciso de momentos mais simples.
Certa vez alguém desabafou cantando:“Preciso de algo mais puro do que eu. Do que todo mundo". Sei que existe, está aqui dentro, bem pertinho de mim. Mas o mundo LÁ fora, o mundo AQUI fora também está perto AQUI dentro. Ele anda forte como o vento e estúpido como o fogo. Cínico como um gato quando pede comida, avassalador como uma traição. Distante como as estrelas pra quem não acredita nelas. Ele precisa de mim. O que eu estou fazendo?
Traga-me de volta os meus pedaços. E junto a eles, monte meu coração que se quebrou. Traga-o de volta aos meus olhos, pois ele se perdeu; e me faça de novo acreditar no lugar em que vivo. O mundo é carente como a sede que deseja saciar-se. Precisa de compaixão. Ele precisa de profundidade, de eternidade. Eu estou cansada como ele. Cansada do vazio e da perdição, mas eu não me cansarei de acreditar de encontrar a paz que eu conheço. Paz real, eterna e pura. Muito maior do que eu sempre desejei. Aonde estava o meu coração? Encontre-o e leia o que está escrito dentro. Ele sempre quis gritar, sonhou em dizer, mas apenas escreveu. Lá estão as palavras e acredite, mais uma vez a melodia está perto. Tão perto que junto com cada palavra, tornam-se um.
Não há letra sem melodia. Mesmo que aparentemente silenciosa, ela soa como música. Como sintonia. Como harmonia e acordes. Mesmo que triste, mesmo que grite melancolia. Ligue a luz assim que encontrar o coração. Não esqueça de ler a verdade que eu sempre acreditei. Leia pra mim e pra você as coisas reais. Elas estão ali, dentro do coração em pedaços.
sexta-feira, 13 de março de 2009
Olhos fechados que viram
O silêncio indiferente clamou um 'basta'.
A música permanecia tocando com o mesmo brilho, melancolia e paz, mas lá no fundo de sua sensibilidade tudo estava tão distante e próximo. Distante para a sintonia natural e para os sorrisos que saiam tão fáceis, tão livres. E próxima da verdade ou da vontade de não acreditar que sempre esteve certa em suas conclusões abstratas, porém reais.
Depois da clareza impensada, chegaram os remorsos passados, os pedidos para voltar atrás. Mas foram embora, foram passageiros e serviram para lembrá-la de que não é dona de seu próprio tempo. Tempo dela que não é dela. Dela que nunca será. Tempo que tem dono. E ela... é apenas parte do todo que também o tempo se faz presente e participante. É como se ela e o tempo andassem juntos. Ela não pode detê-lo, nem ele ajudá-la. Eles estão no mesmo barco, mas ainda assim o tempo permanece no comando. Ele corre mais do que suas pernas cansadas. Ele voa enquanto ela tenta dar um salto, mas teme. Se os dois cairem na água, provavelmente ele não se afogará. Mas no fundo ele diz e confessa que nem sabe como voltar. Sim, nem o tempo é dono de si mesmo. Mesmo assim ela é inferior ao tempo. E foi inferior à indiferença impensada.
O sofrimento está no apego às coisas do passado. Algumas delas nunca existiram, foram idealizadas e substituídas por sensações e atitudes simultâneas e naturais. Mas o coração procura o que lhe dá prazer. Se o passado foi bonito, a alma vai querer resgatar ou dar continuidade a algo que antes não eram vistos por olhos fechados encantados.
Dessa vez ela não se frustrou com o tempo. O tempo ela tem conhecido, mas o coração alheio é infinitamente mais misterioso que o próprio vento que corre junto com o tempo. É mais malicioso ou incoerente que a tempestade que leva os resquícios de um castelo. É mais tolo que o julgamento sem coesão e mais injusto que o derramar de sangue inocente em guerra.
Ela cansou de explicar, mas o outro coração foi apático, depreciou.
E a indiferença alheia despertou o silêncio. Aquilo que outrora era encantador, tornou-se em perguntas. Apenas perguntas e fechar de olhos. Baixar da cabeça e do som da música que permanecia tocando. Permanecia a melancolia, os olhos fechados, o vento lá fora lembrando que está ao lado do tempo. Permanecia a noite, o silêncio. Virá o futuro inesperado.
Mas a música... mesmo ainda baixa, permanecia tocando lembrando que ainda existem momentos de paz em meio a tanta tempestade.
Aquela música a lembrou que há muito mais valioso, simples, real e duradouro. Aquele som a mostrou que é capaz de ter mais sensibilidade que o próprio coração que a machucou. A melodia lhe trouxe o que aquele coração indiferente não foi capaz de dar, não foi humano o bastante pra soar valorização, ternura, compreensão, prazer, liberdade.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Olhe para todos ao seu redor...
... e veja o que temos feito de nós.
Não temos amado, acima de todas as coisas.
Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos.
Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro.
Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada.
Temos construído catedrais e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas.
Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: 'tens medo.'
Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda.
Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra 'salvação' para não nos envergonharmos de sermos inocentes.
Não temos usado a palavra 'amor' para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de ciúme e de tantos outros contraditórios.
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível.
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada.
Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz.
Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.
E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.
.
Hoje as palavras quiseram expressar o mesmo que esse desabafo de uma das minhas grandes influências, a intensa Clarice Lispector em 'Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres'.
É o último romance dela. Esse livro me trouxe um puro tratamento do mundo feminino a respeito da vida tratando-se da personagem principal porque no geral, eu aprendi um pouco da vida.
Antes de qualquer palavra escrita no texto encontra-se uma vírgula, responsável por eu entender como uma história sem começo concreto, o que, sem dúvidas, me deu grande margem para imaginar inúmeros princípios. Já no final da história, Clarice criativamente termina com dois pontos, trazendo a idéia de continuidade, uma história que não acabou por ali. Essa ousadia de fazer com que o leitor veja o mundo e a vida da personagem Lóri existindo antes do livro e conseqüentemente depois, traz percepções diversas e questionamentos. Mas traz também satisfação por podermos 'escrever o próprio final'.
Clarice sempre me surpreendeu. De “Perto do coração selvagem”, conhecendo um pouco mais em “Água viva”, passando pelo seu clássico “A hora da estrela” e agora, chegando em uma “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”. Percebo claramente seu espírito humanístico em escrever cada história como se fosse de fato, real; seu interessante atrevimento com as palavras; sua sensibilidade com as relações; sua inconformidade com a normalidade e seus extremos com suas oposições: hora ódio, hora amor, hora alegria disfarçada, hora desleal angústia.
Neste romance, não existem 'cerimônias textuais'. Clarice parece não ter a grande preocupação no entendimento literal de suas escritas por parte do leitor, mas no impacto em que sua obra vai causar. Ela escreve com uma liberdade nua e desarmada e isso me fez mergulhar mais a fundo em suas palavras, me permitindo até mesmo conhecer um pouco de seu 'mundo' nos seus próprios textos. Ela escreve com a alma.
Lá existem pedidos de “renda-se” a satisfações misteriosas, “submerja-se” em outros horizontes, “permita-se” um pouco mais. Um romance interessante, com uma compreensão não muito fácil, mas com um riquíssimo jogo de histórias que se unem, tornando o verbo “aprender” algo ainda mais fascinante e necessário do cotidiano.
Mas há algo mais. Todo esse 'clamor' de prazer por aprender algo de útil nessa vida me instiga, me faz querer entender mais o que faço aqui. O que estou fazendo de mim. O que estamos fazendo do nosso próprio universo sem fim.
Muitas vezes nem sabemos o porquê a dor não passa. Somos donos da nossa dor. Construímos nossos sonhos e o nosso 'fechar' de olhos para a nua realidade muitas vezes é capaz de desabar o castelo feito de areia no solo do nosso paraíso humano e imperfeito. Eu quero sonhar o surreal. Eu quero conhecer minha verdade também.
Não temos enxergado o bonde da felicidade passar na frente da porta da nossa casa. Ele parece tão longe, mas está ali, logo depois da entrada do nosso próprio caminho.
É só deixá-lo estacionar.
sábado, 31 de janeiro de 2009
Por água a baixo...
Sonhos levados pela água. Instantes molhados que roubaram vidas
É tanto que nem sei por onde começar. Minhas palavras nunca têm um roteiro inicial. São frases soltas tentando descrever sentimentos.
Quando meu coração perguntou o motivo [ou formalmente o tema] de tudo que poderia sair em forma de escrita, confesso que não soube responder. Sei que momento após momento a grande vontade de escrever se faz presente dentro de mim, é como se eu pudesse desabafar, expressar aquilo que eu mesma não compreendo e assim, ficar mais aliviada e sem medo. Dizem os livros de auto-ajuda [embora eu não os aceite como livros] que é preciso 'colocar para fora' tudo aquilo que sentimos. Ora, minha vontade não é tornar esse espaço virtual num diário desabafante de alguém sensível. Diga-se de passagem que esse meu universo é como um diiamante, algo precioso que eu faço para mim, que eu faço para o mundo, que eu faço para ninguém; para o silêncio talvez que é um vazio entre tanta coisa que abafa e grita aqui dentro. Quero muito mais que um desabafo; quero tentar mostrar uma realidade que talvez muitos não conheçam, talvez nem eu.. mas que anseio em descobrir.
Às vezes sinto falta de 'serenidade' na minha vida em tempos difíceis. Mas é impossível - em alguém como eu, uma pessoa tão intensa- essa sensação ficar de fora. Quando coisas acontecem, é como um peso. E esse peso chega com a força de um vento forte capaz de fazer as folhas das árvores cairem repentinamente, compartilhando o mesmo solo com cada grão de areia espalhado pelo chão.
Eu quero me referir a mais uma incrível, frustrante e triste tragédia que aconteceu na cidade. Pudera... nunca uma tragédia terá antônimos diferentes dos que citei aqui, exceto o 'incrível' que carrega peso de também algo aprazível, mas hoje.. hoje eu preciso falar de dor. Me desculpe silêncio, me desculpe 'caro leitor', me desculpe meu amigo, me desculpe vida, peço desculpas ao meu coração. Mas eu não posso fugir da realidade.
Parece mentira ou é a vinda da verdade a tona, o peso do erro. Minha querida cidade passa por momentos emergenciais. E há quem já tenha ouvido/visto/lido/perturbado/perguntado sobre a grande enchente que ocorreu nessa semana. Não há como fugir. Está no noticiário, na cabeça de muitas pessoas, no coração de famílias que sofreram perdas de seres, na lamentável realidade de outras e no pesar existente dentro de mim.
O temporal teve o poder de acabar com o caminho de muitos, teve o forte desgosto de desabrigar centenas e centenas de famílias. Sonhos por debaixo d' água flutuando em um lugar que ninguém sabe qual. A cidade fez-se rio e como eu gostaria que isso não fosse verdade.
Não sei o que me causou mais transtorno. Se foi o ônibus que caiu na ponte rasgada pela força da água, se foi a criança que caiu do barco quando foi resgatada. Foi levada pelo vigor da chuva, assim como levados os sonhos futuros... E tudo isso misturado à dor da perda de famílias que perderam o 'nada' representando o 'tudo' que tinham. Eu fecho os olhos e lá está a realidade, a verdade que não quer calar. Não me deixe ficar em silêncio, eu não posso e não consigo.
A dor do constrangimento alheio só é menor que a dor da impotência. Não poder fazer nada diante dessa situação tão marcante e triste, [repito, não vejo outra palavra além de tristeza] é como deixar escapar aquela oportunidade que nunca se soube como conseguiu. A verdade é que não há muito o que fazer além de pedir a Deus que olhe para nós. Mas existem sentimentos humanos que em alguns momentos tornam-se em questionamentos misturados em inconformismo com uma política tão mal governada, tão impura e desumana. Não sei a quem culpar por mais uma vez essas águas inundarem meu solo.. aconteceu há alguns anos atrás, aconteceu em Santa Catarina há pouquíssimo tempo, aconteceu aqui comigo, agora. Poderá acontecer de novo... com todos nós.
Eu que cada vez me apaixono mais pela 'política' em suma. Em suma, claro... porque a atual realidade é tão diferente daqueles séculos atrás que eu não existi. Às vezes digo que queria ter nascido em outra época, naquela em que as pessoas de hoje dizem que poderiam acreditar no homem governante antigo. Eu sou tão utópica, mas tão humana. Gostaria de continuar acreditando, é isso que me motiva a ainda acreditar. Acredite, eu ainda acredito. E acho que essa 'pseudoilusão' verdadeira me faz ainda viver, embora tantos a considere como tola e inaceitável em tempo de desordem como esse. Mas nada importa agora. Minhas crenças firmes no sobrenatural e no natural-que-ainda-poderá-a-vir me motivam a querer um mundo melhor. Mas agora, agora o momento é de dor.
Eu falo de políticos conformados em um paraíso individual, mas falo da verdade a tona também. Falo do choro dos céus, da tristeza e do clamor personificados na tempestade. Falo da ira divina como um pedido de 'atenem-se. Eu estou vindo.' A palavra está se cumprindo e aquilo que nem deveria ser 'novidade' para muitos, tornou-se em perguntas sem respostas. O homem destruiu o seu próprio espírito e sua própria vida. O homem destruiu o futuro que foi construído por si mesmo.
Há pouco vi um video capitalista americano criticando a preservação do planeta. Dizia o sábio que qualquer cuidado simplesmente não adiantaria e nem nunca adiantou. O planeta é responsável por si e o homem não tem ligação alguma com isso. Eu tentei entender, mas eu não consegui. Talvez eu seja humana demais para compreender. Ou talvez eu não tenha mesmo o dom de entender pessoas opostas a mim. Então quer dizer que eu não sou responsável pelo lugar onde vivo? Eu não faço parte dele? O que eu estou fazendo aqui? ...
Existem mundos diferentes e várias discussões. A política que carrega consigo a força dos nossos [nossos?] governantes que deveriam [é, deveriam..] prevenir muita coisa humana e possível. A conscientização individual e necessária, a responsabilidade educativa do próprio homem e a obediência, o ouvir e os olhos fitados ao amor poderoso e sobrenatural de um mundo que muitos não conhecem.
A dor é tão grande, invade como um vulcão prestes a estourar.
Não deveria ser novidade. Mas tem sido.
Eis-me aqui. Eu não sei onde estava durante todo esse tempo...
[texto escrito dia 01 de fevereiro]
[fotos: Vaz]
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Força sempre...
Eu não sei se a madrugada começou tão triste ou se o dia amanheceu em lágrimas. Talvez ambas afirmações estejam certas.
O relógio marcava três horas da manhã. O silêncio se tornou indefeso quando a notícia chegou a tantos de forma instantânea. A mim, ela chegou e fixou-se como um selo de questionamento e dor.
"Polícia Rodoviária Federal confirma morte de Claudio Milar e mais dois em acidente com ônibus do time Brasil de Pelotas,
Zagueiro Régis e treinador de goleiros Giovani Guimarães são as outras vítimas.
Três pessoas morreram no acidente envolvendo o ônibus que levava a delegação do Brasil-Pel de volta a Pelotas no fim da noite desta quinta. A informação foi confirmada pelo coordenador de operações da Ecosul (concessionária que administra a rodovia federal), e pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). A PRF divulgou, inclusive, o nome de três mortos: o atacante uruguaio Claudio Milar, ídolo da torcida, o zagueiro Régis e o treinador de goleiros Giovani Guimarães." informou a imprensa.
O dia virado em rotina e novidade tornou-se mais sombrio. Nem a chuva fria que caia do outro lado da janela nesse clima quente de janeiro contribuiu para o momento ficar mais cinza e triste. Não bastavam mais as lembranças das alegrias momentâneas do dia e nem da noite, até então. Tudo ficou tão parado naquele instante em que me deparei com a notícia dessa tragédia marcante.
Tente me entender. Estou falando de fidelidade. Falar de tudo o que o time Brasil de Pelotas representa na cidade como no Rio Grande do Sul [e por que não dizer no Brasil?] é completamente difícil para mim. Falar de Xavante, de torcida com garra e paixão em um momento desses é lembrar de cada história construida durante anos por guerreiros que tinham como meta voar mais alto. A meta ainda permanece. Mas nesse momento, a dor invade em todos.
Sentimentos de dúvida, inconformismo e tentativas de fazer o tempo voltar e começar tudo de novo se fazem presentes dentro de mim. O silêncio soou em gritos que pediam uma falsa verdade. Nada poderia ser mais verdadeiro como o que acabei de ler. Queria que o acontecimento não fosse tão real como o pesar que se encontra em mim.
O som calado melodiava como música triste, embora eu não entendesse aqueles ruídos e buscasse decifrar como um silêncio poderia ressoar. O coração queria escrever, mas chorava. O telefone tocava sempre. As letras precisavam sair.
Como será no dia seguinte? Ter de ser forte e encarar a realidade fazendo o papel de cidadão e imprensa? É necessário divulgar, mas eu quero me calar. Falar de morte, é lidar com vidas, famílias, histórias e caminhos. Falar de morte de jogadores do xavante, é lidar com tudo isso e com uma torcida desesperadamente apaixonada. Mas esse termo 'torcida' carrega consigo ainda uma série de significados fortíssimos dentro do contexto em que vivo. Carrega esperança, expectativa, adrenalina, fidelidade e mais paixão. Carrega choro, carrega ânimo. Ser xavante é suar a camiseta quando se está cansado e mesmo assim continuar achando que sempre valerá a pena. Ser xavante é valorizar o presente, é ser feliz pela história e pelo que motiva a acreditar em um futuro próximo bom. Ser xavante é apesar de tudo, sentir-se feliz.
A história rubro-negra tornou-se mais negra do que rubro hoje. E quando falo isso, apenas quero dizer que ficou mais escura, simbolizando o 'luto'. Ficou mais cinza, mais calada. Impossível não se comover. Difícil não querer ver os ponteiros do relógio correrem na direção contrária para tudo ser diferente. Mas eu não esquecerei os aplausos em que demos hoje naquele estádio repleto de lágrimas e corações em pedaços. Aplausos de valorização e reconhecimento a tudo o que cada um representou e sempre representará dentro da história do time, dentro da história de vidas torcedoras.
Cada lágrima de cada apaixonado, simpatizante ou desconhecido caiu como um sentimento de 'adeus'. As homenagens, as visitas, os inúmeros aplausos de novo me deixaram constrangida com o acontecimento. É como se eu ainda não estivesse conhecido esse mundo tão instantâneo e surpreendente. Ontem o gol do pênalti. Hoje a tragédia. Ontem a vibração com a torcida seguida da entrevista descontraída. Hoje a morte.
O time forte com cores de raça perdeu Claudio Milar, grande ícone e herói futebolístico para todos os que o conheceram. Perdeu o companheirismo e a força de Régis, perdeu Giovani na parte colaboradora técnica. Perdeu três filhos de sua trajetória, mas não perdeu a garra e a esperança.
Avante com todo esquadrão Xavante querido. Eu quero te ver vencer. Seja com lutas, seja com choros. É assim que te fazes querer sempre merecer. Tu tens o teu nome gravado na história, eu ainda serei testemunha de todas tuas vitórias.
sábado, 10 de janeiro de 2009
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
O amor, na visão mais linda
Quando recebi essas 'declarações' de amor, fiquei bastante constrangida. Não pela 'sabedoria' que trazem em suas decorrências, mas pela pureza da forma mais intensa que eu poderia receber. São crianças, os seres mais inocentes do mundo 'tentando' descrever o amor. E conseguiram. O amor carrega consigo uma porção sem tamanho de simplicidade, de verdade e de busca por expressão do que si próprio é em sua essência. Nada melhor do que a personificação da inocência 'falar' sobre ele. É tão difícil falar de amor em um mundo tão diferente e desigual. Tão carente e distante de toda verdade que esse sentimento é.
Aprendo sempre com crianças. Tento sempre entendê-las, mas não consigo. Assim como não consigo entender e descrever o amor. De tão puro, suave, lindo, grandioso, sublime e libertador que é.
Abaixo, as 'declarações'.
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“Amor é quando alguém te magoa, e você, mesmo muito magoado, não grita, porque sabe que isso fere seus sentimentos.” - Mathew, 6 anos.
“Quando minha avó pegou artrite, ela não podia se debruçar para pintar as unhas dos dedos do pé. Meu avô, desde então, pinta as unhas para ela. Mesmo quando ele tem artrite.” - Rebecca, 8 anos.
“Eu sei que minha irmã mais velha me ama porque ela me dá todas as suas roupas velhas e tem que sair para comprar outras.” - Lauren, 4 anos.
“Amor é como uma velhinha e um velhinho que ainda são muito amigos, mesmo se conhecendo há muito tempo.” - Tommy, 6 anos.
“Quando alguém te ama, a forma de falar teu nome é diferente.” - Billy, 4 anos.
“Amor é quando você sai para comer e oferece suas batatinhas fritas sem esperar que a outra pessoa te ofereça as batatinhas dela.” - Chrissy, 6 anos.
“Amor é quando minha mãe faz café para o meu pai e toma um gole antes, para ter certeza de que está do gosto dele.” - Danny, 6 anos.
“Amor é quando alguém está conosco no natal e pára de abrir os presentes para apenas nos escutar.” - Bobby, 5 anos.
“Se você quer aprender a amar melhor, deve começar com alguém que você não gosta." - Nikka 6 anos.
“Quando você fala para alguém algo ruim sobre você mesmo e sente medo que essa pessoa não venha a te amar por causa disso, aí você se surpreende, já que não só continuam te amando, como agora te amam mais ainda.” - Samantha , 7 anos.
“Há dois tipos de amor, o nosso amor e o amor de Deus, mas o amor de Deus une os dois.” - Jenny, 4 anos
“Amor é quando mamãe vê o papai suado e mal cheiroso e ainda fala que ele é mais bonito que o Robert Redford.” - Chris, 8 anos.
“Durante minha apresentação de piano, eu vi meu pai na platéia me acenando e sorrindo. Era a única pessoa fazendo isso e eu não sentia medo.” - Cindy, 8 anos.
“Não deveríamos dizer eu te amo a não ser quando realmente o sintamos. E se sentimos, então deveríamos expressá-lo muitas vezes. As pessoas esquecem de dizê-lo.” - Jessica, 8 anos.
“Amor é se abraçar, amor é se beijar, amor é dizer não.” - Patty, 8 anos.
“Amor é quando seu cachorro lambe sua cara mesmo depois que você o deixa sozinho o dia inteiro.” - Mary Ann, 4 anos.
“Deus poderia ter dito palavras mágicas para que os pregos caíssem do crucifixo, mas ele não disse isso. Isso é amor.” - Max, 5 anos.