sábado, 31 de janeiro de 2009

Por água a baixo...



Sonhos levados pela água. Instantes molhados que roubaram vidas

É tanto que nem sei por onde começar. Minhas palavras nunca têm um roteiro inicial. São frases soltas tentando descrever sentimentos.
Quando meu coração perguntou o motivo [ou formalmente o tema] de tudo que poderia sair em forma de escrita, confesso que não soube responder. Sei que momento após momento a grande vontade de escrever se faz presente dentro de mim, é como se eu pudesse desabafar, expressar aquilo que eu mesma não compreendo e assim, ficar mais aliviada e sem medo. Dizem os livros de auto-ajuda [embora eu não os aceite como livros] que é preciso 'colocar para fora' tudo aquilo que sentimos. Ora, minha vontade não é tornar esse espaço virtual num diário desabafante de alguém sensível. Diga-se de passagem que esse meu universo é como um diiamante, algo precioso que eu faço para mim, que eu faço para o mundo, que eu faço para ninguém; para o silêncio talvez que é um vazio entre tanta coisa que abafa e grita aqui dentro. Quero muito mais que um desabafo; quero tentar mostrar uma realidade que talvez muitos não conheçam, talvez nem eu.. mas que anseio em descobrir.

Às vezes sinto falta de 'serenidade' na minha vida em tempos difíceis. Mas é impossível - em alguém como eu, uma pessoa tão intensa- essa sensação ficar de fora. Quando coisas acontecem, é como um peso. E esse peso chega com a força de um vento forte capaz de fazer as folhas das árvores cairem repentinamente, compartilhando o mesmo solo com cada grão de areia espalhado pelo chão.
Eu quero me referir a mais uma incrível, frustrante e triste tragédia que aconteceu na cidade. Pudera... nunca uma tragédia terá antônimos diferentes dos que citei aqui, exceto o 'incrível' que carrega peso de também algo aprazível, mas hoje.. hoje eu preciso falar de dor. Me desculpe silêncio, me desculpe 'caro leitor', me desculpe meu amigo, me desculpe vida, peço desculpas ao meu coração. Mas eu não posso fugir da realidade.

Parece mentira ou é a vinda da verdade a tona, o peso do erro. Minha querida cidade passa por momentos emergenciais. E há quem já tenha ouvido/visto/lido/perturbado/perguntado sobre a grande enchente que ocorreu nessa semana. Não há como fugir. Está no noticiário, na cabeça de muitas pessoas, no coração de famílias que sofreram perdas de seres, na lamentável realidade de outras e no pesar existente dentro de mim.
O temporal teve o poder de acabar com o caminho de muitos, teve o forte desgosto de desabrigar centenas e centenas de famílias. Sonhos por debaixo d' água flutuando em um lugar que ninguém sabe qual. A cidade fez-se rio e como eu gostaria que isso não fosse verdade.
Não sei o que me causou mais transtorno. Se foi o ônibus que caiu na ponte rasgada pela força da água, se foi a criança que caiu do barco quando foi resgatada. Foi levada pelo vigor da chuva, assim como levados os sonhos futuros... E tudo isso misturado à dor da perda de famílias que perderam o 'nada' representando o 'tudo' que tinham. Eu fecho os olhos e lá está a realidade, a verdade que não quer calar. Não me deixe ficar em silêncio, eu não posso e não consigo.

A dor do constrangimento alheio só é menor que a dor da impotência. Não poder fazer nada diante dessa situação tão marcante e triste, [repito, não vejo outra palavra além de tristeza] é como deixar escapar aquela oportunidade que nunca se soube como conseguiu. A verdade é que não há muito o que fazer além de pedir a Deus que olhe para nós. Mas existem sentimentos humanos que em alguns momentos tornam-se em questionamentos misturados em inconformismo com uma política tão mal governada, tão impura e desumana. Não sei a quem culpar por mais uma vez essas águas inundarem meu solo.. aconteceu há alguns anos atrás, aconteceu em Santa Catarina há pouquíssimo tempo, aconteceu aqui comigo, agora. Poderá acontecer de novo... com todos nós.
Eu que cada vez me apaixono mais pela 'política' em suma. Em suma, claro... porque a atual realidade é tão diferente daqueles séculos atrás que eu não existi. Às vezes digo que queria ter nascido em outra época, naquela em que as pessoas de hoje dizem que poderiam acreditar no homem governante antigo. Eu sou tão utópica, mas tão humana. Gostaria de continuar acreditando, é isso que me motiva a ainda acreditar. Acredite, eu ainda acredito. E acho que essa 'pseudoilusão' verdadeira me faz ainda viver, embora tantos a considere como tola e inaceitável em tempo de desordem como esse. Mas nada importa agora. Minhas crenças firmes no sobrenatural e no natural-que-ainda-poderá-a-vir me motivam a querer um mundo melhor. Mas agora, agora o momento é de dor.
Eu falo de políticos conformados em um paraíso individual, mas falo da verdade a tona também. Falo do choro dos céus, da tristeza e do clamor personificados na tempestade. Falo da ira divina como um pedido de 'atenem-se. Eu estou vindo.' A palavra está se cumprindo e aquilo que nem deveria ser 'novidade' para muitos, tornou-se em perguntas sem respostas. O homem destruiu o seu próprio espírito e sua própria vida. O homem destruiu o futuro que foi construído por si mesmo.

Há pouco vi um video capitalista americano criticando a preservação do planeta. Dizia o sábio que qualquer cuidado simplesmente não adiantaria e nem nunca adiantou. O planeta é responsável por si e o homem não tem ligação alguma com isso. Eu tentei entender, mas eu não consegui. Talvez eu seja humana demais para compreender. Ou talvez eu não tenha mesmo o dom de entender pessoas opostas a mim. Então quer dizer que eu não sou responsável pelo lugar onde vivo? Eu não faço parte dele? O que eu estou fazendo aqui? ...

Existem mundos diferentes e várias discussões. A política que carrega consigo a força dos nossos [nossos?] governantes que deveriam [é, deveriam..] prevenir muita coisa humana e possível. A conscientização individual e necessária, a responsabilidade educativa do próprio homem e a obediência, o ouvir e os olhos fitados ao amor poderoso e sobrenatural de um mundo que muitos não conhecem.

A dor é tão grande, invade como um vulcão prestes a estourar.
Não deveria ser novidade. Mas tem sido.

Eis-me aqui. Eu não sei onde estava durante todo esse tempo...

[texto escrito dia 01 de fevereiro]
[fotos: Vaz]

2 comentários:

Unknown disse...

"Talvez eu seja humana demais para compreender"

Deixa eu corrigir essa frase...Não existe um talvez...
Palavras humanas e sinceras vindas de uma alma incrivelmente doce.
Como tenho prazer em poder te chamar de AMIGA...
Vc é incrível garota...
E ler qualquer coisa que vc escreve faz bem...masmo quando se fala de dor...
Não tem porque pedir desculpa...
Por favor..escreva tudo o que puder...eternize sua existência.
O mundo agradece.
Amoo mesmo, e posso dizer.

felipesfr disse...

bah.. muito bom...
adorei mesmo... verdade... hoje se fala em sua própria felicidade e o egoismos está cada vez mais em vigor. O acontecido revela mesmo sendo algo ruim, que para muitos as mortes foram numeros...
me pergunto se esses numeros fossem pessoa proximas a elas...

"Eis-me aqui. Eu não sei onde estava durante todo esse tempo...'

PERFEITA ESSA FRASE