domingo, 12 de setembro de 2010

Me fiz em mil pedaços



Tão correto e tão bonito
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos.
Sei que às vezes uso
Palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sabes mentir.




Sabes mentir
Hoje eu sei que tu sabes sentir
Um falso amor
Abrigaste em meu coração

Sempre a iludir
Tu falavas com tanto ardor
Dessa paixão
Que dizias sentir

Mas tudo agora acabou
Para mim terminou a ilusão
Hoje esse amor já findou
E afinal para que amar?

Sempre a iludir
Tu beijavas com afeição
Sempre a fingir
Uma falsa emoção
..

Sempre a iludir

Tu beijavas com afeição
Sempre a fingir
Uma falsa emoção.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O amor comeu meu silêncio


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato.
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço.
O amor comeu meus cartões de visita.
O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto, mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão.
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

(Trechos de Os Três Mal-Amados [1943] de João Cabral de Melo Neto)


A LITERATURA DE JOÃO CABRAL


De fato, um artista ‘inconfessável’. Voluntariamente concreto e (inconseqüentemente ou não) impactante e comovente, através de sua precisão e controle libertário das palavras. João Cabral de Melo Neto foi um poeta aquém de preferências literárias ou estereótipos representativos na poesia.

Sua vasta obra, marcada por uma característica ‘não-lírica’, - como ele mesmo costumava descrever,- expressa uma revolução interessante, progressista e madura aos mais importantes caminhos na história literária.

Claramente partidário da busca pelo lado antagônico ao sentimento ornamental, João Cabral é tido como o único poeta da geração de 45 que influencia a grande geração posterior, pertencida à vanguarda concretista brasileira das décadas de 50 e 60.

Sua estética, altamente aflorada dá sentimento a objetos, coisas, materiais.
Sua concisão fechada na construção de palavra sobre palavra, paradoxalmente traz envolvimento e intensidade. E sua sensibilidade crua, causa emoção, proximidade e subjetivos desentendimentos do poder que a poesia pode manifestar.
João Cabral de Melo Neto foi o “poeta que não chorou”, mas que incitou lágrimas. Indiscutivelmente.


Sua obra impulsionou a produção de um documentário pela editora Alfaguara. O resultado contou com depoimentos de nomes como Chico Buarque, Ferreira Gullar, Luis Fernando Verissimo, entre outros. Um material interessantíssimo:


Confira a segunda parte do documentário clicando aqui.


domingo, 5 de setembro de 2010

Cores para uma Rússia de séculos atrás

Meu grande respeito por fotografia através de sua riqueza artística, humana e social, me faz buscar cada vez mais manifestações de sua relevância no contexto imaginário.

Recentemente, pesquisei sobre Sergei Mikhailovich Prokudin-Gorskii, fotógrafo russo e um dos ícones referenciais do mundo fotográfico pela interferência do universo ‘das cores’ no antigo, eterno e destacado ‘preto e branco’.

Ainda que meus caprichos me insistam em defender a estética do mundo menos colorido através da fotografia, sem dúvida a pertinência do avanço - que por séculos se deu no campo da imagem,- é absolutamente significante. Nesse contexto, destaco o olhar para trás no tempo em que ainda não era possível existir a fotografia colorida. Entre os anos de 1909 e 1913, Sergei Prokudin-Gorskii produziu um extenso e importante material fotográfico do Império Russo a partir dessa busca por inovações nas cores visuais. Com câmera especializada por capturar três imagens no formato em preto e branco, sua técnica utilizou-se de filtros nas cores verde, azul e vermelho, com a intenção de tornar, mais tarde, uma recombinação projetada com luzes que filtrassem essas cores mais próximas à realidade de cada cena.

Cada fotografia retratada no material, passa a idéia significante de uma imagem projetada como tal. Entretanto, todo o trabalho e esforço para a busca das cores no mundo em que ainda não era evoluido na tecnologia, expressa um caminho evolutivo que transpassa a dúvida da imaginação.

O resultado torna-se um tanto inacreditável através da alta qualidade das imagens, combinadas com tons realçados e aparentemente reais.







sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Pai...

Ao passo da tentativa de aqui declarar parte da profundidade dos sentimentos que firmam meu coração, ouço músicas que me lembram a ti. Sons calmos, ternos e aprazíveis, pois é assim que tua imagem reflete a mim.

Hoje, 3 de setembro, data importante na nossa família e amigos por celebrarmos a tua vida, acordei-me com vontade de te dar um abraço demorado, dizendo baixinho - como quase sempre falo com o senhor -, da alegria que tenho em poder compartilhar meus sonhos e construir aos poucos o caminho da minha vida, através da tua força, pai.

Vou te esperar acordar e pedir licença ao tempo para tomar meu bom chimarrão ao teu lado. A mãe deve estar preparando o teu bolo de chocolate, o Eder já chega de viagem para nos encontrar e o Jimi quer ser assistido brincando de correr atrás da bolinha de sinuca como faz todas as manhãs. Vou te pedir para pegares teu violão e tocar canções perto de mim. Pois é assim que na maioria das vezes me fazes companhia. E essa é uma das maneiras que eu mais gosto de te ver. Vou querer relembrar da infância um pouco distante, a qual não lembro tanta coisa, mas que tão claramente se encontra no meu pensamento parte da nossa forte união. Vou te dizer poucas palavras porque entendes o meu olhar de gratidão e o meu riso sincero e fácil.

Pai, o mundo está perdido, eu sei, mas o senhor me deu a direção. A sua direção. Sem rótulos e sem regras normativas, mas simplesmente o seu espelho de vida e almejo por um mundo mais solidário. O teu amor transformou meus medos em desafios, ainda que as circunstâncias me insistam em regredir, pai.

Hoje, acordei e lembrei das lutas que o senhor lutou pela nossa família. Do grande amor à mãe, a mim e aos guris. Dos jogos dessa vida em que a gente entra em campo e não sabe se vai ganhar. Mas o senhor sempre jogou, pai. Ainda que estivesse longe da bola e mesmo que não soubesse os resultados. O senhor esteve presente nos jogos difíceis. Nem sempre vitoriosos, mas todos com resultados íntegros, acima de tudo.

Hoje eu lembrei dos choros que duraram noites, das perguntas e das surpresas. Lembrei de fases boas e ruins que já, há duas décadas (então... eu cresci!), tive o orgulho de sempre te ter do meu lado. Lembrei que tua compaixão sempre tão constrangedora, me mostrou perdão. Tua sabedoria através do silêncio, me mostrou o sentido do respeito. Tua fé em Deus me mostrou a espiritualidade fortalecedora e pura. Tua paixão pela arte tornou nossa vida mais humana. Os teus ensinos à valorização da simplicidade fizeram de mim uma mulher inocente. A tua eterna menina. E a tua amiga forte e guerreira.

Hoje, pai. Só quero ficar ao teu lado. Um pouco mais.
Feliz aniversário.

Com amor,
Teu Diamante.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Se não fizesse tudo tão depressa...


Qual o sentido da realidade?
Será preciso ficar só pra se viver?
Só pra se viver...