domingo, 11 de dezembro de 2011

Hip Hop em Pelotas: Sobre dias bons e noites ruins

.
No Dia da Consciência Negra, Pelotas recebeu um dos maiores eventos culturais de 2011: Hip Hop Representa. O local trazia a estética de uma velha renovada Pelotas, com suas paredes envelhecidas, na antiga Estação Férrea, - um dos locais onde os negros antigamente nem chegavam.

Palco pronto, periferia no centro, música e palavras durante o dia todo. Pelos lados e cantos, rostos velhos e novos: Jair Brown, Gagui IDV, Banca CNR, Contra Regra, Guerreiros de Mente Aberta. Palco e platéia eram um só.

A noite teve a participação, 'vinda do Planalto Central', de GOG.


Genival Oliveira Gonçalves é percursor do movimento no final dos anos 80, em Brasilia. Com envolvimento em movimentos sociais como o MST e projetos pessoais na área da educação, Gog tem a língua afiada e com seus poemas longos de protesto exprime absurdos sociais, alivia indignações como porta-voz e motiva a entender que o que está diante dos nossos olhos é tão urgente quanto nossa necessidade de viver.

Video – Coletivo Rede:

---

E pese a pauta ‘hip hop’, impossível não lamentar o episódio no mínimo desconfortável que aconteceu ontem (link também AQUI) com a produção do show do Emicida na cidade. Depois de um 20 de novembro em paz, Pelotas desconstrói parte do que vem construindo e intensificando. Sim, 2011 foi um dos anos emblemáticos para o movimento hip hop. Depois de tanta resistência, picuinha, periferia contra periferia e motivações pessoais, finalmente algum avanço se teve neste ano: Discussão da Lei de Incentivo à Semana do movimento, audiências massivas, gravações de discos e clipes, envolvimento com a região sul e eventos unificados.

Como testemunha do crescimento que vi neste último ano, encerro dezembro com um pouco de esmorecimento depois da violência de ontem. E não falo apenas de 'empurra-empurra', tensão e batidas corporais. Falo da ausência de cautela a algo que deveria ser mais sério, considerado e pesado por ambos os lados.

Meu desejo, como pelotense e representante da imprensa cultural é que possamos parar e refletir sobre a história representativa na cidade. A cultura hip hop não deve servir para o enobrecimento pessoal, mercadológico e hipócrita daqueles que se dizem ‘representantes’ de um movimento que nasceu com a motivação de agregar e transformar a realidade.

Para encerrar, esperando um 2012 mais maduro para o movimento cultural, ainda que reconhecendo seu esforço, fico com as palavras de Gagui: “Ou a gente devolve o hip hop pro povo, ou o povo vai abrir mão de lutar pela causa.”

7 comentários:

Anônimo disse...

isso mostra que os hip hopers são uns manes ahsuauaua

Ediane Oliveira disse...

Isso mostra muita coisa, caro "anônimo". Não dá pra generalizar e é necessário, no mínimo, ver os dois lados da moeda. Os dois! Não acho que esse acontecimento tenha sido uma perda total, pelo contrário, acho que, com essa 'descontrução', ele deve servir como força para os próximos que virão. Foi um fato ruim, foi. Mas é uma reflexão interessante para vermos quem responde pelo movimento.. quem é, de fato, representante.. Não vamos esmorecer!

gagui idv disse...

Acredito que antes de tudo é necessário ver o trabalho que o Hip Hop executa em vários lugares do Brasil. E aqui em Pelotas não é diferente, o trabalho de ressocialização, de resgate e de recuperação de jovens em situação de risco é o que fez o Hip Hop sobreviver e se fazer presente até os dias atuais nas periferias. E quando falo em periferias, sei que o Hip Hop há muito tempo já rompeu essa fronteira bairrística, hoje também marcando presença em outras áreas nem tão carentes. Mas prefiro frisar a parte periférica porque ainda acredito em um movimento engajado, comprometido com as causas sociais. Apesar de muitas pessoas da própria cultura Hip Hop acreditarem que só exista a parte cultural, esquecendo-se da necessidade de se fazer o trabalho na base, no seio do problema. Esse ano em Pelotas tivemos muitos avanços, com aprovação da Lei da Semana Municipal do Hip Hop, com inserções em locais antes não frequentados por nossa arte, mas não podemos considerar vitória, levando-se em conta o grande número de homicídios na nossa cidade. Você pode estar se perguntando, qual a relação do Hip Hop com essa violência desenfreada? Toda. De onde veio nossa cultura? De onde vem os artistas que fazem o Hip Hop existir e resistir? Das ruas. E se não houver preocupação com essa criminalidade é sinal de que nosso movimento perdeu mesmo o compromisso com a militância e com a causa social. Não podemos deixar que esse episódio de final de ano, que foi o fato ocorrido com o Emicida em Pelotas venha atrapalhar toda uma história que já existe há muitos anos, para quem não sabe, mais de duas décadas. Lembrando que nem o contratante do show, tampouco o artista são de Pelotas. O nosso azar é que foi no nosso solo todo esse fato lamentável que gerou repercussão negativa em todo o país. Mas em 2012 é trabalhar, botar a mão na massa e fazer com que nossa história seja cada vez mais repleta de conquistas, porque afinal de contas as ruas ainda precisam de nós.

Anônimo disse...

Certo Gagui, porém acho que e necessário uma PROFIOSSIONALIZAÇÃO ai dos meios que produzem arte/cultura aqui em nossa cidade, responsabilidade antesde mais nada, fazer um show é coisa séria, envolve gente pra caramba , envolve uma cadeia chamada economia da cultura que envolve SIM Grana , onde desde os técnicos,empresas de vans, teatros,/casas de shows, postos de gasolina, hotel,restaurantes, pipoqueiros, guardadores de carros,empresas de design, gráficas , coladores de cartazes, etc, TODOS ganham qdo se traz um evento a cidade,o MÚSICO tb tem que ganhar pelo seu trabalho , CLARO que o hip hop cumpre uma função social forte respeitável , e é uma forma de expressão que vem cada vez mais sendo assimilada e difundida, não sei qual negociação o produtor ai fez com o Emicida, mas lamentável expor ele a isso , fazer o cara sair de casa e expor a isso td..complicado, com respeito e admiração que sabes que tenho por ti a mais de 10 anos
Caio Lopes

Anônimo disse...

Entendo que o hip hop tenha seus ideais numa guerrilha de resistência social e cultural , mas sinceramente cara temos de respeitar quem vive de arte, vivo disso com erros e acertos a quase 10 anos aqui em Pelotas e em várias partes do Brasil , e SEMPRE procurei respeitar essa profissão de fé de todos que trabalho, a arte é SIM uma cadeia de trabalho mui grande , cara tu é de verdade eu sei e todos que te conhecem sabem , fica na boa que todos sabem!tamo junto se necessário for.
Caio Lopes

gagui idv disse...

Concordo plenamente contigo Caio. O respeito deve haver sempre. E sei o quanto tu corre pela nossa cultura. Infelizmente trabalhar com arte não somente em Pelotas é uma tarefa complicada. Abração.

Anônimo disse...

Cara trabalhar com arte é uma delicia, uma missão , uma belezura! dificl é sim , mas ser advogado, medico, etc tb é!! bola pra frente mano véio , td vale a pena pois nossa alma não e pequena , segue o baile e os que tropeçam em si mesmo aprendem no caminho , tamo junto !
CAIO LOPES