sábado, 24 de dezembro de 2011

De concreto, tenho a vida

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O silêncio. E o balançar das asas da mariposa que voa freneticamente em meia luz. São silhuetas do meu cenário aqui. É difícil, mas excitante pensar, - diante desse silêncio vazio e estridente, nos rumos de tantos caminhos paradoxos e entrelaçados. Gil Scott Heron geme ao piano que grita e dança ao passo da batida – lenta e penetrante: Looking for a way, out of this confusion. Preciso aumentar o som porque me mira e me leva. E porque os zunidos do inseto me entontam. É isso que me faz companhia aqui.

Lá fora, gotas caem em pleno cansativo dezembro. Não faz muito tempo que saí de perto de sirenes, sangue, gente sentada e deitada – a espera. Toquei suas mãos, beijei seu rosto e encostei-me em seu peito. Ele sorriu. Antes, 192 súbito e de repente. E ainda dizem que o solstício é no dia 21 de dezembro. O meu foi hoje. Em minha esfera, sua declinação demorou mais. Atingiu o maior tempo em latitude, me aqueceu e me insultou durante o longo dia todo. Minha órbita parou e eu vi o cair do meu mundo em instantes pelo reflexo de dor, impotência e desespero. Meu sol se foi, trazendo a escuridão que, através do vidro da janela, me observa agora com calma.

O cenário é o silêncio, o zunido, a gota, o som e o lento levantar da cabeça... de olhos fechados. Sempre consegui entender que o silêncio pode estar no meio do mar barulhento. Talvez esse último solstício do ano me fez viver hoje, - o dia que ainda não acabou como marca e banho de água gelada ou fervente que mostra sentido. E nem tudo faz sentido. Importa a vida que hoje foi colocada à prova. Você vai me dizer: ‘ela é colocada todos os dias.' Viver é um desafio, eu sei. Mas hoje eu sei que meu 2011 foi maior do que meu 2010.

Eu não sei como é perder quem mais amamos. Talvez seja uma espécie de perda de si mesmo e de tanto sonho sonhado junto. Há tanta vida lá fora querendo viver; também sei disso. Mas e quando as lembranças trazem a vivência inigualável e profundamente doce de uma relação mútua e significativa? Não sei, de fato, o que é morte e sei que um dia irei conhecê-la. Temo, mas temi hoje mais do que sempre a partida de quem mais amo. A morte de alguém que é a mesma minha. Não existiu, mas doeu.

E precisei de um abraço como dificilmente tanto busquei. De dentro do carro, um amigo, me disse: “viva, simplesmente”. Tirou parte do meu medo como bálsamo derramado em minha voz presa. E me sorriu com lágrimas falando de suas afeiçoes. Veja só como é a vida! Um dia pechamos copos com batidinhas de brindes! e às vésperas de um natal choramos por medo e incerteza.

Talvez a dor me faça mais forte. Talvez o insulto me faça mais corajosa. Talvez o sol só aqueça e a noite só encante. Talvez o susto lembre que a vida é uma só. Talvez a vida acabe logo ou permaneça. Talvez o brinde chegue agora no natal e todos nós estejamos em casa, juntos mais uma vez.

'Obrigada por ainda estar aqui. Me confortas. E me inspiras.'

E o zunido não pára. Mas o piano canta. De concreto, tenho ainda meu sorriso.

Quero estar perto de tudo. Lembrar do que sinto. Dizer que já fui feliz. E que o sol há de brilhar mais uma vez. Quero ficar ao lado, sentindo as batidas como quando segurei suas mãos e pedi pra ficar mais um pouco. 'Obrigada por ficar.' Quero continuar sendo água. Quero o colo. Rivers of my fathers. E os dias para continuar vivendo. De concreto, ainda tenho a vida e a presença de quem amo.


2 comentários:

Anônimo disse...

Vai dar td certo Di,pq mereces não existe perda e sim ensinamentos..fica com Deus, Caio

Jun disse...

Seu texto me deixou triste, alegre, mta coisa, mas me deixou tb cheio de saudade e orgulho de vc, minha especialissima, meu amor! todos os beijos e força!