sábado, 20 de novembro de 2010

20 de Novembro

“Encontrei minhas origens
Na cor de minha pele
Nos lanhos de minha alma
Em mim
Em minha gente escura
Em meus heróis altivos
Encontrei
Encontrei-as enfim
Me encontrei.”

Oliveira Silveira, o "negro de alma negra", tornou-se um dos mais influentes ativistas do movimento negro da história brasileira. Foi um dos criadores do Grupo Palmares, de Porto Alegre e estudou a data de 20 de Novembro, lançada e implantada no Brasil pelo Grupo , a contar de 1971, tornando-se Dia Nacional da Consciência Negra em 1978, denominação proposta pelo Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial.

Teve constante atuação por meio da militância política e da produção literária negra. Fundou o grupo Semba, a Associação Negra de Cultura e integrou o corpo editorial da revista Tição ( no final dos anos 70). Com presença marcante, participou da produção cultural gaúcha, compôs rodas de intelectuais e formadores de opinião. O pesquisador também escreveu uma dezena de livros e inúmeros poemas acerca da vida dos negros no Rio Grande do Sul e sobre a questão negra de forma geral. Morreu aos 67 anos, em 1º de janeiro de 2009 deixando um legado de luta, identidade e esperança para o movimento negro brasileiro.
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"Considero a luta por justiça social e pela dignidade dos povos
como parte integral da luta por nações mais justas e seguras,
por uma comunidade internacional mais justa e coesa,
e por um futuro de vida humana capaz de sustentar com dignidade nossa população,
nossos ambientes e nosso planeta."

Abdias Nascimento, ao longo de seus 96 anos, esteve presente e participou de inúmeras passagens importantes das lutas negras do século 20, não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos e na África. Sua vida é ela mesma, a própria história da luta negra.

Na entrevista a seguir [publicada pelo Brasil de Fato] respondida por e-mail por sua esposa, Elisa, e subscrita por ele, Abdias dá um recado à nova geração de jovens negros militantes: “O conselho que dou para essa juventude é estudar, aprender, conhecer e se preparar para, então, se engajar: agir, criar, interagir e participar da construção das coisas.”

O senhor esteve no exílio, de 1968 a 1981, por conta da enorme repercussão que teve a sua “carta-declaraçãomanifesto” na qual denunciava a farsa do paraíso racial que se dizia viver na América Latina. Como o senhor avalia a questão da “democracia racial” no Brasil de hoje? Onde é possível dizer que a crítica a ela colheu frutos?
O racismo no Brasil se caracteriza pela covardia. Ele não se assume e, por isso, não tem culpa nem autocrítica. Costumam descrevê-lo como sutil, mas isto é um equívoco. Ele não é nada sutil, pelo contrário, para quem não quer se iludir, ele fica escancarado ao olhar mais casual e superficial. O olhar aprofundado só confirma a primeira impressão: os negros estão mesmo nos patamares inferiores, ocupam a base da pirâmide social e lá sofrem discriminação e rebaixamento de sua autoestima em razão da cor. No topo da riqueza, eles são rechaçados com uma violência que faz doer. Quando não discrimina o negro, a elite dominante o festeja com um paternalismo hipócrita ao passo que apropria e ganha lucros sobre suas criações culturais sem respeitar ou remunerar com dignidade a sua produção. Os estudos aprofundados dos órgãos oficiais e acadêmicos de pesquisa demonstram desigualdades raciais persistentes que acompanham o desenvolvimento econômico ao longo do século 20 e início do 21 com uma fidelidade incrível: à medida que cresce a renda, a educação, o acesso aos bens de consumo, enfim, à medida que aumentam os benefícios econômicos da sociedade em desenvolvimento, a desigualdade racial continua firme.


[Confira a relevante entrevista completa, cedida pelo Desinformémonos ao Brasil de Fato, clicando aqui].


Um comentário:

Rafael disse...

Brilhante texto e entrevista, edi. Esse seu jeito de lidar com sua cultura é invejável, e eu sinto o maior orgulho d vc. Bjo, minha preta. Rafa