Noite Cult - um espaço conhecido por buscar reunir diversas vertentes sintônicas artísticas, mesclando entre música ao vivo, exposições de obras locais, exibições de filmes e performances de dança e teatro.
Com produção cultural do vocalista da Pimenta Buena, Vicente Botti, a edição de agosto contou com uma verdadeira mistura cultural, valorizando a cena independente de Pelotas. Particularmente, dessa vez, a edição foi além das outras. Ainda mais sensível, humana e intimista no que diz respeito à arte. Conseguir reunir com grande intensidade obras diversificadas, espalhadas pelas mãos, olhos, almas e corpos de diversos artistas (ainda que esteja ao fácil alcance – pela riqueza da arte que muito interessa um significante público daqui), não é tão simples quando busca-se fazer disso, algo cuidadosamente bonito em cada detalhe.
Na entrada, recebo uma cartilha com uma poesia explicitando a grandeza das águas que caem das nuvens: “Percebo que a chuva não provém apenas da exalação das águas dos lagos/ mares ou rios... /mas também da evaporação do suor/e das lágrimas dos trabalhadores (...)” escrita pelo artista pelotense Alvaro Barcellos. Cada pessoa que chegava, ganhava um escrito diferente.
Pelas paredes encontro mais palavras... frases soltas e outras lineares, misturadas com obras plásticas, formando uma composição lírica, simples e poética, todas elas assinadas por artistas pelotenses. É a personificação do projeto Poesia no Bar, idealizado por Daniel Moreira da Revista Seja juntamente com Botti. No som ambiente, ouço tango, dos mais conhecidos e pioneiros como Gotan Project a sons que eu nunca sequer tinha ouvido. Fui envolvida na seqüência com música latina ao vivo por um SecretShow que reuniu músicos muito sensíveis da cena popular.
Ainda pelas paredes e pelos cantos, imagens fotográficas em preto e branco expressavam a estética do vazio. Todas fotografadas por Vinícius K., um outro artista pelotense. Imagens que manifestavam o espírito de lugares ‘sós’ da cidade, feitos para serem ocupados, acompanhados. A noção de vazio é absolutamente interessante quando conseguimos visualizá-la, além de senti-la.
No meio da noite, show com uma banda nova na cidade, mas muito peculiar: Meigos, Vulgos & Malvados em uma performance bastante semelhante ao que eu já esperava por toda sua preocupação à qualidade sonora interligada à sua imagem visual -de fato-, no palco.
Após projeções de cinema alternativo, me encontro de olhos fitados a uma elegante sessão de tango, apresentado por um casal de dançarinos da Cia da Dança. Sedutor, convidativo, delicado. Tango é uma das coisas que muito me fascina.
De fato, ainda que o local escolhido (Bar João Gilberto) não tenha deixado a desejar pelo empenho da produção buscar uma decoração generosa ao ponto de soar como aconchego artístico - de acordo com a proposta da noite-, ainda permanece o forte anseio de encontrar um espaço em Pelotas que viva constantemente esse clima digno e necessário na cidade. Lamento lembrar que diversos bares e espaços perderam sua identidade com o passar dos anos, com a inserção de diversos públicos responsáveis por aumentos lucrativos e conseqüentemente, variadas confusões ‘culturais identitárias’.
Entretanto, o Cult Bazar expressou-se como um belo trabalho livre e integrado, honrando um mosaico de atrações e relações artístico-culturais. Uma boa mesclagem entre literatura, música, dança, cinema, artes plásticas e visuais.
A RádioCom apoiou o evento e parte do Núcleo Popular de Jornalismo esteve presente.
Na foto: Ediane Oliveira, Juliano Lima, Vanessa Silveira, Fábio Rosário e Carlos Ávila.
No final, bem no final, a noite se estendeu (ou acabou?) no Espaço Baiúca. Normal, como de praxe. E... bem...
parece que sempre acaba por lá...
Um comentário:
baiuca..grandes tempos!! sempre acaba lá. Parabens ao vicente e vc.. "elegantemente linda" como "de praxe".
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