segunda-feira, 12 de julho de 2010

Única certeza



Sentimentos, lamentos...

e fortes desejos de paz e consolo...
é o que meu coração quer expressar.

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Subitamente angustiante. Uma grande amiga perdeu o pai no último dia 10. Assim. Diretamente como escrevo. A gente não espera preparado. E não buscarei descrever nada aqui. Ainda desconheço essa dor de perda paternal. Tão carne da gente. Tão selado. Tão perto. E eterno. Quando penso que esse sentimente carrega consigo a única certeza que se tem na vida, confesso que fico desapontada. Sensações de temor chegam até mim. Vontade de não pensar. É sangue.

Contudo, faz parte do ciclo. E não existem palavras confortáveis que eu encontre agora. Não sei se elas possuem tanto poder de transformação. A realidade é como o tempo. Nos dá limites para revertê-la.
Mas sinto em dizer algo banal, mas tão necessário: Que venhamos durante a vida valorizar ardentemente cada momento com quem amamos. E quando não mais tivermos essa possibilidade, que lembremos do que foi bom. Sempre.

Em forma de homenagem, repasso as palavras de Samantha Lazzarotto, a partir de sua autorização. Amiga de estudos, trabalho, sabedoria, samba, risos fáceis, carinho e muita dedicação. Tão longe e tão próxima.

E em meio a dor tão forte, escreveu com o coração. E amor.

Em memória à família Lazzarotto...
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Despedida ao Salim

Ontem foi um dos dias mais tristes da minha Vida...

Escutar as histórias dos outros pode nos afetar emocionalmente até certo ponto, mas a dor da perda você só pode senti-la quando vive em primeira pessoa. Tristeza é o desespero do irreversível. Irreversível é a morte. Perdi meu pai. Ele morreu pela madrugada. Madrugadas que ele varou por inúmeras vezes. Pois sempre adorou viver intensamente.

Como dizia Carlos Drummond de Andrade, que morreu logo depois que sua querida filha se foi “Não morremos de morte morrida, mas de vida vivida”. A conjugação pode estar errada, mas os poetas, como se sabe, são livres para “poetar” e o sentido é profundo. Ele abusou demais da sua saúde, tinha medo de injeção e corria as léguas de medico, embora tenha filhas e neta medica.

“Prefiro viver intensamente por menos tempo, do que viver mais e não poder fazer as coisas que mais gosto nessa vida”. Era o seu lema.

Foi a vida que ele levou que o levou embora. Quem ele amou, ele amou sem medidas porque era ávido de amor. Gostava de dividir e doar com quem precisava. Nunca perdeu sua nordestes, suas origens, mesmo tendo adotado o Rio Grande do Sul, como seu segundo estado. Incompreendido, desvairado, autentico, às vezes rude e temperamental, mas era meu pai. Lembro-me das noites que passamos em claro jogando papo regado com muita música e muito vinho. Amava sua inteligência, sua desenvoltura e sei que mesmo tarde aprendi muitas coisas com ele. Como eu queria ter tido o privilegio de te-lo tido por mais tempo, para que ele pudesse desfrutar das minhas conquistas, dos filhos que terei que o amariam como o amo... Aceito essa despedida com mais resignação pois sei que há alguns anos ele já vagava perdido dentro um corpo já cansado, sua consciência e vivacidade já não existiam mais.

Todos nós, que vivemos aqui nesta terra, temos medo de uma notícia destas. Nossa alma fica pequena só de pensar e temos que viver com isso. Quanto mais passa o tempo e eles envelhecem lá do outro lado, pode ter certeza, um dia esta notícia vai chegar. É o curso natural da vida, mas quem disse que é fácil aceitar? A tristeza desta perda não se resume ao passado, é a dor da tristeza pelo futuro que não se terá. Ele não vai mais aos domingos preparar aquele delicioso churrasco que só ele sabia fazer... Ele gostava dos encontros mas não gostava das despedidas. Quem pode gostar? Seu sonho era um dia reunir todos os filhos e netos em volta da sua mesa. Mas espero que nos céus nos reunamos felizes para sempre.

Perder alguém querido é perder-se, porque somos feitos dos outros que nos rodeiam. Pai e mãe é parte de nós. Foi-se um pedaço do peito. Foi-se uma parte de nós, da nossa família. Saudade e tristeza profunda misturadas a uma alegria tão grande de tê-lo no passado…De te-lo tido como meu pai. Sentimentos confusos nesta hora. Ele se foi, e esta doendo. Saber que nunca mais vou abraçá-lo, nunca mais vou ter o prazer de revê-lo me faz sofrer. Saudade para o resto da vida.

Nunca mais vou ouvir suas historias que contava como ninguém, nem vou ouvi-lo declarar o seu amor pelos filhos e principalmente as filhas (eu... sua "Caneca") e que não escutarei mais a sua voz a cantar. Escutar o som de um violão vai me trazer ainda mais saudades do meu pai. Gostava de poesia e de contar tudo que fizera e vivera, seus causos.

A veia artística e a sensibilidade para apreciar as coisas boas da vida, ao modo dele, eu sei, é parte do que ele passou pra mim. O sentimento agora é só saudade e tristeza, misto de um que de orfandade a perda do meu pai. Tristeza é um silencio que grita dentro. Lágrimas incontroláveis é um protesto que a situação seria melhor se fosse outra. Nunca mais dói demais.
A distancia nestas circunstancias é cruel. Aquele telefonema que eu não encontrei o tempo para dizer mais uma vez o quanto eu o amava. Me entristeço pensando o quanto a gente adia pequenas coisas que são realmente importantes da vida, na ilusão de que o tempo “vai dar” para fazer tudo. Não deu para dizer adeus...e esta doendo, muito.

Pai... Descanse em paz e que o Senhor te receba.

Aos meus irmãos, sobrinhos (as), que Deus nos conforte e que vocês aprendam a viver como se hoje fosse o ultimo dia, como o nosso Salim viveu. Lembrem-se dele com carinho, respeito e amor. Pois o que se leva é o amor que suplanta todas as indiferenças e mágoas.

Aos amigos obrigada pelo apoio e carinho, e agradeço as orações a ele ofertadas.

Samantha Lazzarotto

Simplesmente filha.

Um comentário:

Jun disse...

Oq dizer? profundidade todo o tempo. Di, vc c/o passar do tempo surpreende com a grande mulher q é. Alem d tudo, é solidária com perdas alheias. Paz a familia Lazzarotto.