sábado, 31 de julho de 2010
Esse Chico...
Chega de Saudade
Vai minha tristeza
e diz a ela que sem ela não pode ser.
Diz-lhe, numa prece
Que ela regresse porque eu não posso mais sofrer.
Chega de saudade
a realidade é que sem ela não há paz,
não há beleza, é só tristeza
E a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai...
Mas se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca...
Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim.
Não quero mais esse negócio de você longe de mim
Vamos parar com esse negócio de você viver assim.
Composição: Tom e Vinícius
.
Versão com o estonteante Chico Buarque e o grande Edu Lobo.
Pena não ter realmente vivido em épocas como essa...
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Entrevista com Plínio de Arruda Sampaio (ÁUDIO)
2010 é ano de eleições e a RádioCom mais uma vez abre espaço para a democrática circulação do debate e à crítica reflexão da informação. A partir deste contexto, dá voz em parte de sua programação tanto aos candidatos à Presidência da República como representantes ao Governo Estadual. Dentro de uma perspectiva com perguntas fechadas a cada candidato presente, abre-se por último um momento livre para o entrevistado explanar suas considerações finais.
Após contato com todos os partidos, o primeiro candidato a confirmar presença e comparecer na rádiocom foi o representante do PSOL: Plínio de Arruda Sampaio. Fundador do PT e defensor de uma reforma agrária, Plínio foi um dos 100 primeiros políticos a serem caçados pelos militares e viveu 12 anos no exílio. Afastado no ano de 2005 do Partido dos Trabalhadores, filiou-se ao PSOL e hoje já chega aos 60 anos de vida política com 80 anos de idade recém completos.
Com agenda na região Sul do País, Plínio esteve em Pelotas na ultima quinta-feira (29) para divulgação de sua campanha à Presidência. Acompanhado de seu assessor Alexandre Dorneles e alguns representantes de seu partido, o candidato respondeu aos questionamentos da produção sobre suas propostas.
Sua fala baseou-se em sua concentração de candidatura, afirmando a busca por construções sociais qualitativas no plano de governo. Para Plínio, é necessário mudar a ordem estabelecida, pois reflete “uma desordem e se funda na desigualdade”. Com seu projeto de atuação focado na distribuição de renda e na reforma agrária, - a qual, segundo ele, “nunca foi feita em nenhum governo”, - a mudança com sua representação se pautará também pela redução da jornada de trabalho, fazendo com que essa diminuição empregue um número maior de trabalhadores, não alterando o salário. Para a educação, o dinheiro público se firmará no auxílio a escolas públicas e para a saúde, sua dinâmica é a “socialização”, de forma que não se buscará lucro dentro dessa área, segundo o candidato.
Quando perguntado sobre a atual realidade da mídia brasileira frente aos movimentos sociais, Plínio foi enfático: “é a guarda pretoriana da burguesia”, desabafou. Em suas propostas, faz-se necessário um auxílio a mídias alternativas, fazendo com que a democratização da comunicação seja algo presente na atual conjuntura desigual da mídia monopolista. “Apoiar rádios comunitárias que sejam a serviço da comunidade, de várias comunidades. Isso é o que precisa”, exemplificou.
Além de comentar sobre sua passagem em Pelotas e sua admiração pelo Rio Grande do Sul, ele falou dos blocos econômicos na América Latina, dividindo o Brasil para a direita: “Infelizmente o Brasil faz parte”. Paralelo a isso, destacou a resistência à ordem neoliberal em países como Venezuela, Equador e Bolívia, os considerando como “arautos de um novo tempo”. Para Plínio “são paises que o PSOL tem o maior interesse em se aliar.”
Confira na íntegra o áudio da entrevista que aconteceu na tarde de quinta-feira no programa Navegando RádioCom.
Seguindo a agenda dos candidatos à Presidência da República, o próximo encontro na RádioCom é na semana que vem com Dilma Rousseff, representante do PT.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Especial das Seis – Richard Serraria
Com passagens por algumas cidades do País, o músico divulga no mês de julho seu primeiro disco solo “Vila Brasil” na capital baiana Salvador
Professor universitário de literatura e produtor cultural com atuação na cena porto alegrense há mais de 15 anos, Richard Serraria tem transitado pelo Brasil com o lançamento do trabalho que reúne 12 músicas autorais, marcando o encontro da canção do Pampa com a MPB. Seu envolvimento com o popular e ritmos africanos fazem de sua arte muito peculiar no cenário gaúcho.
Richard também faz parte da banda Bataclã FC, responsável por unir sua sonoridade à linguagem das ruas com expressões do universo sul-americano e citações literárias. Seu estilo diverso dialoga entre o rock, samba, funk e hip hop, buscando a liberdade de manifestações ideológicas em suas letras.
Richard também faz parte da banda Bataclã FC, responsável por unir sua sonoridade à linguagem das ruas com expressões do universo sul-americano e citações literárias. Seu estilo diverso dialoga entre o rock, samba, funk e hip hop, buscando a liberdade de manifestações ideológicas em suas letras.
Juntamente com a Bataclã, faz parte do Movimento MPB [Música Para Baixar], fórum que reúne artistas, produtores, ativistas da rede e usuários da música em defesa da liberdade e da diversidade musical, sustentando sua circulação livre em todos os formatos (principalmente na Internet). Fazem parte desse movimento artistas como Leoni, Nei Lisboa e Teatro Mágico.
A defesa da colaboração afrodescendente gaúcha também é uma forte representação do seu envolvimento. A Rede Sopapo, manifesta parte da construção do estado através da história do trabalho, valorizando a contribuição negra num espaço costumeiramente associado à Europa através da imigração italiana e alemã, dentre outras. Inclusive, está sendo gravado um documentário em Pelotas - idealizado pelo músico e alguns parceiros - sobre a representação cultural do sopapo no Rio Grande do Sul. Mas isso é papo para outra hora.
.
Ainda que Richard seja um amigo, conselheiro literário e colaborador da RádioCom, me sinto segura para dizer a quem não conhece seu trabalho: de fato, é bom saber que o Rio Grande do Sul está sendo representado dentro e fora do Brasil de forma mais real e incomum do tradicionalismo que muitas vezes se torna tão oficial e superior, mesmo que este também possua sua representação e valor.
A cara do meu sul é também fortemente crioula, sambista, popular... e agora mais livre.
.
Para conhecer mais de sua ida a Salvador, clique aqui.
Richard Serraria é também comentarista na RádioCom todas as segundas-feiras no programa Navegando RádioCom, às 17h.
A defesa da colaboração afrodescendente gaúcha também é uma forte representação do seu envolvimento. A Rede Sopapo, manifesta parte da construção do estado através da história do trabalho, valorizando a contribuição negra num espaço costumeiramente associado à Europa através da imigração italiana e alemã, dentre outras. Inclusive, está sendo gravado um documentário em Pelotas - idealizado pelo músico e alguns parceiros - sobre a representação cultural do sopapo no Rio Grande do Sul. Mas isso é papo para outra hora.
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Ainda que Richard seja um amigo, conselheiro literário e colaborador da RádioCom, me sinto segura para dizer a quem não conhece seu trabalho: de fato, é bom saber que o Rio Grande do Sul está sendo representado dentro e fora do Brasil de forma mais real e incomum do tradicionalismo que muitas vezes se torna tão oficial e superior, mesmo que este também possua sua representação e valor.
A cara do meu sul é também fortemente crioula, sambista, popular... e agora mais livre.
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Para conhecer mais de sua ida a Salvador, clique aqui.
Richard Serraria é também comentarista na RádioCom todas as segundas-feiras no programa Navegando RádioCom, às 17h.
terça-feira, 27 de julho de 2010
Um pouco de Gondim
Estou vivo, por isso, visto a fantasia de poeta e tento compor meu hino.
O que amo na vida? O imponderável; dançar na beira de abismos; tentar cruzar despenhadeiros em corda bamba; esperar o tiro de canhão na largada da maratona e não saber como vou terminá-la. Adoro desconhecer as notícias que o telefone trará quando se intrometer em meu sono. Como é fascinante sentir um medinho infundado antes de receber os exames do laboratório.
Como é bom poder dizer que cada dia é suficiente em seu próprio mal, e não fugir de acordar a cada alvorada, mesmo sabendo que naquela manhã poderei renascer das cinzas, como naufragar em problemas.
O que amo na vida? Gente. Gosto de admirar a diversidade humana - tanto dos que me rodeiam como de quem nunca verei o rosto, admiro pecadores e santos.
A íris dos olhos é mágica; nela se escondem as intrigantes degradações humanas que se acumularam em milênios de história.
Sou fascinado com personagens depravados que preenchem páginas, capítulos, livros inteiros, e são seus olhos que mais despertam meu interesse. A perversidade humana me intriga porque faz o teatro existencial ser tão dramático; não fossem seus porões macabros, não haveria enredo para Shakespeare, Dante, Eça de Queiroz ou Machado de Assis. Como gosto de escrever, eu, igualmente, preciso deles.
.
Que maravilha, as pupilas. Elas são policromáticas e delas também emanam réstias da pureza que nasce na luz divina. Se os maus são interessantes, devemos aos bons continuarmos vivos.
O que amo na vida? A singeleza das crianças que beijam roçando o nariz duas vezes; o altruísmo de quem oferece a casa para uma prostituta de esquina; o empenho do enfermeiro que faz serão gratuito ao lado do moribundo; a resiliência da mulher que asseia o marido que morre com Alzheimer; a doçura da filha que empurra a cadeira de rodas de sua mãe enquanto as duas passeiam pelo parque.
O que amo na vida? Sua beleza. Gosto de meditar, enquanto peixes coloridos bailam em câmara lenta pelos ribeiros; de ler, ouvindo o tamborilar preguiçoso da chuva fina; de pensar em Deus naquele momento breve em que a noite engole o sol e faz o dia desaparecer; de sentir que não posso me apressar diante de um Van Gogh; de recitar Vinicius em voz alta; de fechar os olhos e deixar que Bach me possua por inteiro.
Adoro textos pungentes. Sou melancólico como a bossa nova do Jobim; sinto-me geneticamente ligado à nostalgia do fado português; prefiro estradas bucólicas, aos jardins do Expressionismo.
[Tributo à Vida - Fotos: minhas, pelos anos de 2008 e 2009.]
O que amo na vida? O imponderável; dançar na beira de abismos; tentar cruzar despenhadeiros em corda bamba; esperar o tiro de canhão na largada da maratona e não saber como vou terminá-la. Adoro desconhecer as notícias que o telefone trará quando se intrometer em meu sono. Como é fascinante sentir um medinho infundado antes de receber os exames do laboratório.
Como é bom poder dizer que cada dia é suficiente em seu próprio mal, e não fugir de acordar a cada alvorada, mesmo sabendo que naquela manhã poderei renascer das cinzas, como naufragar em problemas.
O que amo na vida? Gente. Gosto de admirar a diversidade humana - tanto dos que me rodeiam como de quem nunca verei o rosto, admiro pecadores e santos.
A íris dos olhos é mágica; nela se escondem as intrigantes degradações humanas que se acumularam em milênios de história.
Sou fascinado com personagens depravados que preenchem páginas, capítulos, livros inteiros, e são seus olhos que mais despertam meu interesse. A perversidade humana me intriga porque faz o teatro existencial ser tão dramático; não fossem seus porões macabros, não haveria enredo para Shakespeare, Dante, Eça de Queiroz ou Machado de Assis. Como gosto de escrever, eu, igualmente, preciso deles.
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Que maravilha, as pupilas. Elas são policromáticas e delas também emanam réstias da pureza que nasce na luz divina. Se os maus são interessantes, devemos aos bons continuarmos vivos.
O que amo na vida? A singeleza das crianças que beijam roçando o nariz duas vezes; o altruísmo de quem oferece a casa para uma prostituta de esquina; o empenho do enfermeiro que faz serão gratuito ao lado do moribundo; a resiliência da mulher que asseia o marido que morre com Alzheimer; a doçura da filha que empurra a cadeira de rodas de sua mãe enquanto as duas passeiam pelo parque.
O que amo na vida? Sua beleza. Gosto de meditar, enquanto peixes coloridos bailam em câmara lenta pelos ribeiros; de ler, ouvindo o tamborilar preguiçoso da chuva fina; de pensar em Deus naquele momento breve em que a noite engole o sol e faz o dia desaparecer; de sentir que não posso me apressar diante de um Van Gogh; de recitar Vinicius em voz alta; de fechar os olhos e deixar que Bach me possua por inteiro.
Adoro textos pungentes. Sou melancólico como a bossa nova do Jobim; sinto-me geneticamente ligado à nostalgia do fado português; prefiro estradas bucólicas, aos jardins do Expressionismo.
[Tributo à Vida - Fotos: minhas, pelos anos de 2008 e 2009.]
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Me bate uma saudade...
terça-feira, 20 de julho de 2010
Novo Espaço Arte homenageia Chico Madrid
Obras do conhecido "Fred" na Sociedade Científica Sigmund Freud
Por Fábio Rosário:
Um ano após a morte do colega, sempre jornalista e amigo Frederico Anderson Madrid Francisco, suas fotos são transformadas em tributo pela Sociedade Científica Sigmund Freud. Ela inaugura nesta terça-feira (20), às 20h, o novo Espaço Arte com o nome do artista, que tem na data do dia 20 de julho mais duas homenagens: seu aniversário e o Dia do Amigo.
Chico Madrid, como era conhecido no mundo profissional das lentes, mostrou a essência do lugar chamado de "Fim do Mundo" na cidade Ushuaia -localizada no limite sul da província Terra do Fogo- na Argentina. Se nas fotografias o fotógrafo conseguiu ir muito além; a viagem, uma das últimas do aventureiro, captou em cada imagem o sentido da vida, da emoção e da pura paixão pelo fotojornalismo.
Fred, como é chamado pelos mais próximos - teve um problema de saúde, com o sistema imunológico abalado por fatos anteriores, em poucos dias se transformado em infecção generalizada.
Sua morte foi muito rápida, fulminante. De acorodo com o pai, Bruno Salésio da Silva Francisco, o drama foi como um forte momento doloroso e somente hoje consegue falar sobre o assunto.
A homenagem da Sigmund Freud justo no dia em que completaria 29 anos é sinal de que sua mensagem de luta, humanismo, "ser" comunicador social e busca pela igualdade social foi compreendida.
A exposição fica aberta até o dia 18 de agosto na Sociedade Científica Sigmund Freud (rua Princesa Isabel, 280, sala 302) com entrada franca.
A RádioCom e o Núcleo Popular de Jornalismo guardam na memória momentos inesquecíveis junto com o colega/amigo que deixou marcado seu amor na fotografia e na vida.
*Fábio Rosário é jornalista da RádioCom.
Por Fábio Rosário:
Um ano após a morte do colega, sempre jornalista e amigo Frederico Anderson Madrid Francisco, suas fotos são transformadas em tributo pela Sociedade Científica Sigmund Freud. Ela inaugura nesta terça-feira (20), às 20h, o novo Espaço Arte com o nome do artista, que tem na data do dia 20 de julho mais duas homenagens: seu aniversário e o Dia do Amigo.
Chico Madrid, como era conhecido no mundo profissional das lentes, mostrou a essência do lugar chamado de "Fim do Mundo" na cidade Ushuaia -localizada no limite sul da província Terra do Fogo- na Argentina. Se nas fotografias o fotógrafo conseguiu ir muito além; a viagem, uma das últimas do aventureiro, captou em cada imagem o sentido da vida, da emoção e da pura paixão pelo fotojornalismo.
Fred, como é chamado pelos mais próximos - teve um problema de saúde, com o sistema imunológico abalado por fatos anteriores, em poucos dias se transformado em infecção generalizada.
Sua morte foi muito rápida, fulminante. De acorodo com o pai, Bruno Salésio da Silva Francisco, o drama foi como um forte momento doloroso e somente hoje consegue falar sobre o assunto.
A homenagem da Sigmund Freud justo no dia em que completaria 29 anos é sinal de que sua mensagem de luta, humanismo, "ser" comunicador social e busca pela igualdade social foi compreendida.
A exposição fica aberta até o dia 18 de agosto na Sociedade Científica Sigmund Freud (rua Princesa Isabel, 280, sala 302) com entrada franca.
A RádioCom e o Núcleo Popular de Jornalismo guardam na memória momentos inesquecíveis junto com o colega/amigo que deixou marcado seu amor na fotografia e na vida.
*Fábio Rosário é jornalista da RádioCom.
domingo, 18 de julho de 2010
Mas nos deram espelhos...
e o que vimos?
..
Em meio a esse frio gelado que minha cidade tem vivido nas últimas semanas, não houve melhor época para um respiro de férias do curso de pós graduação.
Com o início de descanso, não esperei muito para – ao menos - tentar vencer parte da lista de filmes e documentários que estão entre as tarefas que me dediquei a fazer nesse período mais livre.
Busquei assistir algo inédito, mas em uma fração de dúvidas e, talvez pelo acaso (não sei se posso dizer isso...), encontrei-me revendo um documentário brasileiro que muito fala sobre a realidade urbana e desigual.
Ônibus 174, dirigido por José Padilha em 2002, caso ardentemente explorado pela mídia e conhecido pelo público desde 2000.
Já perdi as contas das vezes que busquei ler e ver sobre o tema - afinal, faz parte do objeto de pesquisa de um estudo que fiz na graduação,- mas cada vez que vejo todo aquele processo, é como se fosse a primeira vez.
Tamanha verdade angustiante de aceitar.
Viver é difícil. O difícil dificulta
O filme aborda apenas um exemplo do vasto índice de histórias sociais perturbadoras e quase irreiais, ainda que tão presentes. Em seu foco, mostra uma história verdadeira acontecida no Rio de Janeiro, tendo como personagem principal Sandro do Nascimento, fruto de um mundo violento, envolvendo um seqüestro protagonizado por ele mesmo, aos 17 anos. Ele tem sua infância marcada ao ver a mãe assassinada a facadas. Por não ter paternidade assumida, aos 6 anos de idade fica sozinho e vai morar na periferia do Rio, sendo adotado por uma tia. De acordo com ela, Sandro vivia perturbado psicologicamente, lembrando da dolorosa morte a sangue frio de sua mãe, diante de seus olhos... ainda que demonstrasse uma personalidade fria e irracional em diversas etapas de sua vida.
O período da infância e da adolescência de Sandro é movido por assaltos e dependente consumo de drogas. Foi preso em delegacias, conhecendo a bruta realidade da superlotação nas celas das prisões, passou por internatos de menores e presenciou outras mortes além da já citada: ele viu seus amigos, companheiros de rua, mortos através do massacre da policia na Praça da Candelária. O menino foi um dos sobreviventes desta Chacina, em 1993.
O desenrolar da história mostra Sandro sem rumo, ou talvez absoluto em sua decisão de morte alheia, quando sobe em um ônibus e realiza um seqüestro duradouro e dramático.
Visto como o ‘marginal violento de 2000’, assim chamado por um massivo veículo de comunicação, Sandro faz parte do mundo separatista e desigual, decorrente da exclusão. Da exclusão para uma busca por visibilidade e reconhecimento, ocasionando conseqüências assustadoras que assolam uma sociedade em pânico; do medo de uma sociedade, à solidão humana, à violência viva e fria sem medida, capaz de matar culpados e inocentes, ricos e pobres, solitários e efusivos, individualistas e solidários, cativos e felizes. Todos vivendo no mesmo território, ainda que com visões tão distintas, ainda que os contextos vividos sejam diferentes. E toda essa trajetória entre a satisfação e a tristeza, entre o céu e o inferno, entre os dois mundos, me lembra que se faz importante contextualizar a representação de Sandro por tantos outros que se assemelham ao mesmo ‘local de posição social’, vitima e espelho de uma sociedade injusta, personagem de um acontecimento real e marcante. E de um mundo sedento por paz, mas espaço e ambiente do aumento da violência.
É necessário levar em conta que essa problemática excludente da desigualdade social é inerente ao capitalismo, o qual se torna cada vez mais acelerado e que no Brasil, há quinhentos anos se convive com os problemas da exclusão, a qual se materializa cada vez mais, numa população de pobres, sem-teto, desempregados, doentes, analfabetos, crianças em situação precária, muitas delas ligadas ao crime pela própria falta de orientação e educação.
Violência... a violência é violenta
O comportamento que causa dano a outra pessoa, ou qualquer outro ser. O modo que também gera força, a ação contrária que nega-se autonomia e possui forte poder físico e psicológico: a violência. Uma vertente e uma característica cada vez mais acentuada em uma sociedade pós-moderna. Ela sempre esteve presente. Nasceu junto com o homem, cresceu na criação do comportamento humano, mas atualmente, ela está tão próxima de um contingente quanto o bem.
Ônibus 174 é um dos exemplos que mostra a cidade maravilhosa, pólo turístico, musicada, decantada em prosa e verso... e também palco da violência angustiada, insegura e traumatizada. E não sejamos puramente inocentes, Rio e Sandro são apenas um dos tantos e multiplicados grãos sociais mundiais. Não se quer aqui limitar nada, afinal, tristemente essa bruta realidade é encontrada abaixo do céu, de norte a sul. E de leste a oeste. Mas deixe-me dizer: é um mundo paralelo. Pegaram o objeto redondo e de alguma forma o posicionaram ao inverso. Viraram sua cabeça. Para baixo. Estamos com nossas faces nos lugares dos nossos pés. Até que ponto chegamos? Ou aonde vamos chegar?
Para quem já conhece o caso, sabe que Sandro é morto no encerramento do episódio, ainda que, ao ameaçar matar uma das reféns em meio ao desespero, o tiro mirado pelo policial com a intenção de matá-lo, tenha acertado uma refém. Gritos, tiros, açoitação, guerra, câmeras, fogo, multidão. Sandro é pego pela polícia em meio à tempestade, é linchado e morre pelo caminho. Duas mortes. Refém e Sandro. Lembrei de sua mãe. Três sangues. Menos três vivos. Os gritos permanecem. E a realidade aperta ainda mais sua dura dramaticidade.
Após alegações e polêmicas diante da morte do seqüestrador, os policiais responsáveis pela morte de Sandro foram levados a julgamento por assassinato e foram declarados inocentes. Uma investigação inocentou ainda mais a polícia, reiterando a identidade de Sandro como criminoso: concluiu que a refém morta levou quatro tiros: um da polícia e três de Sandro.
O caso Ônibus 174 faz tornar-se impossível não pensar na indiferença. Na solidão. Na tal ‘busca por visibilidade’ tão importante de ser refletida e debatida. Na exclusão muitas vezes explorada de forma irreconhecida e irreponsável. No paralelismo. Na morte. Na dependência. No aumento dos índices. Na banalização dos culpados. Na permanência dos inocentes. Na bruta realidade. No sangue sentido. No “não ter” e querer ter. Nas mortes. Na vida. No descaso. No não saber o que se é. No anseio em ser reconhecido. No silêncio político. Silencioso silêncio.
Ônibus 174, dirigido por José Padilha em 2002, caso ardentemente explorado pela mídia e conhecido pelo público desde 2000.
Já perdi as contas das vezes que busquei ler e ver sobre o tema - afinal, faz parte do objeto de pesquisa de um estudo que fiz na graduação,- mas cada vez que vejo todo aquele processo, é como se fosse a primeira vez.
Tamanha verdade angustiante de aceitar.
Viver é difícil. O difícil dificulta
O filme aborda apenas um exemplo do vasto índice de histórias sociais perturbadoras e quase irreiais, ainda que tão presentes. Em seu foco, mostra uma história verdadeira acontecida no Rio de Janeiro, tendo como personagem principal Sandro do Nascimento, fruto de um mundo violento, envolvendo um seqüestro protagonizado por ele mesmo, aos 17 anos. Ele tem sua infância marcada ao ver a mãe assassinada a facadas. Por não ter paternidade assumida, aos 6 anos de idade fica sozinho e vai morar na periferia do Rio, sendo adotado por uma tia. De acordo com ela, Sandro vivia perturbado psicologicamente, lembrando da dolorosa morte a sangue frio de sua mãe, diante de seus olhos... ainda que demonstrasse uma personalidade fria e irracional em diversas etapas de sua vida.
O período da infância e da adolescência de Sandro é movido por assaltos e dependente consumo de drogas. Foi preso em delegacias, conhecendo a bruta realidade da superlotação nas celas das prisões, passou por internatos de menores e presenciou outras mortes além da já citada: ele viu seus amigos, companheiros de rua, mortos através do massacre da policia na Praça da Candelária. O menino foi um dos sobreviventes desta Chacina, em 1993.
O desenrolar da história mostra Sandro sem rumo, ou talvez absoluto em sua decisão de morte alheia, quando sobe em um ônibus e realiza um seqüestro duradouro e dramático.
Visto como o ‘marginal violento de 2000’, assim chamado por um massivo veículo de comunicação, Sandro faz parte do mundo separatista e desigual, decorrente da exclusão. Da exclusão para uma busca por visibilidade e reconhecimento, ocasionando conseqüências assustadoras que assolam uma sociedade em pânico; do medo de uma sociedade, à solidão humana, à violência viva e fria sem medida, capaz de matar culpados e inocentes, ricos e pobres, solitários e efusivos, individualistas e solidários, cativos e felizes. Todos vivendo no mesmo território, ainda que com visões tão distintas, ainda que os contextos vividos sejam diferentes. E toda essa trajetória entre a satisfação e a tristeza, entre o céu e o inferno, entre os dois mundos, me lembra que se faz importante contextualizar a representação de Sandro por tantos outros que se assemelham ao mesmo ‘local de posição social’, vitima e espelho de uma sociedade injusta, personagem de um acontecimento real e marcante. E de um mundo sedento por paz, mas espaço e ambiente do aumento da violência.
É necessário levar em conta que essa problemática excludente da desigualdade social é inerente ao capitalismo, o qual se torna cada vez mais acelerado e que no Brasil, há quinhentos anos se convive com os problemas da exclusão, a qual se materializa cada vez mais, numa população de pobres, sem-teto, desempregados, doentes, analfabetos, crianças em situação precária, muitas delas ligadas ao crime pela própria falta de orientação e educação.
Violência... a violência é violenta
O comportamento que causa dano a outra pessoa, ou qualquer outro ser. O modo que também gera força, a ação contrária que nega-se autonomia e possui forte poder físico e psicológico: a violência. Uma vertente e uma característica cada vez mais acentuada em uma sociedade pós-moderna. Ela sempre esteve presente. Nasceu junto com o homem, cresceu na criação do comportamento humano, mas atualmente, ela está tão próxima de um contingente quanto o bem.
Ônibus 174 é um dos exemplos que mostra a cidade maravilhosa, pólo turístico, musicada, decantada em prosa e verso... e também palco da violência angustiada, insegura e traumatizada. E não sejamos puramente inocentes, Rio e Sandro são apenas um dos tantos e multiplicados grãos sociais mundiais. Não se quer aqui limitar nada, afinal, tristemente essa bruta realidade é encontrada abaixo do céu, de norte a sul. E de leste a oeste. Mas deixe-me dizer: é um mundo paralelo. Pegaram o objeto redondo e de alguma forma o posicionaram ao inverso. Viraram sua cabeça. Para baixo. Estamos com nossas faces nos lugares dos nossos pés. Até que ponto chegamos? Ou aonde vamos chegar?
Para quem já conhece o caso, sabe que Sandro é morto no encerramento do episódio, ainda que, ao ameaçar matar uma das reféns em meio ao desespero, o tiro mirado pelo policial com a intenção de matá-lo, tenha acertado uma refém. Gritos, tiros, açoitação, guerra, câmeras, fogo, multidão. Sandro é pego pela polícia em meio à tempestade, é linchado e morre pelo caminho. Duas mortes. Refém e Sandro. Lembrei de sua mãe. Três sangues. Menos três vivos. Os gritos permanecem. E a realidade aperta ainda mais sua dura dramaticidade.
Após alegações e polêmicas diante da morte do seqüestrador, os policiais responsáveis pela morte de Sandro foram levados a julgamento por assassinato e foram declarados inocentes. Uma investigação inocentou ainda mais a polícia, reiterando a identidade de Sandro como criminoso: concluiu que a refém morta levou quatro tiros: um da polícia e três de Sandro.
O caso Ônibus 174 faz tornar-se impossível não pensar na indiferença. Na solidão. Na tal ‘busca por visibilidade’ tão importante de ser refletida e debatida. Na exclusão muitas vezes explorada de forma irreconhecida e irreponsável. No paralelismo. Na morte. Na dependência. No aumento dos índices. Na banalização dos culpados. Na permanência dos inocentes. Na bruta realidade. No sangue sentido. No “não ter” e querer ter. Nas mortes. Na vida. No descaso. No não saber o que se é. No anseio em ser reconhecido. No silêncio político. Silencioso silêncio.
A dor é dolorida.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Por una cabeza
Por Andrés Calamaro:
Pero si un mirar
me hiere al pasar,
sus labios de fuego
otra vez quiero besar...
me hiere al pasar,
sus labios de fuego
otra vez quiero besar...
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Única certeza
Sentimentos, lamentos...
e fortes desejos de paz e consolo...
é o que meu coração quer expressar.
-
Subitamente angustiante. Uma grande amiga perdeu o pai no último dia 10. Assim. Diretamente como escrevo. A gente não espera preparado. E não buscarei descrever nada aqui. Ainda desconheço essa dor de perda paternal. Tão carne da gente. Tão selado. Tão perto. E eterno. Quando penso que esse sentimente carrega consigo a única certeza que se tem na vida, confesso que fico desapontada. Sensações de temor chegam até mim. Vontade de não pensar. É sangue.
Contudo, faz parte do ciclo. E não existem palavras confortáveis que eu encontre agora. Não sei se elas possuem tanto poder de transformação. A realidade é como o tempo. Nos dá limites para revertê-la.
Mas sinto em dizer algo banal, mas tão necessário: Que venhamos durante a vida valorizar ardentemente cada momento com quem amamos. E quando não mais tivermos essa possibilidade, que lembremos do que foi bom. Sempre.
Em forma de homenagem, repasso as palavras de Samantha Lazzarotto, a partir de sua autorização. Amiga de estudos, trabalho, sabedoria, samba, risos fáceis, carinho e muita dedicação. Tão longe e tão próxima.
E em meio a dor tão forte, escreveu com o coração. E amor.
Em memória à família Lazzarotto...
.
Despedida ao Salim
Ontem foi um dos dias mais tristes da minha Vida...
Escutar as histórias dos outros pode nos afetar emocionalmente até certo ponto, mas a dor da perda você só pode senti-la quando vive em primeira pessoa. Tristeza é o desespero do irreversível. Irreversível é a morte. Perdi meu pai. Ele morreu pela madrugada. Madrugadas que ele varou por inúmeras vezes. Pois sempre adorou viver intensamente.
Como dizia Carlos Drummond de Andrade, que morreu logo depois que sua querida filha se foi “Não morremos de morte morrida, mas de vida vivida”. A conjugação pode estar errada, mas os poetas, como se sabe, são livres para “poetar” e o sentido é profundo. Ele abusou demais da sua saúde, tinha medo de injeção e corria as léguas de medico, embora tenha filhas e neta medica.
“Prefiro viver intensamente por menos tempo, do que viver mais e não poder fazer as coisas que mais gosto nessa vida”. Era o seu lema.
Foi a vida que ele levou que o levou embora. Quem ele amou, ele amou sem medidas porque era ávido de amor. Gostava de dividir e doar com quem precisava. Nunca perdeu sua nordestes, suas origens, mesmo tendo adotado o Rio Grande do Sul, como seu segundo estado. Incompreendido, desvairado, autentico, às vezes rude e temperamental, mas era meu pai. Lembro-me das noites que passamos em claro jogando papo regado com muita música e muito vinho. Amava sua inteligência, sua desenvoltura e sei que mesmo tarde aprendi muitas coisas com ele. Como eu queria ter tido o privilegio de te-lo tido por mais tempo, para que ele pudesse desfrutar das minhas conquistas, dos filhos que terei que o amariam como o amo... Aceito essa despedida com mais resignação pois sei que há alguns anos ele já vagava perdido dentro um corpo já cansado, sua consciência e vivacidade já não existiam mais.
Todos nós, que vivemos aqui nesta terra, temos medo de uma notícia destas. Nossa alma fica pequena só de pensar e temos que viver com isso. Quanto mais passa o tempo e eles envelhecem lá do outro lado, pode ter certeza, um dia esta notícia vai chegar. É o curso natural da vida, mas quem disse que é fácil aceitar? A tristeza desta perda não se resume ao passado, é a dor da tristeza pelo futuro que não se terá. Ele não vai mais aos domingos preparar aquele delicioso churrasco que só ele sabia fazer... Ele gostava dos encontros mas não gostava das despedidas. Quem pode gostar? Seu sonho era um dia reunir todos os filhos e netos em volta da sua mesa. Mas espero que nos céus nos reunamos felizes para sempre.
Perder alguém querido é perder-se, porque somos feitos dos outros que nos rodeiam. Pai e mãe é parte de nós. Foi-se um pedaço do peito. Foi-se uma parte de nós, da nossa família. Saudade e tristeza profunda misturadas a uma alegria tão grande de tê-lo no passado…De te-lo tido como meu pai. Sentimentos confusos nesta hora. Ele se foi, e esta doendo. Saber que nunca mais vou abraçá-lo, nunca mais vou ter o prazer de revê-lo me faz sofrer. Saudade para o resto da vida.
Nunca mais vou ouvir suas historias que contava como ninguém, nem vou ouvi-lo declarar o seu amor pelos filhos e principalmente as filhas (eu... sua "Caneca") e que não escutarei mais a sua voz a cantar. Escutar o som de um violão vai me trazer ainda mais saudades do meu pai. Gostava de poesia e de contar tudo que fizera e vivera, seus causos.
A veia artística e a sensibilidade para apreciar as coisas boas da vida, ao modo dele, eu sei, é parte do que ele passou pra mim. O sentimento agora é só saudade e tristeza, misto de um que de orfandade a perda do meu pai. Tristeza é um silencio que grita dentro. Lágrimas incontroláveis é um protesto que a situação seria melhor se fosse outra. Nunca mais dói demais.
A distancia nestas circunstancias é cruel. Aquele telefonema que eu não encontrei o tempo para dizer mais uma vez o quanto eu o amava. Me entristeço pensando o quanto a gente adia pequenas coisas que são realmente importantes da vida, na ilusão de que o tempo “vai dar” para fazer tudo. Não deu para dizer adeus...e esta doendo, muito.
Pai... Descanse em paz e que o Senhor te receba.
Aos meus irmãos, sobrinhos (as), que Deus nos conforte e que vocês aprendam a viver como se hoje fosse o ultimo dia, como o nosso Salim viveu. Lembrem-se dele com carinho, respeito e amor. Pois o que se leva é o amor que suplanta todas as indiferenças e mágoas.
Aos amigos obrigada pelo apoio e carinho, e agradeço as orações a ele ofertadas.
Samantha Lazzarotto
Simplesmente filha.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
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