Do dia 20 para 21 de dezembro de 2012 ocorreram fatos estranhos. Alguns abriram o coração, outros cortaram os pulsos, pulsaram o inerte, expulsaram demônios, lavaram as mãos, apagaram pecados, pagaram pecados, choraram sobre a alegria derramada, revisaram o saldo, saldaram dívidas, subiram a aposta, quebraram a banca, viveram como nunca, como se não houvesse amanhã , mas houve. Mais uma vez houve quem negasse – por três vezes ou mais- os fatos e os feitos e houve quem escondesse os pulsos, negasse as dívidas, rezasse por uma amnésia epidêmica, que mantesse a ordem, matasse a memória, salvasse o futuro.
(...)
De qual mundo estamos falando? Talvez detenha a resposta um pássaro antigo que repete velhas palavras que poderiam salvar o mundo, se não tivéssemos matado os índios que o ensinaram a falar. Ele nos fala dos sabores e saberes de cada fruto, vida e cultura por nós exterminada, do silêncio dos mortos de Auschwitz e Ramala, onde repousa o idioma da tolerância que um dia aprenderemos a falar, dos muros – os caídos e erguidos, que nos dividem e não impedem invasões, de tudo que sabemos e negamos – três vezes ou mais- em nome da ordem do mundo que cada um inventou, como se não fôssemos um todo e de todos o mundo, que não nos pertence e ao qual pertencemos. Não creio que esquecendo o mundo dos nossos filhos seja melhor, o amanhã esteja assegurado.
(...)
Talvez haja tempo de lavar o mar, o ar, os rios, cuidar da vida, viver sem medo. Creio que existirão junhos e outros meses e anos melhores. Eles não virão de profecias, não cairão dos céus, virão de nós, os sobreviventes do fim do mundo.
[Maurício Raupp Martins é produtor e apresentador do Programa Cantos de Luta e Esperança, na RádioCom]
Um comentário:
lavar o mar, o ar, os rios, cuidar da vida, viver sem medo... te amo.
Postar um comentário