sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Inventário do Desamor



Deixo contigo meu sangue
meus livros e minhas horas.

E a dor cansada na insônia
contra o lençol das demoras.

Deixo a paz que eu encontrei
mas me fugiu entre os dedos.

E a chave surda e sem uso
da gaveta dos meus medos.

Deixo perdido um poema
e não por esquecimento:

mas pra que um dia eu te encontre
na leve pauta dos ventos.

Deixo contigo meu ventre
meus olhos, minhas entranhas.

E com mãos nuas, reflito:
- Perde mais quem hoje ganha?

Deixo contigo meus beijos
meu suor, meu desabrigo.

Deixo roupas, documentos.
De meu, nada irá comigo.

Deixo a sombra, de teimosa.
Deixo as fotos, deixo a casa.

Do poço mais infinito
só levo a alma, presa e rasa.

[Jaime Vaz Brasil]

Nenhum comentário: