sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé - De Ariana para Dionísio
É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora
E sozinha supor
Que se estivesses dentro
Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora
Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria
O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza
E sorver reconquista a cada noite
Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:
A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.
Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu
Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.
A minha Casa é guardiã do meu corpo
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavra
Paixão e veemência
E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.
A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
À uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta
Por que recusas amor e permanência?
Porque te amo
Deverias ao menos te deter
Um instante
Como as pessoas fazem
Quando vêem a petúnia
Ou a chuva de granizo.
Porque te amo
Deveria a teus olhos parecer
Uma outra Ariana
Não essa que te louva
A cada verso
Mas outra
Reverso de sua própria placidez
Escudo e crueldade a cada gesto.
Porque te amo, Dionísio,
é que me faço assim tão simultânea
Madura, adolescente
E por isso talvez
Te aborreças de mim.
Hilda Hilst
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Mais um Sarau
Sarau BPP lembra Garcia Lorca
Poeta espanhol é o autor em destaque no projeto da Bibliotheca Pública Pelotense
Um dos nomes mais conhecidos da literatura de língua espanhola , Garcia Lorca ( 1898 -1936) é o autor em destaque na XXIV edição do Sarau Poético-Musical da Bibliotheca Pública Pelotense (BPP) , no próximo dia 28. A homenagem ao poeta nascido na Andaluzia ocorre no mês que marca os 76 anos de seu fuzilamento( 19 de agosto) pelas milicias franquistas em Granada, no início da Guerra Civil espanhola ( 1936 - 1939). A poesia e o teatro compõem o centro de sua obra , que se completa com títulos em prosa, composições musicais e desenhos. A fala sobre Federico Garcia Lorca - a cargo de Pedro Bittencourt Jr - abre a edição de agosto do Sarau BPP que, na sequência, apresenta blocos de música ao vivo e poesia recitada de autores locais. Evento com entrada franca e inicio às 19:30 horas. No salão térreo da Bibliotheca.
AUTORES-POETAS CONVIDADOS:
Arlete Dalarosa
Ediane Oliveira
Fernanda Souza
Francine Costa Amaral
AUTOR EM DESTAQUE
Federico Garcia Lorca ( 1898:-1936)
CONVERSA SOBRE O AUTOR DESTACADO:
Pedro Bittencourt Jr
Poeta espanhol é o autor em destaque no projeto da Bibliotheca Pública Pelotense
Um dos nomes mais conhecidos da literatura de língua espanhola , Garcia Lorca ( 1898 -1936) é o autor em destaque na XXIV edição do Sarau Poético-Musical da Bibliotheca Pública Pelotense (BPP) , no próximo dia 28. A homenagem ao poeta nascido na Andaluzia ocorre no mês que marca os 76 anos de seu fuzilamento( 19 de agosto) pelas milicias franquistas em Granada, no início da Guerra Civil espanhola ( 1936 - 1939). A poesia e o teatro compõem o centro de sua obra , que se completa com títulos em prosa, composições musicais e desenhos. A fala sobre Federico Garcia Lorca - a cargo de Pedro Bittencourt Jr - abre a edição de agosto do Sarau BPP que, na sequência, apresenta blocos de música ao vivo e poesia recitada de autores locais. Evento com entrada franca e inicio às 19:30 horas. No salão térreo da Bibliotheca.
AUTORES-POETAS CONVIDADOS:
Arlete Dalarosa
Ediane Oliveira
Fernanda Souza
Francine Costa Amaral
AUTOR EM DESTAQUE
Federico Garcia Lorca ( 1898:-1936)
CONVERSA SOBRE O AUTOR DESTACADO:
Pedro Bittencourt Jr
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Novas Narrativas: Comunicação e Cultura em debate Cone-Sul
Participo como integrante da RádioCom, da mesa “Novas Narrativas: Quando foi que separamos ética de estética?"
na manhã desta sexta (17), na programação do Congresso Fora do
Eixo Cone Sul, que se iniciou na última quarta-feira, em Porto Alegre.
Buscarei trazer uma elaboração de narrativas e estratégias de guerrilha
multimídia para a mobilização on-line, além de realizar um levantamento
de midialivristas, apresentar projetos estrégicos, mapear veículos de
comunicação no Rio Grande do Sul e ajudar na organização do Conselho de Comunicação Cone-Sul.
Serão apresentados também a formação e as principais atividades e projetos culturais da
RádioCom 104,5 FM, que há 11 anos existe em Pelotas como veículo
alternativo de comunicação que fortalece a diversidade cultural e dá voz
aos movimentos sociais.
Participarão da mesa:
EDIANE OLIVEIRA
Jornalista na RadioCom. Pós-graduada em Sociologia e Política pela Universidade Federal de Pelotas e co-fundadora da Maria Bonita Comunicação. Já atuou em projetos de rádio-escolas e integra o Núcleo Poesia no Bar.
ALEXANDRE HAUBRICH
Jornalista, editor do blog Jornalismo B. Foi repórter do Jornal Já e da Revista O Dilúvio. Escreve quinzenalmente no Diário Liberdade.
LINO BOCCHINI
Jornalista, redator-chefe da revista TRIP e editor do blog Falha de S.Paulo. Diretor da #PósTV e apresentador do programa Desculpe a Nossa Falha.
FERNANDA QUEVEDO
Gestora da Mídia Livre Fora do Eixo na regional Sul. Já desenvolveu projetos sócioculturais e de midiativismo em periferias e atua com mídias sociais na Casa FdE Porto Alegre e regional sul.
LEANDRO VOVCHUK
Ator e músico, estudante em Gestão de Arte e Cultura e atual coordenador de Comunicação da CUCA (Centro Universitario de Cultura y Arte) de sua universidade, em Buenos Aires.
*
O Congresso Conse Sul reúne em Porto Alegre, de 15 a 19 de agosto, coletivos, midialivristas, artistas, formadores de opinião, iniciativas e gestores culturais. As relações promovidas pelo Encontro vão gerar uma grande coalisão de “redes em rede”, através de debates, reuniões livres, grupos de trabalhos, imersões, plenárias e feira de trocas, percurso cultural e o Festival Cultura de Rede.
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
domingo, 12 de agosto de 2012
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
Amor à primeira vista
Ambos estão convencidos
que os uniu uma paixão súbita.
É bela esta certeza,
mas a incerteza é mais bela ainda.
Julgam que por não se terem encontrado antes,
nada entre eles nunca ainda se passara.
E que diriam as ruas, as escadas, os corredores
onde se podem há muito ter cruzado?
Gostaria de lhes perguntar
se não se lembram —
talvez nas portas giratórias,
um dia, face a face?
algum “desculpe” num grande aperto de gente?
uma voz de que “é engano” ao telefone?
— mas sei o que respondem.
Não, não se lembram.
Muito os admiraria
saber que desde há muito
se divertia com eles o acaso.
Ainda não completamente preparado
para se transformar em destino para eles,
aproximou-os e afastou-os,
barrou-lhes o caminho
e, abafando as gargalhadas,
lá seguiu saltando ao lado deles.
Houve marcas, sinais,
que importa se ilegíveis.
Haverá talvez três anos
ou terça-feira passada,
certa folhinha esvoaçante
de um braço a outro braço.
Algo que se perdeu e encontrou?
Quem sabe se já uma bola
nos silvados da infância?
Punhos de poeta e campainhas
onde a seu tempo o toque
de uma mão tocou o outro toque.
As malas lado a lado no depósito.
Talvez acaso até um mesmo sonho
que logo o acordar desvaneceu.
Porque cada início
é só continuação,
e o livro das ocorrências
está sempre aberto ao meio.
que os uniu uma paixão súbita.
É bela esta certeza,
mas a incerteza é mais bela ainda.
Julgam que por não se terem encontrado antes,
nada entre eles nunca ainda se passara.
E que diriam as ruas, as escadas, os corredores
onde se podem há muito ter cruzado?
Gostaria de lhes perguntar
se não se lembram —
talvez nas portas giratórias,
um dia, face a face?
algum “desculpe” num grande aperto de gente?
uma voz de que “é engano” ao telefone?
— mas sei o que respondem.
Não, não se lembram.
Muito os admiraria
saber que desde há muito
se divertia com eles o acaso.
Ainda não completamente preparado
para se transformar em destino para eles,
aproximou-os e afastou-os,
barrou-lhes o caminho
e, abafando as gargalhadas,
lá seguiu saltando ao lado deles.
Houve marcas, sinais,
que importa se ilegíveis.
Haverá talvez três anos
ou terça-feira passada,
certa folhinha esvoaçante
de um braço a outro braço.
Algo que se perdeu e encontrou?
Quem sabe se já uma bola
nos silvados da infância?
Punhos de poeta e campainhas
onde a seu tempo o toque
de uma mão tocou o outro toque.
As malas lado a lado no depósito.
Talvez acaso até um mesmo sonho
que logo o acordar desvaneceu.
Porque cada início
é só continuação,
e o livro das ocorrências
está sempre aberto ao meio.
Wislawa Zymborska
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
terça-feira, 7 de agosto de 2012
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
O estouro
demais
tão pouco
tão gordo
tão magro
ou ninguém.
risos ou
lágrimas
odiosos
amantes
estranhos com faces como
cabeças de
tachinhas
exércitos correndo através
de ruas de sangue
brandindo garrafas de vinho
baionetando e fodendo
virgens.
ou um velho num quarto barato
com uma fotografia de M. Monroe.
há tamanha solidão no mundo
que você pode vê-la no movimento lento dos
braços de um relógio.
pessoas tão cansadas
mutiladas
tanto pelo amor como pelo desamor.
as pessoas simplesmente não são boas umas com as outras
cara a cara.
os ricos não são bons para os ricos
os pobres não são bons para os pobres.
estamos com medo.
nosso sistema educacional nos diz que
podemos ser todos
grandes vencedores.
eles não nos contaram
a respeito das misérias
ou dos suicídios.
ou do terror de uma pessoa
sofrendo sozinha
num lugar qualquer
intocada
incomunicável
regando uma planta.
as pessoas não são boas umas com as outras.
as pessoas não são boas umas com as outras.
as pessoas não são boas umas com as outras.
suponho que nunca serão.
não peço para que sejam.
mas às vezes eu penso sobre
isso.
as contas dos rosários balançarão
as nuvens nublarão
e o assassino degolará a criança
como se desse uma mordida numa casquinha de sorvete.
demais
tão pouco
tão gordo
tão magro
ou ninguém
mais odiosos que amantes.
as pessoas não são boas umas com as outras.
talvez se elas fossem
nossas mortes não seriam tão tristes.
enquanto isso eu olho para as jovens garotas
talos
flores do acaso.
tem que haver um caminho.
com certeza deve haver um caminho sobre o qual ainda
não pensamos.
quem colocou este cérebro dentro de mim?
ele chora
ele demanda
ele diz que há uma chance.
ele não dirá
"não".
Charles Bukowski
Do livro: "O Amor é Um Cão dos Diabos".
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
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