domingo, 29 de agosto de 2010

Pain Of Salvation


Quem conhece o trabalho de bandas reconhecidas e consagradas como Dream Theater, Pink Floyd, Symphony X e Angra, certamente já ouviu falar na sueca Pain Of Salvation, considerada como uma ‘nova geração’ na história do metal progressivo e melódico.

Escrever sobre Pain não é tarefa fácil. Banda peculiar no cenário do metal progressivo, vem ultrapassando a cena já consagrada e respeitada para uma expressão ainda maior, alcançada dentre outros motivos, pelo conjunto absolutamente próprio e emocional do trabalho de seus álbuns. Sua obra soma características sentimentais, grandezas instrumentais e mensagens introspectivas e impactantes.

Liderada por Daniel Gildenlöw desde 1991, a musicalidade da banda, mostra de maneira altamente original, uma união de propensões, do progressivo ao melódico, além de intensidades emotivas e climáticas, com um tom contestador.

BE
Com 11 discos gravados, o que mais me impressiona pela estética artística, sonora e revolucionária é o álbum Be, gravado em 2004, sendo regravado no ano seguinte para um DVD com as mesmas composições do estúdio. O resultado teve em algumas apresentações, a participação de músicos da respeitada Orchestra of Eternity, um forte ganho na história da Pain Of Salvation, certamente. Os instrumentos soaram limpamente como um recital espiritual.

Escolhido por lidar com o tema ‘ciência, conflitos e religião’, Be foi considerado pela crítica um dos álbuns mais aclamados da história atual do metal. Pensado em cada detalhe com composições do vocalista e forte inspirador Daniel Gildenlöw, sua realização se firma no espaço vazio e perdido da humanidade. A busca por um contato com a espiritualidade, a ausência da paz em um mundo de guerras, a revolução inventada presente nos jovens do novo século e as dúvidas que a ciência ainda deixa marcas. O álbum é uma enciclopédia de anseios, fé, devaneios e teorias inexplicadas. Sua marca é intimista e, ainda que complexo, retrata a lógica clara da busca de respostas e preocupação com a filosofia social e ancestral, presente e perdida no mundo pós moderno.

A música Vocari Dei (Mess Age) expressa genialmente a proposta do álbum. São diferentes vozes gravadas por telefone de fãs do mundo todo, deixando mensagens para Deus. De dúvidas, descrenças e críticas a expressões de fé, pedidos de compaixão e simples agradecimentos. Cada palavra expressando uma mensagem diferente, arrepiando em sua essência por transmitir a humanidade de forma mais despida e real. É um concerto refinado e um culto à emoção:




Iter impius é sem dúvida, uma das minhas favoritas, por escancarar a grandeza vocálica de Daniel. Além do forte melancolismo, a melodia não é linear e possui um apelo emocional e instrumental bastante interessante:

sábado, 28 de agosto de 2010

Censura e truculência contra jornalistas. Onde está a ANJ?


Ainda que a publicação do texto a seguir já esteja em torno de um mês em redes alternativas, sua valorização aqui, se faz necessária, mesmo que talvez, em fora de espaço e tempo. Sua pertinência espelha verdadeiramente o contexto indiferente e perturbante da atual 'poderosa autoritária comunicação' no Brasil.

As demissões de jornalistas na TV Cultura de São Paulo e o silêncio dos grandes meios de comunicação sobre as causas destas demissões evidenciam mais uma vez um preocupante comportamento cínico, submisso e hipócrita. Mais uma vez, são blogs e sites de jornalistas independentes que cumprem o dever de informar ao público o que é de interesse público. Entidades como a Associação Nacional de Jornais, supostamente comprometidas com a defesa da liberdade de expressão, exibem um silêncio ensurdecedor.

Do editorial da Carta Maior

O comportamento cínico e hipócrita da maioria das grandes empresas de comunicação do Brasil ficou mais uma vez evidenciado esta semana, e de um modo extremamente preocupante. Não se trata apenas de valores ou sentimentos, mas sim de fatos objetivos e de silêncios não menos objetivos. O relato sobre demissões na TV Cultura de São Paulo, causadas pelo interesse de jornalistas no tema dos pedágios, justifica plenamente essa preocupação. Um desses relatos, feito nesta sexta-feira pelo jornalista Luis Nassif, chega a ser assustador. Em apenas uma semana, dois jornalistas perderam o emprego, escreve Nassif, em função de uma matéria sobre pedágios. Ele relata:

Há uma semana, Gabriel Priolli foi indicado diretor de jornalismo da TV Cultura. Ontem, planejou uma matéria sobre os pedágios paulistas. Foram ouvidos Geraldo Alckmin e Aloízio Mercadante, candidatos ao governo do estado. Tentou-se ouvir a Secretaria dos Transportes, que não quis dar entrevistas. O jornalismo pediu ao menos uma nota oficial. Acabaram não se pronunciando.

Sete horas da noite, o novo vice-presidente de conteúdo da TV Cultura, Fernando Vieira de Mello, chamou Priolli em sua sala. Na volta, Priolli informou que a matéria teria que ser derrubada. Tiveram que improvisar uma matéria anódina sobre as viagens dos candidatos.

No dia 8 , Priolli foi demitido do cargo. Não durou uma semana.

Semana passada foi Heródoto Barbeiro, demitido do cargo de apresentador do Roda Viva devido às perguntas sobre pedágio feitas ao candidato José Serra (ver vídeo abaixo). Para quem ainda têm dúvidas: a maior ameaça à liberdade de imprensa que esse país jamais enfrentou, nas últimas décadas, seria se, por desgraça, Serra juntasse ao poder de mídia, que já tem, o poder de Estado.




Não é o primeiro relato sobre a truculência do ex-governador de São Paulo com jornalistas. Nos últimos meses, há pelo menos dois outros episódios, um deles envolvendo a jornalista Miriam Leitão, na Globonews, e outros envolvendo jornalistas da RBS TV, em Porto Alegre. A passagem da truculência à ameaça ao trabalho dos jornalistas é algo que deveria receber veemente manifestação da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), sempre prontas a denunciar tais ameaças. No entanto, ao invés disso, o que se houve é um silêncio ensurdecedor.

Mais uma vez, são blogs e sites de jornalistas independentes que cumprem o dever de informar ao público o que é de interesse público. E, mais uma vez também, os chamados jornalões e seus braços no rádio e na TV, calam-se, aliando submissão e cumplicidade com a truculência e o desrespeito ao trabalho de experientes profissionais. O mesmo silêncio, a mesma submissão e a mesma cumplicidade manifestadas nos recentes casos de assassinatos de jornalistas em Honduras, em função de sua posição crítica ao golpe de Estado ocorrido naquele país.

Esse triângulo perverso que une cinismo, hipocrisia e silêncio não é um privilégio da imprensa brasileira. Um outro caso, esta semana, envolveu uma das maiores cadeias de televisão do mundo. A CNN demitiu a jornalista Octavia Nasr, editora de noticiário do Oriente Médio, por causa de uma mensagem publicada por ela em sua página no Twitter onde manifestou “respeito” pelo ex-dirigente do Hezbollah, Sayyed Mohammed, que morreu no final de semana passado. Octavia tinha 20 anos de trabalho CNN. O que ela escreveu no twitter e causou sua demissão foi: “(Fiquei) triste por saber do falecimento do Sayyed Mohammed Hussein Fadlallah…Um dos gigantes do Hezzbollah que eu respeito muito”. Parisa Khosravi, vice-presidente-sênior da CNN International Newsgathering, afirmou em um memorando interno que “teve uma conversa” com a editora e “decidimos que ela irá deixar a companhia”.

Essa mesma CNN não hesita em denunciar agressões à liberdade de imprensa em outros países quando isso é do interesse de sua linha editorial e dos interesses geopolíticos da empresa. Crime de opinião? Segundo as versões oficiais, isso só existe em países do chamado eixo do mal.

Esse mesmo triângulo perverso ajuda a entender por que essas grandes corporações midiáticas não querem debater com a sociedade a sua própria atuação. Colocam-se acima do bem e do mal como se fossem portadores de legitimidade pública. Não são. Ao cultivarem esse tipo de comportamento e prática, o que estão fazendo, na verdade, é auto-atribuir-se, de modo fraudulento, uma suposta representação pública. Representam, na verdade, os interesses dos donos das empresas e, cada vez menos, o interesse público.

Neste exato momento, o planeta vive aquele que pode vir a se confirmar como o maior desastre ecológico de sua história. O acidente com a plataforma da British Petroleum no Golfo do México e o vazamento diário de milhões de litros de óleo no mar tem proporções ainda incalculáveis. No entanto, a cobertura midiática sobre o caso nem de longe é proporcional, em quantidade e qualidade, à gravidade e importância do caso. Organizações ambientalistas já denunciaram que a BP vem operando pesadamente nos bastidores para bloquear e filtrar informações.

É preciso ter clareza que são os dirigentes e porta-vozes dessas corporações midiáticas e seus braços políticos e empresariais que não hesitam em denunciar qualquer proposta de tornar transparente à sociedade o seu trabalho, supostamente de interesse público. O bloqueio e seleção de informações, a demissão de jornalistas incômodos e a truculência com aqueles que ousam fazer alguma pergunta fora do script são diferentes faces de um mesmo cenário: o cenário da privatização da informação, da deformação da verdade e da destruição do espaço público.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sexta-feira.



I don't know you
But I want you...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Adele



Uma das maiores boas surpresas que pude conhecer no campo da música nos últimos anos. Adele, cantora inglesa de jazz com misturas no soul e no pop, tem traçado a linha da música contemporânea de grande qualidade.

Premiada com o Brit Awards em 2008 pela crítica, sua voz forte, 'negra' e fruto de influências passadas como Billie Holiday, Etta James e Dusty Springfield causa impacto puro e bastante intimista. Suas letras, melancólicas em sua essência, falam na grande maioria de relacionamentos partidos e frustrantes.

Ainda com semelhanças a vozes mais atuais como de Joss Stone e Amy Winehouse, sua forte identidade na excêntrica forma artística de seus álbuns, vai um pouco mais do que comparações. Sua mensagem de “Cantar é bem mais do que emitir sons. É desnudar a alma e cair em um outro universo” tem sido essencialmente sentida por amantes da arte de diversos cantos do mundo.

Um som refinado. E intensamente envolvente.




Should i give up,
Or should i just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere

I'd build myself up...

domingo, 22 de agosto de 2010

Da série: "Ando meio sem inspiração"

Olha, eu quero escrever sobre o show e a entrevista com Zeca Baleiro.
E também das eleições.

Algumas dicas de cinema argentino.
Outras de música brasileira e francesa.
E dos meus desejos que ainda permanecem...

Está tudo aqui dentro, misturado, talvez... Mas estão em mim, buscando um lugar de expressão.
Contudo, parece que tem me faltado inspiração (pra não dizer tempo).

Em breve estarei de verdade por aqui. Com mais calma.

Sem querer 'postar qualquer coisa só pra atualizar',
ficam aqui algumas das tantas fotos do final de semana.
Essas foram as poucas que eu realmente apareci. De vez em quando, o lado fotógrafa tem que falar mais alto...

Um abraço apertado na Luciana Silveira, minha primeira amiga Museóloga. Sucesso!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Recotada - Olhares sobre uma exposição (trailer)

A mostra de arte "Recotada", ocorrida na região do porto de Pelotas em março e abril deste ano, ganhou um novo olhar a partir da produção do documentário:”Recotada - Olhares sobre uma exposição”. O projeto é o primeiro da Documenta - Arte. Cultura. Moda - produtora independente formada pelos jornalistas Cassiano Miranda, Camila Sequeira e pelo estudante de Comunicação Márcio Mello.

A exibição acontece hoje (18) na programação do Sete Imagens, às 18h30, no Bistrô da SeCult. A entrada é franca.

A edição descentralizada do projeto terá o mesmo curta apresentado e debatido no Colégio Municipal Pelotense, dia 27 de agosto.

Confira o trailer:



Certamente vale a pena conferir!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Mulheres na arte




Nas palavras de Oswaldo Montenegro:

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar

Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
...

domingo, 15 de agosto de 2010

Não dá mais pra segurar

.
Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder
O que não dá mais pra ocultar e eu não posso mais calar
Já que o brilho desse olhar foi traidor
E entregou o que você tentou conter
O que você não quis desabafar e me cortou.
(...)


[Explode Coração, composta por Gonzaguinha
Interpretada por Diego Moraes.]

A incorporação do video foi desativada, mediante solitação da gravadora. Clique abaixo e assista diretamente no youtube.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Cult Bazar

Em Pelotas, na última quarta-feira (11), aconteceu a 4ª edição da
Noite Cult - um espaço conhecido por buscar reunir diversas vertentes sintônicas artísticas, mesclando entre música ao vivo, exposições de obras locais, exibições de filmes e performances de dança e teatro.

Com produção cultural do vocalista da Pimenta Buena, Vicente Botti, a edição de agosto contou com uma verdadeira mistura cultural, valorizando a cena independente de Pelotas. Particularmente, dessa vez, a edição foi além das outras. Ainda mais sensível, humana e intimista no que diz respeito à arte. Conseguir reunir com grande intensidade obras diversificadas, espalhadas pelas mãos, olhos, almas e corpos de diversos artistas (ainda que esteja ao fácil alcance – pela riqueza da arte que muito interessa um significante público daqui), não é tão simples quando busca-se fazer disso, algo cuidadosamente bonito em cada detalhe.

Na entrada, recebo uma cartilha com uma poesia explicitando a grandeza das águas que caem das nuvens: “Percebo que a chuva não provém apenas da exalação das águas dos lagos/ mares ou rios... /mas também da evaporação do suor/e das lágrimas dos trabalhadores (...)” escrita pelo artista pelotense Alvaro Barcellos. Cada pessoa que chegava, ganhava um escrito diferente.

Pelas paredes encontro mais palavras... frases soltas e outras lineares, misturadas com obras plásticas, formando uma composição lírica, simples e poética, todas elas assinadas por artistas pelotenses. É a personificação do projeto Poesia no Bar, idealizado por Daniel Moreira da Revista Seja juntamente com Botti. No som ambiente, ouço tango, dos mais conhecidos e pioneiros como Gotan Project a sons que eu nunca sequer tinha ouvido. Fui envolvida na seqüência com música latina ao vivo por um SecretShow que reuniu músicos muito sensíveis da cena popular.

Ainda pelas paredes e pelos cantos, imagens fotográficas em preto e branco expressavam a estética do vazio. Todas fotografadas por Vinícius K., um outro artista pelotense. Imagens que manifestavam o espírito de lugares ‘sós’ da cidade, feitos para serem ocupados, acompanhados. A noção de vazio é absolutamente interessante quando conseguimos visualizá-la, além de senti-la.

No meio da noite, show com uma banda nova na cidade, mas muito peculiar: Meigos, Vulgos & Malvados em uma performance bastante semelhante ao que eu já esperava por toda sua preocupação à qualidade sonora interligada à sua imagem visual -de fato-, no palco.

Após projeções de cinema alternativo, me encontro de olhos fitados a uma elegante sessão de tango, apresentado por um casal de dançarinos da Cia da Dança. Sedutor, convidativo, delicado. Tango é uma das coisas que muito me fascina.

De fato, ainda que o local escolhido (Bar João Gilberto) não tenha deixado a desejar pelo empenho da produção buscar uma decoração generosa ao ponto de soar como aconchego artístico - de acordo com a proposta da noite-, ainda permanece o forte anseio de encontrar um espaço em Pelotas que viva constantemente esse clima digno e necessário na cidade. Lamento lembrar que diversos bares e espaços perderam sua identidade com o passar dos anos, com a inserção de diversos públicos responsáveis por aumentos lucrativos e conseqüentemente, variadas confusões ‘culturais identitárias’.

Entretanto, o Cult Bazar expressou-se como um belo trabalho livre e integrado, honrando um mosaico de atrações e relações artístico-culturais. Uma boa mesclagem entre literatura, música, dança, cinema, artes plásticas e visuais.

A RádioCom apoiou o evento e parte do Núcleo Popular de Jornalismo esteve presente.
Na foto: Ediane Oliveira, Juliano Lima, Vanessa Silveira, Fábio Rosário e Carlos Ávila.

No final, bem no final, a noite se estendeu (ou acabou?) no Espaço Baiúca. Normal, como de praxe. E... bem...

parece que sempre acaba por lá...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sobre prazeres...


Uma das fascinações que a arte da comunicação reflete é a sensação de surpresa capaz de me causar. A subjetividade suave e seu desapego do monótono. Freqüentemente ela me traz idéias, medos, críticas, espantos, experiências, agonias, liberdades, frustrações, lembranças, prazeres... pessoas. Ela traz pessoas também. Trabalhar num ambiente generoso possibilita com que esse alcance ao agradável humanismo que me faz esquecer do pragmatismo da rotina, me torne mais... leve e satisfeita.

É assim por muitos momentos. E foi assim na última sexta-feira, quando, pela manhã, em uma quinzenal reunião de avaliação da programação jornalística na RádioCom, eu – e meus companheiros de trabalho – encontramos Liana Coll, estudante de Jornalismo e colaboradora da revista online de cultura O viés. Ela estava lá, conosco, sentada nos ‘banquinhos da entrada da Rádio’. Naquele momento, nossas faces e nossos apontamentos lhe eram novos. E cada particularidade também.

Liana se aproximou como muitas experiências interessantes chegam até nós: através de e-mails num primeiro momento, após ouvir a RádioCom. “Recebemos um e-mail dizendo que a programação é diferenciada. Gostaram. Querem conhecer mais.” É comum esse diálogo estar presente entre o grupo. Talvez esse seja um dos ganhos de retorno que possuímos com os ouvintes... ouvintes? Acho que além. O que faz uma espontânea declaração de “Obrigado pelo que ouvi.”? Não vejo de forma tão simples assim. Há de se levar em conta. Através da música, da idéia, do projeto, do foco e da paixão, produz-se uma relação de sintonia, identificação, aproximação, vontade de envolvimento. Isso é mágico. A subjetividade sonora do rádio é uma das formas mais interessantes, pois traz expectativa e uma espécie de afeição sem face. ‘Eles estão do outro lado. Mas próximos.’

Ela foi observadora. Permaneceu ao nosso lado durante as horas de discussões sobre a programação. E por fim, buscou conhecer mais da Rádio através de entrevistas informais para uma futura matéria, uma das coisas que estava dentro de seus objetivos, além de visitar pela primeira vez os estúdios do espaço que possui o difícil desafio, mas árduo desejo: “Comunicação é um direito de todos.”

Não demorou muito para a matéria ficar pronta. Liana publicou sábado na 38ª edição do espaço online ‘O viés’. Um portal com característica coletiva, tendo a publicação de diversos colaboradores interessados em arte.

Liana Coll é estudante de Jornalismo na UFSM, mas exatamente neste período transferiu-se para a Argentina, na Universidad Nacional de Tuc
umán, onde pretende fazer o intercambio até dezembro deste ano. Tornará colabora da rádio, indiretamente, assim como muitos que se aproximam e sentem uma ‘liberdade sintônica e informal para contribuir’. Sua passagem por Pelotas, por pouco tempo, possibilitou aquilo que meu coração sente deleite em expressar: 'Saciamo-nos profissionalmente quando pequenas coisas mostram que, ainda com fortes necessidades de crescimento, nossa proposta alcançou vísceras, percorreu por novos sangues e transformou-se em desejo de mais. Simplesmente mais’.

Abaixo, abro espaço então para a matéria, onde também pode ser conferida aqui.


UM OUTRO VIÉS DE COMUNICAÇÃO


[Liana Coll]

Abrimos uma porta de madeira. Bom, na verdade ela está entreaberta. Quando se entra ali, os cartazes nas paredes de uma saleta de reuniões vão aparecendo. “Fora Yeda”, “Desaparecidos” (desaparecidos do período ditatorial brasileiro) definem o interesse por política. Olhando ao lado, uma sala com dois computadores, a qual é separada de outra sala por uma parede de pouco concreto e muito acrílico . São os ambientes da sala de redação e do estúdio de gravação, respectivamente. Assim como quase todas as rádios, de uma sala se vê o que se passa na outra. É basicamente nesses três ambientes em que se encontra o espaço da RádioCom.

De estação de rádio em estação de rádio não muda muita coisa. Muda o estilo de música predominante na emissora, muda a voz dos apresentadores. De resto, praticamente o mesmo foco de notícias, as frases simples e diretas, a previsão do tempo e, claro, a enxurrada de comerciais publicitários. Rádio sobrevive dos anúncios. Uma equipe radiofônica abrange técnicos operadores, radialistas, jornalistas e prestadores de serviço que ganham salário assim como em qualquer outro emprego. O problema é que depender da venda de espaço publicitário pode trazer, digamos, uma leve pressão ideológica junto. Porém, de uns anos para cá, a aparição de rádios denominadas ‘comunitárias’ fura essa pressão predominante na comunicação. A pelotense RádioCom, 104.5FM, é uma destas.

A Lei que regula as rádios comunitárias foi criada em 1998. Os trâmites para legalizar e poder colocar em funcionamento uma rádio comunitária não são simples. Vagarosos e em muitos passos, a concessão pode demorar anos para sair. De acordo com o Ministério das Comunicações, é assim:

1. Juntar as associações comunitárias e fundações sem fins lucrativos interessadas no Serviço de Radiofusão Comunitária;
2. Colocar em seus estatutos o objetivo “executar o Serviço de Radiodifusão Comunitária”;
3. Preencher formulário anexado no site do Ministério das Comunicações;
4. Enviar por postal para a Esplanada dos Ministérios;
5. Aguardar uma publicação no Diário da União, a qual avisará se o município onde a rádio deve funcionar está habilitado a serviços de radiofusão comunitária;
6. Se na publicação constar que não, parar por aqui, não há muito o que fazer;
7. Se na publicação constar que sim, preencher mais alguns dados e aguardar a análise do Ministério;
8. Se houver somente uma rádio requerindo a concessão, o projeto técnico deve ser enviado, mas se houver mais de uma, há alguns critérios de desempate os quais, se não servirem para desempatar, terminam em um sorteio;9. Depois, se tudo for aprovado, bom… você ainda n poãode colocar a rádio em funcionamento. Ainda é necessária uma análise feita pelo Congresso Nacional e a publicação de um Decreto Legislativo.

Roger, um dos jornalistas que trabalham na rádio, sabe bem desses critérios morosos. Aqui em Pelotas disseram que não tinha ainda esse serviço (refere-se ao passo 5), mas aí foram fazendo concessão pra um, depois pra outro e pra nós nada. Há menos de um ano é que conseguimos a nossa.

Na manhã de sexta, dia 6 de agosto, o Núcleo Popular de Jornalismo da rádio encontrava-se quase que integralmente na sala da entrada. Além do núcleo, estavam também “Anita” (como é chamada Ana Isabel, professora de Educação Artística e apresentadora do programa “Manhã Cultural”) e José Luís, o “Zé”, operador da RádioCom. Dia de reunião. Às 10h30min estavam sentados nos bancos pretos para debater principalmente os pontos fracos dos programas jornalísticos “Contraponto” e “Navegando”. Sugestões, críticas, elogios. Todos podem dar pitaco. São análises múltiplas que vem acarretando no aperfeiçoamento e na maturidade dos programas. Todo mundo aqui deve ter rádio no celular. Aqui no centro pega em qualquer lugar. Vanessa é jornalista, produz e apresenta o programa “Contraponto”. Ela sabe o quanto a opinião dos colegas é importante para o aperfeiçoamento do trabalho.

Carlinhos, Leon, Didi (Ediane), Roger, Fábio e Juliano fazem parte do núcleo de jornalismo. Entre dificuldades e êxitos fazem um trabalho diferente do que costumamos encontrar na grande mídia. A rádio surgiu pra dar espaço para os movimentos sociais. Com o tempo, Roger diz que a parceria entre a RádioCom e os movimentos sociais foi se tornando natural. Ambos se procuram mutuamente. A rádio dá voz, ou melhor, abre espaço para que a voz dos movimentos não seja abafada.

Além das pautas sociais, pautas culturais, notícias mais factuais, músicas variadas (mas nenhuma naquele tipo enquadrado como “Top 10”), debates, entrevistas. Entre estas, as últimas mais faladas foram as com Hermeto Pascoal (que fazia show na cidade) e com Plínio de Arruda Sampaio, candidato à presidência pelo PSol. A entrevista com Plínio fez o estúdio lotar, mas aqui tem gente de tudo… tem gente da estrelinha, gente do solzinho… Entre risadas, Jorge brinca que acha que só não tem quem vote no Serra ali no meio. Em tom mais sério, encara que não virar questão partidária a guia principal, evita com que as discussões não atrapalhem a rotina.

As rádios comunitárias são, em sua maioria, sustentadas pelos sindicatos e órgãos que as compõem. Publicidade na rádio tem critério rígido. Pode se receber apoio cultural de entidades locais apenas para custear algum programa. Não se pode mencionar os produtos ou os serviços da entidade. Na RádioCom, o dinheiro oriundo de publicidade chega a ser simbólico, pois a idéia não é sobreviver disso. Aliás, funcionários contratados são poucos. A maior parte da equipe é pessoal voluntário. O grande problema da rádio é que, tirando nós que estamos na ‘pegada’ todo o dia aqui… o resto talvez não se sinta com muito compromisso. Roger comenta que, quando o pessoal se forma e vê que precisa ganhar dinheiro mesmo, acaba sendo engolido pelo mercado. Alguns da equipe são oriundos de outras rádios. Aqui tem pessoal excluído pelas outras rádios por pensar um pouco demais, digamos assim. Tu conheces a situação aqui?

Na verdade, a situação é parecida na maioria dos locais. Veículos de comunicação nas mãos de poucos, que selecionam e “des-selecionam” quem eles bem entendem. Acabam ficando aqueles que casam com a posição editorial do veículo, muitas vezes passando por cima de suas próprias posições e valores.
Para não precisar deixar a paixão por esse outro viés de comunicação, Roger, Ediane, Vanessa e outros jornalistas no núcleo estão criando uma cooperativa de notícias. A ideia é montar uma espécie de agência de notícias focada em pautas com as quais eles trabalham na rádio. Pautas de movimentos sociais entre elas. A cooperativa seria a maneira de trabalhar com essa comunicação mais plural sem abrir mão de sobreviver com algo que, de fato, seja paixão e não vergonha.

A RádioCom é sustentada, em maior parte, por 10 sindicatos. São eles que mantêm as despesas. Há também os apoiadores, que ajudam nessa parte. A sala onde a rádio funciona é cedida por um dos sindicados. O blog da rádio é atualizado com a colaboração de todo o núcleo. Cabe a cada um ter a responsabilidade de transcrever entrevistas e notícias e adequá-las à forma escrita. Twitter, Orkut e Facebook eram também atualizados por todos. Na reunião do dia 6 de agosto, ficou decidido que Fábio, por suas afinidades com a rede, seria o encarregado principal dessa parte. A não ser, claro, quando estivesse no ar.

Na questão Twitter, todos se surpreendem ao notar o retorno do ouvinte. Muitas das “chamadas” para os programas e muitas das notícias são retwittadas. A rede social na internet de fato é uma amiga de grande peso para os meios alternativos de comunicação. Ajuda a mostrar um outro lado, que quase sempre se contrapõe a grande mídia tradicional. No caso da rádio, aliar a Internet com a emissora é uma boa forma de não entrar apenas no ouvido dos que se dizem “alternativos”. Roger pensa e diz: Quando as pessoas colocam aqui na rádio acho que elas pensam: Bá, e existe isso? Ou: Bá e eles tocam isso mesmo?

A Internet ainda tem acesso restrito no Brasil. No entanto, o rádio é um veículo popular. Ainda que bem mais ouvido antigamente, em sua época de ouro, não há quem não tenha um aparelhinho simples ou um celular com rádio FM, como dizia Vanessa na reunião. Portanto, casar a movimentação e a divulgação que ocorrem na internet, e que a ultrapassam para a conversa de rua (e de bar, e de faculdade, e de trabalho, e de ônibus…) com o acesso mais amplo ao rádio está sendo um fator de popularização do rádio. Não popular massivo… mas no sentido de acesso. Didi e a equipe não têm em visão ser um veículo de massa, mas sim serem disseminadores locais de uma informação mais democrática e plural.

Levar cultura, conhecimento e informação não filtrados pelo filtro de quem teme colocar nas mãos da população o poder de contestação e de monitoração. Não, ninguém ali na RádioCom se diz imparcial ou neutro. Ali, de alguém se ouve: eu não acredito em imparcialidade, não. Mas na equipe também não se engana, afirmando que uma notícia, por exemplo, é pura e simplesmente o retrato da verdade.

Quando se redige, se coloca uma bagagem de vivência e de valores na mensagem, ainda que se busque ao máximo neutralizá-los. Talvez o maior problema dos meios tradicionais e massivos seja a insistência em afirmar neutralidade, escondendo posições nas entrelinhas (às vezes nem tão nas entrelinhas assim) e afirmando que a verdade está ali e que cabe ao receptor extrair sua posição depois da leitura/visualização/audição do conteúdo. Bom, na verdade todos têm ideologias. Assumi-las não é problema nenhum. O problema em si está em negá-las e escondê-las. O melhor seria ou assumir, dizendo: “bom, nosso veículo tem tal posição e você que está lendo precisa ler sabendo disso”, ou realmente se esforça para neutralizar ao máximo uma posição, buscando, nem que seja, a exposição das várias facetas de um fato.

Dar margem às vozes, sem autenticar apenas algumas poucas: é isso o que as rádios comunitárias devem fazer. Sabemos que, assim como existem muitas Organizações não Governamentais (ONG’s) falsas, também há muitas rádios comunitárias que não funcionam de acordo com os princípios para os quais deveriam atentar. A RádioCom, no entanto, vem mostrando aos pelotenses um exemplo de rádio com compromisso social. Anita, a apresentadora do “Manhã Cultural”, olha pra cima e diz assim: É, a rádio é descompromissada. Todos ficam quietos. Descompromissada? É, descompromissada no sentido de não ter o rabo preso como as outras. Poder falar o que se enxerga e o que se reflete, o que se ouve na rua, o que se percebe como demanda. Aí mora um diferencial. São ideais os quais um comunicador não deveria abandonar, mesmo que as forças por sobrevivência pressionem por corromper. Não é fácil. O que se vê é que é difícil e tentador. Mas não é regra. É uma questão de princípios.

Para ler mais sobre a visão, história e filosofia da RádioCom, clique aqui. Lá é possível, também, conhecer a programação e escutar a rádio ao vivo.

domingo, 8 de agosto de 2010

Eu preciso dizer que te amo.

Mesmo com minhas resistências a datas comemorativas, hoje - mais do que nunca - é momento de homenagear uma das pessoas mais responsáveis pela minha felicidade: Pai.
Simplesmente meu pai.

'Eu preciso dizer que te amo. Tanto.'

Tanto...

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Longe.


silêncio.
deixe-me ouví-lo.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Sobre mentiras e verdades


Cansei de varrer angústias para debaixo dos chavões.

Não me incomoda mais o julgamento impiedoso e implacável dos que sobrevivem de certezas. Não estou mais disposto a repetir velhas fórmulas que não me fazem sentido, nem oferecem abrigo para as almas amarrotadas pela dor. Não suporto mais a solidariedade das palavras vazias dos clichês religiosos e da teologia mais ocupada em defender a Deus do que em amar o próximo.

Não temo o caminho. A noite escura do silêncio e das dúvidas da alma não me apavora mais do que a infertilidade dos dogmas do dia claro. Tenho certeza de que minha trilha é percurso de vida. E tenho boas razões para crer assim.

Ando sobre as pegadas dos questionadores, dos inquietos, dos rebeldes, dos que não encontram descanso, sem qualquer temor de me perder no labirinto da complexidade da razão e dos descaminhos do coração, que “têm razões que a própria razão desconhece”.

O que não quero é ser contado entre os cínicos. Não me admito mais seguindo na fila indiana dos covardes. Jamais aceitarei a possibilidade da hipocrisia. Prefiro a verdade, a minha verdade, ainda que minha verdade seja mentira, pois mais vale apostar no que é verdade para a consciência, ainda que seja mentira, do que numa verdade estranha à consciência. A consciência vale mais que a verdade, pois somente na verdade relativa da consciência a verdade verdadeira poderá se impor sobre a mentira.

Minhas vísceras clamam pelo encontro com a pessoa que é a verdade, e justamente por esta razão não posso conviver com quaisquer verdades que sejam estranhas à minha consciência. Prefiro estar errado sendo íntegro do que certo sendo falso.

Não me importo em descobrir que minha verdade é uma mentira.

[Ed K.]