quinta-feira, 17 de junho de 2010

Espelhismos longes... délibáb

Deixar ausente parte do que tenho ouvido, assistido (e por que não dizer também) vivido nos últimos dias, é omitir as boas sensações que sinto quando me deparo com a arte tão bonita desse meu solo. Prefiro não omitir. Redundantemente falando, a “omissão emitida” ou principalmente recebida, nos gera transtornos, questionamentos e também um pouco de dor.

A arte que aqui quero me refir é a simples, singela e melancólica. Enraizada na milonga e nos pequenos versos somados a acordes envolventes. Ainda que essa arte, de origem campeira venha carregada de influências diversas, sua essência fortemente peculiar está enraizada no meu pampa e na minha pelotas crioula do sopapo, nas ruas frias, no movimento distinto... e distante da tradição estúpida tão paradoxal.

E no meio de tantos acontecimentos distantes, presentes, quentes, sutilmente gelados, frenéticos, duvidosos, mas absolutamente marcantes; no meio de toda essa confusão explosiva que eu gosto de entender dentro de mim, com calma, ternura e inocência... no meio disso tudo, veio até mim a mais atual obra do poeta Vitor Ramil. Sempre ouvi seus discos e me deleitei em sua literatura, com algumas críticas, questionamentos, mas também admiração. E confesso que, especificamente esse último álbum trouxe um quê maior de simplicidade poética e melancolia musical.

Inspirado na palavra húngara délibáb, o disco expressa uma miragem do Sul, assim, como seu contexto o indica. Horizontes distantes, mas próximos através do toque simples do acorde. A estética me remete a um remoto frio e à luz do sol acolhedora. É como se, de alguma forma, toda a magia generosa da canção te transportasse para um ambiente de mansidão e sutileza. É também extremista no intimismo que os versos causam, ainda que tão de repente. E há quem diga que a surpresa é uma das formas mais precisas de se expressar opressão e retidão. A surpresa causa frenesi.

Vitor Ramil traz sua obra com toda força e desejo que satolep move a sua história. Em sua cidade natal ele pisa, no próximo sábado, dia 19, no Teatro Guarany, para o lançamento dessa miragem, délibáb.

Juntamente com o cd, foi gravado um processo de informações sobre sua escolha por gravar em Buenos Aires, sua afeição pelos versos e ensaios dinamicamente intimistas de Luis Carlos Borges, sua opção de sutileza por João da Cunha Vargas e sua escolha pelo violonista Carlos Moscardini. Confira parte desse trabalho:




Apesar disso me dói
Despedir-me da vida
Essa coisa tão de sempre
Tão doce e tão conhecida...

Nenhum comentário: