quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Encurvado, olhos presos no seu rio

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Quadro cultural do Programa de TV Nossa Luta, do Sindicato da Alimentação, produzido pelo Coletivo Rede.

Maria Conceição interpreta Cantiga Para um Pequeno Pescador
Letra de Martim César e Música de Alessandro Gonçalves & Sulimar Rass.



Apressado porque a tarde vai cair
Fisga um sonho na pergunta do anzol
Cada isca que ele tira
Veste um riso de alegria
Ao longe, no horizonte, feito brasa, morre o sol.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

To keep the hope

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Come let's bring light
To the night of need.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Conversa com Jarbas Lázare

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Um dos personagens do filme O Liberdade falou um pouco sobre o que mais gosta:
a música e a liberdade


Hoje (6) será lançado o filme O Liberdade, primeiro longa-metragem produzido pela Moviola. O filme foi selecionado pelo edital do ano passado do Procultura e será exibido no Guarany a partir das 20 h.

A programação do Navegando RádioCom recebeu nessa quarta-feira, Jarbas Lázare. Ele, participante do filme juntamente com outros nomes como Avendano Jr., Milton da Costa Alves, Vitor Ramil, Sonia Porto e outros, conversou sobre a representação do samba e do choro em Pelotas e sobre a significância que o bar Liberdade, há quase quatro décadas envolve na tradição da música com o público pelotense.


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Só, azul

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Trago minha madrepérola
Abaixo do peito
Carregando, só,
lembranças e certezas.
Sem destino.
Sem cordão.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A maldição de pensar

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Leminski: afora exceções corajosas, o século XXI volta a ser, contra ele e sua luta, um século de poetas repetidores

Até a Semana de Arte Moderna de 1922, afirma Paulo Leminski, os poetas brasileiros eram sonâmbulos. Limitavam-se a seguir impulsos e agarrar inspirações, a repetir o já feito. Sem pensar no que faziam, "seguiam os automatismos da tradição herdada, das escolas, dos modismos". O ano de 1922, com Oswald de Andrade e Mário de Andrade no comando, veio acordá-los para o pensamento. Ou, como diz Leminski, para "a maldição de pensar".

Hoje, quase um século depois, são raros os poetas que não se declaram herdeiros do modernismo. Mas será que são mesmo? Uma nova edição de "Ensaios e Anseios Crípticos", coletânea de ensaios de Leminski lançados em dois volumes pela Criar Edições, em 1986 e 2001, que agora ressurge em volume único com o selo da Editora da Unicamp, nos dá uma chance, preciosa, de voltar às suas ideias sempre inquietantes. E, sobretudo, uma oportunidade para pensar o que delas fazem (como as "mastigam") os poetas brasileiros contemporâneos.

Com a Semana de 22, lembra Leminski, a poesia deixa de ser uma resposta e se transforma em uma pergunta. A pergunta é: "que é poesia?" Os poetas deixam de escrever ingenuamente. Deixam de repetir e de macaquear seus autores preferidos. Agarram a própria voz e se arriscam a dizer o que nunca ninguém disse. "Com eles, a linguagem só não basta. Eles têm uma meta. É preciso metalinguagem." A poesia passa a ser reflexão sobre poesia. Antes de escrever, os poetas estudam os próprios vícios. Tomam distância, meditam, medem. Pensam.

Nessa busca de um sentido, isto é, de uma direção, Vinicius de Moraes chegou à audição, João Cabral à visão, Drummond às próprias palavras. Cada um deles escolheu (inventou) seu caminho, negando-se a seguir por estradas já percorridas. Graças ao modernismo de 22, o século XX brasileiro nos deu magníficos poetas. Deu-nos uma grande poesia, talvez insuperável.

Infelizmente, e afora exceções corajosas - penso em Paulo Henriques Britto, em Rogério Luz, em Alberto Martins -, o século XXI volta a ser, contra Leminski e sua luta, um século de repetidores. Repetidores da dicção e das ideias modernistas, não importa - mas repetidores. Poetas bem-comportados, que ostentam suas leituras e seus diplomas, que se veem como intelectuais refinados - mas não pensam. Ou, se pensam, repetem o já pensado, só pensam com as ideias alheias. Adotam esses poetas de hoje, para continuar nas ideias de Leminski, uma "visão utilitária da poesia": a que confere títulos, prestígio, a que alimenta confrarias e elogios, a que cultua os clubes fechados e os bandos, mas não se coloca em risco. Por que não se arrisca? Porque não pensa ou, se pensa, pensa com a cabeça alheia.

Daí a importância de retomar os "Ensaios e Anseios Crípticos". Relê-los não para repetir e reverenciar, mas para meditar e romper. Romper, até mesmo, com o próprio Leminski e suas ideias. Seguir o que ele, artista sempre inquieto, ensinava: fazer arte é inquietar-se, é interrogar-se, é - de uma forma metafórica, mas igualmente sangrenta - "matar-se", para chegar a ser outro. O poeta é sempre um outro ou não é poeta.

Daí, talvez, a importância cada vez mais urgente do silêncio. Em um mundo de ruídos, de falatório, de talk-shows, de conversa interminável, de zoeira e atordoamento, nada melhor do que silenciar. Fazendo alguns ensaios em versos, como as atordoantes "Variações para Silêncio e Iluminação", escreve Leminski, em "O Silêncio de Pitágoras": - "os astros obedecem a uma matemática/ essa matemática é uma música/ não ouvimos a música das estrelas/ porque nossos ouvidos são impuros".

Ouvir o silêncio. Dar valor à escuta delicada do que desconhecemos. Do que não entendemos. Eis, para Leminski, a atitude do poeta. Admite, citando Pascal: "O silêncio desses espaços infinitos me apavora". Sim: escutar (pensar) dá medo. No entanto, sem a travessia do ilegível, sem a coragem de enfrentar o incompreensível, não se faz poesia. Repete-se a poesia alheia, mas fazer não se faz. Propõe Leminski que, antes de escrever, os poetas atravessem o ilegível para só então chegar ao legível. Isto é: a um novo legível e não às velhas cartilhas poéticas, modernistas ou não.

Foi por isso, por exemplo, que Paulo Leminski sempre se bateu contra a chamada "poesia de mimeógrafo", para ele uma "poesia fácil". Poemas curtos, flashes instantâneos, registros-relâmpagos, estalos líricos: isso pode valer para o desabafo pessoal, ou para lustrar o Eu, ou até mesmo como registro histórico, mas poesia, diz Leminski com coragem, não é. Poesia do Eu, ela aponta para tudo aquilo de que ele, esperto, se desvia. Escrever poesia é desviar-se de si. Só assim nos inventamos.

Em um artigo debochado como "O autor, essa ficção", depois de esboçar uma história do aparecimento da noção de Autor, Leminski - como um bom lutador de caratê - nos desloca os ossos, propondo algumas barbaridades bem saudáveis. Que foi Machado de Assis quem escreveu o "Escrivão Isaías Caminha", não Lima Barreto. Que Euclides da Cunha não escreveu uma só linha de "Os Sertões", livro de Coelho Neto. Que o "Macunaíma", de Mário de Andrade, falsamente atribuído a Guilherme de Almeida, na verdade é obra de Plínio Salgado. Piadas tolas? Muito longe disso. Embaralhando os autores, Leminski nos leva a pensar quanto a noção de autoria antecipa, aprisiona e delimita a visão que temos dos livros. "Eis mais um Raduan", dizemos. "Nas livrarias, a nova Adélia." E o nome (a grife) já nos aponta a maneira "correta" de ler.

Assim também fazem os herdeiros declarados do Modernismo de 22, que escrevem ajoelhados, trêmulos, com receio de se desviar da grande (embora recente) tradição. A poesia, diz Leminski, existe para comunicar o incomunicável. Ela não é, em definitivo, um instrumento de comunicação, mas, sim, um instrumento de contaminação. Cita a prece, o despacho, o Salat e o Za-Zen como quatro caminhos de acesso ao incompreensível. As religiões, é claro, nos sugerem muitos outros caminhos. Mostra Leminski: nenhum deles tão livre e tão libertário quanto o poema.

Pensar se torna, de fato, uma maldição. Algo que marca o pensador com um estigma. Algo que o separa dos demais e o expõe à fúria do maldizer. Pensar é singularizar, Leminski nos diz todo o tempo. Pensar não é aprender e repetir, mas desaprender e arriscar. Propõe Leminski que sigamos o lendário haicai que sentencia: "Não sigam as pegadas dos antigos, procurem o que eles procuraram".

sábado, 1 de outubro de 2011

Clutchy Hopkins

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Excêntrico e misterioso. O multi-instrumentista Clutchy Hopkins conquistou minhas veias quando conheci o seu trabalho, no ano passado. Com uma identidade difícil de ser biografada, Clutchy tem um, dois, três pseudônimos. Assina de diferentes maneiras em suas músicas e álbuns. Durante as gravações com outros músicos, recusava-se a contribuir com seu nome, preferindo usar um pseudônimo ou nome nenhum. Identidades diferentes, mas qualidade constante. Na maior parte de sua vida, viveu longe da civilização.

Quando era jovem, aos 20 anos, viajou para o Oriente e ficou sob a tutela de monges Rinzai Zen no Japão, investigando o silêncio e os ritmos do silêncio na música. Estudou na Índia, para dominar e articular os movimentos do corpo e sua relação com o som. E as influências também visitam a percussão e a bateria que são fascinações do músico: Ele foi para Nigéria estudar com o percussionista Oba-lu-Funke. Durante sua estada lá, tornou-se militante político e participou de movimentos para lutar contra o governo opressor e as políticas do Apartheid. Quando retornou aos Estados Unidos, Clutchy usou suas técnicas de gravação para produzir sua própria música e criar seus próprios instrumentos.

Suas gravações vão do início dos anos 70 aos dias atuais, abrangendo um variado espectro de estilos musicais.