sábado, 7 de julho de 2012

Tão down: Pelotas e Cazuza


eu bato contra o muro
duro
esfolo minhas mãos no muro
tento longe o salto e pulo
dou nas paredes do muro
duro
não desisto de forçá-lo
hei de encontrar um furo
por onde ultrapassá-lo.
[Oliveira Silveira]

O que minha cidade tem em comum com o Cazuza é o 7 de Julho. Pelotas nasce há 200 anos atrás. Cazuza morre há 22 anos. Não sei se é apenas essa semelhança. Diante de um momento tão importante, onde a movimentação social parece se renovar e voltar seus olhos ainda mais para a força que se tem nas ruas e na voz daqueles que não se calam... me faz pensar que aquela ousadia que se tinha no Cazuza, aquela irreverência a tanta coisa, aquela paixão descontrolada, a flor da pele - um desespero gostoso e selvagem... - aquele grito, simplesmente o grito; também tem se estampado  em cada bandeira levantada, rosto, brado: sentimentos humanos colocados para fora.

Minha cidade vive um novo momento. Sou testemunha e sujeito neste processo de chama se acendendo. Em uma tradição tão enrustida e tão velha, as ruas estão tomando pessoas, independente de chuva, perseguição e repressão. Pelotas 200 Anos Para Quem? tem mostrado o quanto - quando as forças se unem, as coisas podem acontecer. Criação do Comitê da Memória, Verdade e Justiça coloca Pelotas ainda mais em referência nas apurações aos violentos crimes na ditadura militar.

Novo reitor de uma Universidade Pública eleito democraticamente, após 20 anos, muda muita coisa em um orçamento que consegue ser superior ao da Prefeitura. Coletivos de diversos temas transversais disseminando suas pautas e formando a reflexão e transformação. Mídias alternativas tomando força e começando a finalmente disputar este processo que outrora era tão hegemônico. Festival de Inverno chegando com tudo e colocando Pelotas como uma das capitais de um evento grande multiartístico. 
Hmmmm.. eu ando tão down.
Down de gana, de ternura. Talvez exagerada como Cazuza? Creio que não. 

 Foto: Paulo Granada

Hoje mais uma vez houve um  ato unificado da UFPel , com o apoio de outros movimentos sociais da cidade, em prol da melhoria da educação no País. Gravação do Jornal do Almoço Estadual ao vivo da Princesa do Sul no largo do Mercado... e as pautas da educação - e da cidade - em bandeiras, gritos e megafones do outro lado da cabine da imprensa em plena chuva. O ato mais uma vez foi pacífico, entretanto, infelizmente, a BM não está preparada para isso, e acabou enxergando professores, alunos e técnico-administrativos como "bandidos". A pergunta que não quer calar é: por que os policiais estavam tão armados em uma manifestação pela educação pública? Para que tanta imposição do medo?

Resultado: “cadeia”  por algumas horas para alguns companheiros. Isto é democracia? Temos uma democracia violenta.  Não vamos nos calar.

Essa perseguição é tão estupidamente estranha, mas esperada.
Não sabe o que é ser down.
Nós estamos tão down.

Pelotas comemora seus 200 anos. Parabéns, nossa Satolep.
Por te amá-la, amanhã vamos novamente às ruas.

Outra vez vou te cantar, vou te gritar
Te rebocar do bar
E as paredes do meu quarto vão assistir comigo
À versão nova de uma velha história
E quando o sol vier socar minha cara
Com certeza você já foi embora
Eu ando tão down.

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