Por ENILTON GRILL, do blog Américas
História é memória. E a memória às vezes é virtual e outras real. Virtual, como um quadro de Chagall. Real como a fotografia daquele dia. Mal amanhecia o dia, e o Gastal, com os punhos tesos, era levado preso. Pelo casaco (foto), o dia amanhecia gelado. O rosto está crispado. A fisionomia é de um jovem revoltado. Naquele ano, a repressão endurecia. Prendia e batia. A dita dava uma dura. Isso foi dois anos antes da abertura. 'Abertura lenta e gradual', a cavalo prometia um general. Enquanto isso, a polícia baixava o pau. Numa manifestação estudantil, por gritar 'liberdade', era preso meu tio, o Gastal. No cenário musical, Chico Buarque pedia só um dia /pra aplacar sua agonia / toda a sangria / todo o veneno / de um pequeno dia. Urgia a democracia. Ruía a ditadura. O tempo passa. O país até sara. Mas não cura. Não há como esquecer a tortura. A memória é dura, perdura. . . . se perpetua. Ela não é minha e nem tua. A memória é da rua.
[Prisão de Gastal - Faculdade de Direito / UFPel - 1977]
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Na Semana Nacional de Memória e Direitos Humanos, o Comitê Pelotas Região, em parceria com o Instituto Mário Alves e o IFSUL, organizam a I Mostra itinerante Verdade e Memória – Resistência cultural e heranças da ditadura civil-militar. Oficinas, exposição, filmes, música, debates e atividades culturais nas cidades de Pelotas, Bagé e Camaquã. Para marcar a data do golpe, para lembrar que lutamos por memória e verdade, para anunciar que esperamos justiça... PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA, PARA QUE NUNCA MAIS ACONTEÇA.