sexta-feira, 13 de março de 2009
Olhos fechados que viram
O silêncio indiferente clamou um 'basta'.
A música permanecia tocando com o mesmo brilho, melancolia e paz, mas lá no fundo de sua sensibilidade tudo estava tão distante e próximo. Distante para a sintonia natural e para os sorrisos que saiam tão fáceis, tão livres. E próxima da verdade ou da vontade de não acreditar que sempre esteve certa em suas conclusões abstratas, porém reais.
Depois da clareza impensada, chegaram os remorsos passados, os pedidos para voltar atrás. Mas foram embora, foram passageiros e serviram para lembrá-la de que não é dona de seu próprio tempo. Tempo dela que não é dela. Dela que nunca será. Tempo que tem dono. E ela... é apenas parte do todo que também o tempo se faz presente e participante. É como se ela e o tempo andassem juntos. Ela não pode detê-lo, nem ele ajudá-la. Eles estão no mesmo barco, mas ainda assim o tempo permanece no comando. Ele corre mais do que suas pernas cansadas. Ele voa enquanto ela tenta dar um salto, mas teme. Se os dois cairem na água, provavelmente ele não se afogará. Mas no fundo ele diz e confessa que nem sabe como voltar. Sim, nem o tempo é dono de si mesmo. Mesmo assim ela é inferior ao tempo. E foi inferior à indiferença impensada.
O sofrimento está no apego às coisas do passado. Algumas delas nunca existiram, foram idealizadas e substituídas por sensações e atitudes simultâneas e naturais. Mas o coração procura o que lhe dá prazer. Se o passado foi bonito, a alma vai querer resgatar ou dar continuidade a algo que antes não eram vistos por olhos fechados encantados.
Dessa vez ela não se frustrou com o tempo. O tempo ela tem conhecido, mas o coração alheio é infinitamente mais misterioso que o próprio vento que corre junto com o tempo. É mais malicioso ou incoerente que a tempestade que leva os resquícios de um castelo. É mais tolo que o julgamento sem coesão e mais injusto que o derramar de sangue inocente em guerra.
Ela cansou de explicar, mas o outro coração foi apático, depreciou.
E a indiferença alheia despertou o silêncio. Aquilo que outrora era encantador, tornou-se em perguntas. Apenas perguntas e fechar de olhos. Baixar da cabeça e do som da música que permanecia tocando. Permanecia a melancolia, os olhos fechados, o vento lá fora lembrando que está ao lado do tempo. Permanecia a noite, o silêncio. Virá o futuro inesperado.
Mas a música... mesmo ainda baixa, permanecia tocando lembrando que ainda existem momentos de paz em meio a tanta tempestade.
Aquela música a lembrou que há muito mais valioso, simples, real e duradouro. Aquele som a mostrou que é capaz de ter mais sensibilidade que o próprio coração que a machucou. A melodia lhe trouxe o que aquele coração indiferente não foi capaz de dar, não foi humano o bastante pra soar valorização, ternura, compreensão, prazer, liberdade.
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