.No Dia da Consciência Negra, Pelotas recebeu um dos maiores eventos culturais de 2011:
Hip Hop Representa. O local trazia a estética de uma velha renovada Pelotas, com suas paredes envelhecidas, na antiga Estação Férrea, - um dos locais onde os negros antigamente nem chegavam.
Palco pronto, periferia no centro, música e palavras durante o dia todo. Pelos lados e cantos, rostos velhos e novos: Jair Brown, Gagui IDV, Banca CNR, Contra Regra, Guerreiros de Mente Aberta. Palco e platéia eram um só.
A noite teve a participação, 'vinda do Planalto Central', de
GOG.
Genival Oliveira Gonçalves é percursor do movimento no final dos anos 80, em Brasilia. Com envolvimento em movimentos sociais como o MST e projetos pessoais na área da educação, Gog tem a língua afiada e com seus poemas longos de protesto exprime absurdos sociais, alivia indignações como porta-voz e motiva a entender que o que está diante dos nossos olhos é tão urgente quanto nossa necessidade de viver.
Video – Coletivo Rede:
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E pese a pauta ‘hip hop’, impossível não lamentar o
episódio no mínimo desconfortável que aconteceu ontem (link também AQUI) com a produção do show do Emicida na cidade. Depois de um 20 de novembro em paz, Pelotas desconstrói parte do que vem construindo e intensificando. Sim, 2011 foi um dos anos emblemáticos para o movimento hip hop. Depois de tanta resistência, picuinha, periferia contra periferia e motivações pessoais, finalmente algum avanço se teve neste ano: Discussão da Lei de Incentivo à Semana do movimento, audiências massivas, gravações de discos e clipes, envolvimento com a região sul e eventos unificados.
Como testemunha do crescimento que vi neste último ano, encerro dezembro com um pouco de esmorecimento depois da violência de ontem. E não falo apenas de 'empurra-empurra', tensão e batidas corporais. Falo da ausência de cautela a algo que deveria ser mais sério, considerado e pesado por ambos os lados.
Meu desejo, como pelotense e representante da imprensa cultural é que possamos parar e refletir sobre a história representativa na cidade. A cultura hip hop não deve servir para o enobrecimento pessoal, mercadológico e hipócrita daqueles que se dizem ‘representantes’ de um movimento que nasceu com a motivação de agregar e transformar a realidade.
Para encerrar, esperando um 2012 mais maduro para o movimento cultural, ainda que reconhecendo seu esforço, fico com as palavras de Gagui:
“Ou a gente devolve o hip hop pro povo, ou o povo vai abrir mão de lutar pela causa.”