A voz está longe. É apenas voz com emoções alheias, exprimidas para o além, para o longe. Nada parece estar tão ligado como antes ou como nunca esteve.
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Ligou as luzes, tentou abrir a janela do quarto para ver se o brilho das estrelas que iluminavam aquela noite fria mostravam luz. Pediu resposta ao coração que incansavelmente se derretia a cada nota. Fechou o vidro, e ainda assim deixou as estrelas perceberem a tristeza diante daquela voz. Fechou os olhos, mas não conseguiu compreender ainda assim.
Precisou abrir os olhos. Tentou escrever poesia simples e calada, mas queria escrever tristeza e melodia. O piano voltava. E a voz suave, tão doce como a inocência de uma criança exclamava paixão involuntária. Exclamava pedidos de intensidade sem nem perceber. Sentiu vontade de fugir e abandonar os sentimentos. Quis pedir ao silêncio mais liberdade. Mas o silêncio não a perdoaria. Ela esquecera o que era perdão. Queria expressar suas exclamações e suas perguntas. Mas o medo foi maior que o rompimento com o silêncio. O medo a impediu de correr para longe e arriscar.
Desligou todas as luzes. Fechou a janela. Não se despediu das estrelas. Mas não tentou fechar seu coração e sua emoção irresistivel ao ouvir aqueles sons suaves que a levavam a tantos lugares.
Enxergou a realidade. Ela acordou do sonho. São apenas sons. E talvez, nada mais do que apenas, sonhos também.